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PODEMOS EVOLUIR PARA UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL?

É interessante que a ciência econômica e a evolução do que passamos a denominar de Sustentabilidade caminharam em ambientes separados, com visões antagônicas e até tensas, em muitos momentos, como particularmente no período 1960-1990. Os princípios definidos por John Elkington, People, Profit and Planet, expandem o conceito “single bottom line” do lucro - para o “triple bottom line”, em que ocorre uma visão de integração, entre o objetivo econômico da empresa, as condicionantes do meio ambiente, e as demandas da sociedade e reaproximando esses três elementos que, na realidade, sempre foram interconexos.

A empresa gera valor para os membros da sociedade e depende de recursos naturais de “alto valor”, diretamente ou através de sua cadeia produtiva para o cumprimento de seus objetivos e, junto com a sociedade, gera resíduos de “menor valor” que são descartados como “inúteis”, criando problemas de destinação e aproveitamento. No caso brasileiro, apesar da lei de Resíduos Sólidos 12305/2010 e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos de 2012, em vigor, o caminho será complexo para a sua solução.

Dessa forma, parece-nos que o fundamento essencial de uma economia, que se sustenta no tempo, é o da eficiência na alocação dos fatores, com mínimo desperdício e que os recursos naturais têm um caráter finito, com poucos fatores naturais renováveis. Essa é questão...

..E a essência da formação do conceito de Economia Sustentável. Significa que mesmo que haja crescimento econômico com equilíbrio fiscal, excelência na inovação tecnológica, nos padrões educacionais e de saúde, excelência na qualidade de vida, baixo nível de corrupção e violência, respeito aos valores humanos, distribuição de renda aceitável que leve em consideração igualdade de oportunidades, haverá uma questão em aberto: como ajustar todas essas demandas humanas à capacidade de fornecimento de recursos naturais finitos, com poucos recursos renováveis? E como entender que esses poucos recursos renováveis, à exceção do sol, dependem de políticas de preservação de seu processo de renovação.

Como adequar os objetivos humanos ao “limite do possível” (André Lara Resende), lembrando que o uso dos recursos naturais deve respeitar o princípio de sua autorrenovação para continuar a suprir as necessidades humanas e da biodiversidade. Isso é determinante no processo de transição para uma economia de baixo carbono apoiada pelo uso de recursos renováveis, mais lentamente do que o necessário, mas de forma cada vez mais intensa.

Não faltaram exemplos de graves externalidades econômicas e sociais, nos últimos 30 anos, mas ainda assim ressaltamos o descarte de lixo eletrônico, repleto de metais raros, por isso nobres, na natureza, da ordem de 42 milhões de toneladas de lixo eletrônico, em 2014, segundo relatório da ONU encomendado por várias de suas agências, sendo que no Brasil, o número alcança 1,4 milhão, equivalentes 6,5 kg per capita ano, só atrás dos Estados Unidos (não existem dados exatos sobre a China). Quanto às famosas ilhas de plástico, a situação está alarmante com o elevado consumo nos países asiáticos. Há relatos de ilhas com centenas de milhares de toneladas de plástico acumulado.

Uma das questões mais graves porque estamos passando, no campo das externalidades, está na conta cobrada pela Natureza através das Mudanças Climáticas. A questão é o que fazer para rumar para uma economia de baixo carbono? Que mudanças estão para acontecer com a Conferência de Paris? Qual o macro tendências associadas ao processo das Mudanças Climáticas? Qual o protagonismo empresarial em curso? Como se dará o financiamento do processo de transição? Quais os riscos e oportunidades que podem surgir desse processo? Como mensurar os impactos dos investimentos públicos e privados decorrentes desse processo de transição?

Objetivamente no nível microeconômico ou empresarial, como desenvolver a ponte do relacionamento das empresas com as partes sociais interessadas, através de um conceito ampliado de governança, que vá além dos interesses dos investidores, administrando as demandas dos consumidores, seu público interno, do governo e dos demais mecanismos de pressão (ONG´s, sindicatos, comunidades)? Como vamos definir o que é material para análise e decisão de investimentos, partindo os de uma visão de pensamento empresarial integrado e, por decorrência processos de gestão e governança integrada? Como os investidores percebem e avaliam essas pressões e seu impacto na geração de valor para as empresas? Qual a contribuição do PRI, da EFFAS e do Relato Integrado e como essas visões se conectam? Quais as novas demandas dos investidores, como se diferenciam no Brasil e no Mundo, que padrões de análise, processo decisório e relacionamento devem ser orientados para atender essas diferenças?

Por esses motivos, quando se fala de sustentabilidade, lembramo-nos de imediato em meio ambiente. De fato, ele é condicionante de todo o comportamento da economia moderna e da sociedade. O problema é que “essa ficha ainda não caiu (ou não queremos que caia), mas ela vai cair, no mínimo, porque a força da gravidade é implacável”. Mas existem outros fatores adjacentes, no campo social, referentes aos direitos e deveres sociais em que as desigualdades continuarão a existir, mas sua mitigação vai depender da importância que é dada à igualdade de oportunidades, “um mundo ainda por ser construído”.

Apesar de muitos criticarem o termo Sustentabilidade (a crítica mais relevante talvez devesse cair sobre o princípio da perpetuidade), nunca ele foi tão usado, entre economistas, empresários e políticos, no momento atual, em especial para retratar o grave quadro grave de política fiscal e fragilidade econômica.

Da mesma maneira que criticamos com rigor o Governo pelos desequilíbrios fiscais e de política econômica e social, não existe o mesmo rigor quando se trata se dos desequilíbrios ambientais. A postura é claramente assimétrica, em termos de reivindicações sociais e econômicas. O desafio no campo das desigualdades sociais está em quebrar as dificuldades de abordagem da questão no mercado de capitais, pois não raro, o tema é levado para o campo das ideologias.

Entender a Integração ESG à análise de investimentos corporativos é entender o status de interatividade, os riscos e oportunidade subjacentes. Será entender, os riscos dos processos empresariais, os riscos reputacionais, e as oportunidades que surgem da adoção de ações mitigatórias. Não basta apenas relatar os riscos, mas mensurar ou qualifica-los por grau de importância, e proceder ao ajuste das projeções de receita e do custo de capital da empresa.

Nesse contexto as posturas empresariais relacionadas ao Meio Ambiente e à Sociedade, através de todos os seus segmentos, e à Governança, vista de forma ampliada, alteram de forma importante o processo de modelagem ou de valuation, quando se envolve “escolhas e decisão de investimentos”.

É nesse momento que se reconhece a importância do arcabouço institucional que apoia a economia e o mercado de capitais, com objetivos diversos, sejam de representação ou de autorregulação de atividades, de objetivos acadêmicos, de formação de redes e de promoção da pesquisa e inovação. Surge, daí, novas perguntas a fazer relativo às preocupações dos investidores institucionais sobre papel da governanca corporativa como suporte fundamental para o ambiente de investimentos de longo prazo e particularmente o que deve ser feito nessa direção? Em que, a análise de investimentos precisa evoluir para absorver essas questões e permita o desenvolvimento de uma cultura de analistas e gestores mais engajado a perfis “long term vision” envolvendo o aprendizado constante das macro-tendências em curso.

Essas questões serão tratadas na 2ª Conferência EFFAS-Apimec a ser realizada nesse mês de outubro. É possível que estejamos no momento da leitura deste artigo discutindo todas essas questões trocando experiências entre representantes de vários continentes, representantes internacionais da EFFAS e de signatários do PRI. A Apimec, afiliada recentemente aos PRI, pretende contribuir para esse processo.

É necessário lembrar que falar em integração ESG às atividades econômicas das empresas não se torna eficaz, se o Brasil não reestabelecer sua disciplina econômica, pautada nas reformas fiscais, tributária, previdenciária, institucional e política.

É fundamental que a Integração ESG ou ASG ( versão brasileira) à economia empresarial tenha por correspondência a “Integração Macro ESG à Política Econômica do Governo e ao Sistema Político de Decisões e Arbitragens”. Meio Ambiente, bem como Demandas Sociais devem ser transversais a todas as atividades e, integradas ao discurso econômico. Por isso, desengessar o orçamento público é pré-condição para ajustar as necessidades de acordo com a sua dinâmica. A perenidade da capacidade de geração de Valor e o Lucro vão depender desse processo de ajuste.

Não é possível que, mesmo com as conquistas de longevidade, continuemos em um sistema de aposentadoria por tempo de serviço. Além do ajuste da realidade à evolução demográfica baseada em menor taxa de natalidade e maior longevidade, os desafios do Clima, Distribuição de Renda, dos Direitos Humanos e de oito bilhões de pessoas cada vez mais urbanizados e reivindicantes, em um mundo globalizado, com as informações transitando em segundos, são desafios objeto de ajuste cultural permanente, sob qualquer ângulo o holograma esteja sendo visto. Elas estão batendo na porta, não só dos poderes públicos, mas também das empresas perguntando qual é papel destas na solução dos problemas.

Esse novo quadro está no caminho da pergunta. Podemos evoluir? É o que estaremos discutindo na Conferência. No próximo artigo, vamos enriquecer nosso tema com os resultados da Conferência EFFAS-Apimec, provavelmente respondendo que “Sim, podemos evoluir para uma economia sustentável”.

 

Eduardo Werneck
é diretor de Educação e Sustentabilidade da Apimec; representante da Apimec nos Conselho Consultivo de Educação da CVM, no Carbon Disclosure Project (CDP), no Conselho Orientador dos Indicadores Ethos, e no Grupo de Investidores da Comissão Brasileira do Relato Integrado.
eduardo.werneck@apimec.com.br


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