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Orquestra Societária | Ponto de Vista | Reputação |
Na edição anterior da Revista RI (nº 201), apresentamos a síntese de um conjunto de reflexões sobre a Orquestra Societária, desde que a coluna foi criada, há 20 edições. No artigo, sugerimos a lógica de desenvolvimento da Orquestra Societária na mesma linha de evolução da bela peça artística denominada Bolero de Ravel, prometendo retornar com mais insights sobre essa obra clássica da música. Em função das sugestões dos leitores e colaboradores desta coluna, optamos por apresentar uma ampla discussão sobre a gestão de riscos, parte integrante da equação da Orquestra Societária, que é vital à sustentabilidade das empresas, focando em desastres ambientais.
Assim, nossa promessa torna-se ampliada e ainda mais desafiadora, sendo cumprida em dois artigos, dos quais, este é o primeiro. Nas páginas a seguir, apresentamos aos nossos leitores duas entrevistas instigantes, respectivamente com Maria Mazzarello Veloso e Sônia Araripe, profissionais que honram o Brasil na luta por um mundo mais sustentável.
Maria Mazzarello Veloso é engenheira química, com pós-graduação em sanitarismo, especializações nacionais e internacionais, experiência de 26 anos como executiva sênior em gestão estratégica global, sustentabilidade, gestão de crises e implantação de projetos de alta complexidade em grandes empresas, como Orica, Vale, Monsanto, Bayer e Promon. Autora de artigos em múltiplos fóruns, no Brasil e no exterior.
Sônia Araripe é formada em jornalismo, pós graduada em comunicação e meio ambiente, é jornalista há 30 anos, com vários prêmios, editora e diretora da Plurale - revista e site com foco em sustentabilidade. Passou pelas principais redações do país, como o Jornal do Brasil, onde chegou a editora executiva, O Estado de S. Paulo, O Dia, Jornal do Commércio, Revista Forbes Brasil, dentre outros. Nessa perspectiva, convidamos todos à reflexão.
Entrevista: Maria Mazzarello Veloso, Engenheira química, com pós-graduação em Sanitarismo
RI: Por que desastres ambientais catastróficos podem ocorrer em empresas bem estruturadas?
Maria Veloso: Geralmente, em empresas bem estruturadas, a redução ou a não ocorrência de acidentes/eventos significativos, bem como de suas consequências, trazem a autoconfiança de que “fazemos a coisa certa por aqui” e essa “impressão de eficiência” reforça, por seu turno, a premissa de delegação da gestão de riscos para níveis mais baixos da companhia, pois, afinal, “nossos riscos estão sob controle”. Esta é uma percepção completamente equivocada e eventos catastróficos podem, sim, advir do excesso de confiança e da delegação. Muitos são os desafios enfrentados pelas organizações para lidar com eventos de baixa probabilidade e consequências significativas; porém, eventos catastróficos não são isolados. Se um acidente de grandes proporções acontece é por que as barreiras de proteção não foram suficientes e/ou robustas para evitar o evento ou minimizar o seu efeito. Um ponto muito importante - e de atenção! - é que os riscos catastróficos e a integridade das barreiras de proteção associadas a esses devem ser claramente identificados como elementos críticos, monitorados com alta frequência e gerenciados pelo mais alto nível da organização (presidente e board). Entretanto, somente empresas com uma gestão de riscos muito forte mantêm essa diretriz. Além disso, são necessários atenção e controle rigorosos em itens como integridade de ativos, cultura de segurança, comunicação de riscos e gestão de mudanças, principalmente em períodos de crise, quando a necessidade de controle de custos é muito forte e pode vir a influenciar a tomada de decisão, impactando a confiabilidade das barreiras de proteção. No setor de mineração, especificamente, estudos apontam que o principal desafio para o setor é a volatilidade dos preços. Além disso, os levantamentos indicam a necessidade de atenção às alterações regulatórias e aos stakeholders, cujas expectativas e nível de exigências continuam a subir. Logo, a ocorrência de eventos catastróficos nesse cenário pode afetar definitivamente a sustentabilidade dos negócios. Na preparação para esses cenários, é preciso desafiar as hipóteses de negócios existentes e, o que é mais desafiador ainda, para o setor de mineração e, de maneira mais ampla, para outros setores, entender claramente que velhas práticas históricas não são mais aceitáveis nos dias de hoje.
RI: Gestão de riscos: o que pode falhar nessa importante atividade empresarial ao ponto de se chegar a um desastre ambiental?
Maria Veloso: Acidentes catastróficos acontecem geralmente por sucessivas falhas, cujas combinações são difíceis de prever e prevenir. Com isso, evidencia-se a importância das proteções, ou seja, de barreiras. Uma barreira de proteção possui a função de prevenir ou minimizar as consequências de um evento. Logo, a solução eficiente na gestão de riscos é desenvolver barreiras de proteção robustas e com ampla efetividade para diversas causas de potenciais acidentes. Mesmo que não haja uma forma de impedir que o evento aconteça, ainda há a possibilidade de prevenir e minimizar as consequências indesejadas, e aí inclui-se uma gestão de emergência e crises, que seja eficaz. A gestão desses riscos catastróficos deve ser responsabilidade e prioridade da alta administração, presidente e board. Esta é uma gestão indelegável. Outro ponto muito importante é assegurar as lições aprendidas com eventos passados, garantindo que eventos com potencial de serem catastróficos sejam investigados e determinadas, claramente, quais foram suas principais causas, bem como as barreiras de proteção que falharam, por serem frágeis, ou ainda, aquelas que não existiam, promovendo, assim, o aprendizado organizacional como condição sem a qual não se pode prevenir novas ocorrências e catástrofes.
RI: Como “acionistas em cascata” devem se precaver em relação à gestão de riscos, visando evitar desastres? (A empresa A é controlada pelas empresas B e C, controladas, por sua vez, por outras empresas)
Maria Veloso: A empresa controlada tem o seu próprio comitê gestor, geralmente indicado por seus controladores e tem uma gestão independente. Como prática, recomenda-se que sejam definidas, dentro desse board, diretrizes mínimas aceitáveis a serem seguidas pela empresa controlada, as quais garantam a sustentabilidade do negócio. Consideramos também que a gestão de riscos catastróficos deve ser o primeiro foco de atenção de um board que tem uma visão sistêmica e de futuro.
RI: Como investidores devem se posicionar para prevenir desastres ambientais e todas as suas consequências?
Maria Veloso: Investidores têm dificuldades em lidar com o risco, pois muitos entendem riscos somente pelo seu lado negativo. Assim, a possibilidade de perdas torna o processo decisório distorcido; porém – e paradoxalmente –, peca-se pela omissão de considerar o efeito agregado de decisões arriscadas e não se consegue dimensionar adequadamente a severidade de riscos catastróficos. Geralmente, por uma visão estreita de quais seriam esses riscos que precisam ser bem avaliados, mensurados e gerenciados, no contexto de uma gestão de negócios robusta. Não existe vida sem risco, o risco sempre existe! Portanto, conforme dito, é preciso estudar os riscos dos negócios, definir suas probabilidades de ocorrência e as consequências, para poder gerenciá-los de forma adequada. Por isso, os investidores devem exigir que empresas, em seus relatórios e balanços, apresentem claramente seus riscos e que façam a mensuração correta dos mesmos. É fundamental verificar quão sistêmica, holística e contemporânea é a análise de riscos, de maneira a assegurar que não só os riscos de mercado e preço estejam incluídos, como também os acidentes com consequências catastróficas, as questões ambientais e trabalhistas e, por fim, os riscos intangíveis.
RI: Quais práticas de governança podem e devem ser adotadas para evitar eventos dessa natureza?
Maria Veloso: Antes de tudo, é preciso mudar o enfoque de curto prazo para o estratégico e de longo prazo. E como já dito anteriormente, é urgente que a gestão de riscos catastróficos esteja sob responsabilidade da alta administração e que seja parte integrante da tomada de decisão. Além disso, as empresas devem definir o nível de aceitabilidade de riscos e, como afirma o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), elas devem perseguir o “lucro ótimo” em vez do “lucro máximo”, visando garantir a sua sustentabilidade empresarial. Ressaltamos, também, a revisão e o treinamento no Código de Conduta organizacional, de maneira a garantir a inclusão da necessidade de comunicação aberta sobre ocorrências anormais e possíveis riscos e do aprendizado organizacional como garantidor de um desenvolvimento sustentável. Por fim, enfatizamos a criação de uma cultura de segurança, considerada como valor, em sintonia com as expectativas de todos os stakeholders. Nesse sentido, ressaltamos a transparência nos relatórios e balanços, de maneira a explicitar com clareza as grandes linhas da gestão, bem como a identificação e a valoração de riscos e suas consequências, desde os financeiros até aqueles intangíveis.
RI: Como os agentes da mídia podem contribuir para a prevenção dos referidos eventos?
Maria Veloso: A mídia pode contribuir como agente de construção ideológica e empoderamento social, através da comunicação. Entretanto, o discurso sobre riscos é fragmentado e superficial devido, principalmente, à aversão humana ao risco (“eu prefiro não saber”). Acreditamos que pessoas não gostam de falar ou de ouvir sobre riscos e pode-se não conseguir implementar bem uma comunicação sobre o tema, já que o próprio texto se torna “negativo”. Há também que lembrar que o comunicador não deixa de ser, em certa medida, reflexo do que a sociedade “toma”, ou seja, do que ela quer saber. Assim, ambos, sociedade e comunicador, podem repercutir o senso comum tradicional sobre riscos, como se pudéssemos viver sem esses, ao invés de buscar conhecê-los para melhor geri-los (controlando, reduzindo, transferindo ou eliminando-os, quando e onde possível). Ao mesmo tempo, seja para a divulgação de campanhas ou para a valorização de ações, na discussão de investimentos propostos, a mídia pode assumir seu papel como um dos agentes sociais com maior possibilidade de impacto sobre todos: empresas, governantes e a sociedade. Ela pode informar, instruir, orientar e mesmo educar sobre riscos e suas consequências, empoderando indivíduos e contribuindo para que os próprios, munidos de informações e conscientes dos seus direitos – e deveres! – possam, junto com ela, exercer seu poder. A mídia pode contribuir com a divulgação de acontecimentos e fatos, de maneira instrutiva; porém, e ao mesmo tempo, incomodando o poder político, para que se busquem soluções de longo prazo. E ela pode ser parte de ações positivas, onde possível, as quais surjam do diálogo entre as organizações do estado, as empresas e ela própria. Todos esses agentes podem atuar como orientadores e instrutores, em busca de soluções sustentáveis. Adicionalmente, a mídia pode criar conteúdos que “conversem” com quem realmente interessa, indo além da divulgação e repercussão informacional, ajudando na formação de alianças benéficas à sustentabilidade e na identificação de novos formatos de diálogo. Quanto às empresas, elas podem e devem explorar os benefícios da mídia social (utilizando ferramentas de alavancagem de escutas sociais), envolver a gestão nas negociações e assegurar o diálogo com associações, outras empresas e entidades do seu setor de atuação.
RI: Quanto ao Poder Público, no que ele precisa melhorar?
Maria Veloso: O Poder Público, em suas múltiplas instâncias, pode atuar com mudança do enfoque de curto prazo para a visão estratégica e de longo prazo, levando em consideração o tripé da sustentabilidade (triple bottom line). Afinal, as questões associadas ao crescimento econômico do País têm o mesmo peso das questões ambiental e social. Assim, o Poder Público precisa incluir todas as dimensões de risco em suas decisões, sem perder de vista a importância do diálogo com as empresas e a sociedade, sempre buscando soluções sustentáveis.
Entrevista: Sônia Araripe, Jornalista com, pós-graduação em Comunicação e Meio Ambiente
RI: Por que desastres ambientais catastróficos podem ocorrer em empresas bem estruturadas?
Sônia Araripe: Acidentes podem ocorrer em qualquer tamanho de corporação e mesmo nas mais bem estruturadas. Mas o que ficou comprovado em exemplos no Brasil e no exterior é que mesmo em casos de grandes corporações sempre é preciso ter estruturas muito bem organizadas, capazes de dar respostas acertadas e rápidas de gestão de crise. O que se tem visto em experiências recentes é que não tem acontecido nem uma coisa, nem outra. Estudos são necessários, mas isso tem ocorrido seja por cortes financeiros ou por falta de diretrizes que assegurem a prioridade para o tema ou por ambos os motivos. Ou as corporações se engajam e se comprometem de vez com a prevenção de acidentes ou ficarão expostas às cobranças de autoridades e da sociedade.
RI: Sobre gestão de riscos: como essa importante atividade empresarial pode falhar, ao ponto de se chegar a um desastre ambiental?
Sônia Araripe: Esta é uma atividade cada vez mais essencial. E não estamos falando apenas de uma situation room. Alertamos para a urgência de treinamento, de investimento real e do comprometimento da direção. O setor aéreo é um exemplo interessante. Aprendeu, infelizmente com vários acidentes, que vidas são prioritárias. E que é preciso saber lidar muito bem com este assunto tão delicado, tão dramático. Ainda não tem um posicionamento exemplar, mas é inegável que melhorou muito, perto do que foi o setor aéreo global há 20 ou 30 anos. O setor petrolífero também. Cometeu os piores erros possíveis em acidentes de grandes proporções no mundo, nos últimos anos. Ainda erra muito, é uma atividade que tem grande interferência no meio ambiente, mas percebeu que o efeito sobre a empresa, diretamente em recursos, marca e reputação são imediatos. Empresas do setor passaram a trabalhar na precaução intensamente. E não só na hora da crise. Vários setores precisam aprender com as lições deixadas, como o de mineração e o siderúrgico.
RI: Como “acionistas em cascata” devem se precaver em relação à gestão de riscos, visando evitar desastres? (A empresa A é controlada pelas empresas B e C, controladas, por sua vez, por outras empresas)
Sônia Araripe: Vivemos tempos hipermidiáticos e totalmente conectados em todos os sentidos, para o bem e para o mal. No caso de crise, isso fica ainda mais evidente. Uma corporação global que sofra denúncias de uso de mão-de-obra escrava no Brasil será cobrada na matriz, nos tribunais internacionais, pelas ONGs locais e globais, pela imprensa etc. Não há mais prejuízo de imagem somente local, o regional e o global, em uma dimensão maior, não estão “blindados”. Os tempos hipermidiáticos – com as mídias tradicionais e sociais – forçam essa ruptura de paradigmas. Assim, os acionistas devem se precaver e ficar atentos para todo tipo de pressão legítima de grupos de interesse. Prontos para ouvir, para dialogar, para enfrentar. Esse é outro drama que tenho percebido: as corporações parecem ter perdido a capacidade de ouvir de verdade. Não é só colocar uma linha direta para ouvir denúncias ou realizar audiências públicas. É preciso ter realmente a capacidade de ouvir e dialogar. Felizmente, acabou-se o tempo em que se acreditava ser possível “conter” uma crise apenas limitada a um certo grupo diretamente atingido. Mais uma vez: quem não estiver preparado para esse novo cenário sofrerá punições, sanções e corre o risco mesmo de deixar de operar em um mercado cada vez mais competitivo.
RI: Como investidores devem se posicionar para prevenir desastres ambientais e todas as suas consequências?
Sônia Araripe: O movimento de investidores começou no exterior e com a globalização chegou forte também no Brasil. Há pressão de investidores para que as empresas sigam as melhores práticas ambientais e sociais. Que sejam sustentáveis de verdade. E não tão somente em uma bonita encadernação de balanço de sustentabilidade. Esses investidores cobram, investigam, acompanham, monitoram e precificam. Se a empresa Y não for sustentável, eles irão passar a investir na companhia Z. Aqui, gostaria de destacar o papel decisivo de instituições financeiras, sejam essas bancos, gestores e/ou seguradoras. A partir de protocolos internacionais, a maioria passou a cobrar, até por força desses parâmetros, várias exigências das empresas a serem financiadas ou que irão receber investimentos. Ótimo. Mas apenas isso não basta. Qual é a responsabilidade desses financiadores em casos de acidentes de grande impacto? Não podem se isentar mais uma vez. Todos precisam estar comprometidos, cúmplices na cobrança de práticas realmente sustentáveis.
RI: Quais práticas de governança podem e devem ser adotadas para evitar eventos dessa natureza?
Sônia Araripe: Acredito em governança de uma forma holística, digamos assim. A experiência mostra que não se faz governança de forma pontual ou segmentada. Sustentabilidade é para se praticar pela corporação como um todo. E pela cadeia produtiva como um todo. Isso é essencial, decisivo. É inaceitável aquele discurso da “terceirização, do não sabia, do não é conosco”. Estão todos juntos, colaboradores diretos e indiretos. Gosto muito de uma definição do sociólogo e cientista político Sérgio Abranches: “Não existe meia sustentabilidade”. O mesmo no caso da governança. Todas as práticas devem ser perseguidas para que a corporação seja realmente um exemplo. E líderes engajados e verdadeiramente comprometidos com a causa são essenciais para inspirar todo o quadro de colaboradores e fornecedores.
RI: Como os agentes da mídia podem contribuir para a prevenção dos referidos eventos?
Sônia Araripe: Sou jornalista há 30 anos, trabalhei nas principais redações do País. Tive o privilégio de conviver com alguns dos mais relevantes jornalistas desse período. Cobri vários acidentes graves ocorridos neste período. Trabalhei em gestão de crise também como consultora. Asseguro: a mídia hoje está ainda mais bem preparada para acompanhar esses acidentes. Quando comecei, não havia nem internet e havia o fator tempo influenciando a favor das empresas em casos de crise. Hoje, a mídia cobre em tempo real e tem uma rede de especialistas para comentar do ponto de vista técnico. As teses são desmascaradas imediatamente e as suposições surgem a cada flash. Isso tem um efeito dramático para as empresas, principalmente as companhias abertas, com ações negociadas na bolsa de valores. A mídia contribui para a prevenção de desastres indiretamente, noticiando, cobrando um papel mais decisivo dos empresários, das autoridades, de quem licenciou aquele empreendimento. Mas trabalho legítimo e decisivo de prevenção, quem precisa praticar bem, na minha avaliação, são os licenciadores. Mídia denuncia, informa, critica de forma independente.
RI: Quanto ao Poder Público, no que ele precisa melhorar?
Sônia Araripe: Infelizmente, seja por despreparo, sucateamento de estruturas ou aparelhamento de órgãos públicos, não tem ocorrido uma atuação relevante do Poder Público. Não vemos fiscalizações, ações preventivas, rigor ... e mesmo após ocorridos os acidentes, a posição de autoridades tem sido muito reativa. Isso é assustador. Porque um empreendimento tem a licença para ali operar. Se provocou um dano absurdo e irreparável, tem que ser imediatamente cobrado, punido, monitorado. Aprecio acordos de TACs que definem investimentos diretos, como carros para a fiscalização e reaparelhamento da máquina pública, a exemplo de computadores e equipamentos modernos. No caso brasileiro, para piorar, tem essa questão do sucateamento do setor público, e ainda, o aparelhamento político. Isso é uma lástima. Pagaremos com a perda de vida e danos irreversíveis à biodiversidade enquanto não houver uma determinação clara de que são posições técnicas, importantes e que não podem ser objetos de barganhas eleitoreiras. As lições de gestão de crises recentes são bem claras. É preciso investir e acreditar na governança e na sustentabilidade. E também que o Poder Público concedente seja fortalecido para melhor fiscalizar e cobrar. O mercado de capitais sabe precificar e cobrar. Também a mídia, as ONGs, os grupos de pressão, a sociedade como um todo. O cenário, felizmente, aqui e no mundo, é de cobrança, de big brother mesmo. Se as empresas e os fiscalizadores oficiais assim não perceberem, poderão correr o risco de serem cobrados intensamente e mesmo culpabilizados.
O sócio-diretor da KPMG, Ricardo Zibas, reforça: “Até pouco tempo atrás, a sustentabilidade era vista como algo intangível, mas o mercado agora já a precifica. Cada vez mais, o equilíbrio econômico e socioambiental demonstra ser essencial para a perenidade das organizações e a gestão destes riscos é peça fundamental nesta equação”.
Cida Hess
é sócia diretora da KPMG, economista e contadora, especialista em finanças e estratégia e membro da Comissão de Comunicação do IBGC.
cidahess@kpmg.com.br
Mônica Brandão
é engenheira eletricista, foi gerente de análise e acompanhamento de projetos e planejamento corporativo da Cemig e tem atuado como conselheira de organizações e professora em cursos de pós-graduação.
mbran@terra.com.br