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2017, mais um ciclo se inicia. Um ano que já começa apresentando novos casos deploráveis de corrupção, intensamente veiculados em mídia. Não restam dúvidas que os efeitos da corrupção e falta de ética em nosso País foram danosos, para não dizermos catastróficos, basta vermos a situação política com impactos econômicos em nossa nação e seus Estados, onde a sociedade é a maior prejudicada.
Ocupamos a quarta posição entre os países mais corruptos do mundo segundo o Fórum Econômico Mundial, e segundo previsões da OCDE, o Brasil poderá ocupar a lanterna em termos crescimento nos dois próximos anos. Isto é grave perante os olhos do mundo que nos observa atentamente. O estado do Estado brasileiro parece ainda não dar institucionalmente sinais da vontade de reverter efetivamente tal cenário, mesmo com algumas (re)ações demonstradas. Mas com a chegada de 2017 - novas esperanças, oportunidades e entraves virão também.
Por outro lado persistem ainda demandas reprimidas na diversidade de oportunidades, um cenário econômico talvez um pouco melhor que 2016, aponta para um 2017 estagnado indicando preliminarmente a continuidade de taxas de recessão, possibilidades de aumento ou alta expressiva de juros e pressão inflacionária causando impactos negativos na economia do País, gerando baixas significativas nos índices de consumo e aumento expressivo do endividamento das famílias, traduzindo-se na continuidade de um período desafiador para as empresas e a sociedade.
Este cenário de crise aguda, ao contrário do que muitos possam pensar, ainda deve ser encarado como uma possibilidade interessante de revisão de posturas e processos de transformação para algumas corporações e oportunidades para organizações bem sucedidas e empresas familiares emergentes, pois não necessitarão recuperarem-se ou crescer a qualquer custo para acompanhar o ritmo imposto pelas oscilações econômicas, e poderão investir mais e melhor em seus processos de profissionalização, revendo suas estratégias, modelos e práticas, preparando-se melhor para um novo ciclo de expansão e competitividade de nossa economia, na hora da retomada.
Abstendo-se um pouco o tema sobre a corrupção do País que tem mostrado seus efeitos devastadores no âmbito da sociedade sob diversos aspectos, principalmente os econômicos e partindo da premissa que o objetivo de muitas organizações é a continuidade transgeracional a partir de um processo de resiliência que permita estas organizações passarem pelo teste do tempo, questões importantes passarão a fazer parte dos desafios e agendas de acionistas, administradores, herdeiros e sucessores. Fatores que podem e tiram o sono de líderes empresariais e acionistas.
Algumas questões prementes que vêm impactando o mundo empresarial em especial no Brasil, têm preocupado muitos líderes empresariais, administradores e acionistas. São fatores que demandam a devida atenção e cuidado, pois impactam direta e indiretamente na continuidade do negócio. Podemos elencar uma série deles, dentre os quais apontamos:
A compreensão e readaptação à novos modelos sócio-econômicos e sua relação de capital/trabalho, processos de sucessão, advento de novas gerações, flux e millennials, ascendendo à postos chaves de organizações, trazendo suas experiências, impactando culturas e gerando novos cenários de negócios, oportunidades e riscos, o advento da inovação orientada pela disruptividade tecnológica acelerada trazendo seus impactos e ameaças, são desafios que também passam a popular as agendas dos agentes de governança e gestão, trazendo a necessidade das organizações, em especial empresas familiares, adaptarem seus negócios aos comportamentos e modelos do século 21.
Encontrar o equilíbrio em relação aos desafios que os agentes de governança e gestão enfrentam hoje e as estratégias que eles podem empregar para superar os obstáculos, será um fator preponderante na busca do sucesso.
Nossas sociedades e organizações não podem mais furtar-se de entenderem e inserirem-se no ambiente global e volátil de negócios, com novas exigências regulatórias, tecnologias disruptivas emergentes, riscos crescentes e um maior escrutínio público e das partes interessadas e relacionadas. As demandas e pressões sobre os agentes de governança e gestão continuam a crescer. Nesse ambiente, as organizações precisam ter conselhos com capacidade de identificar as atividades essenciais e os ingredientes efetivos para o sucesso. Buscar alcançar um equilíbrio adequado em termos de conhecimento multidisciplinar, tempo e dedicação que despendem para ajudar suas organizações a ter sucesso.
Isto passa pelo crescimento ordenado, muitas vezes inorgânico, exigindo investimentos, onde a governança corporativa é um tema de crescente, de interesse tanto para os decisores como para os investidores e demais partes interessadas, que procuram uma maior transparência das práticas e funções de supervisão do conselho, responsabilização dos diretores e uma maior eficácia dos agentes de governança. No entanto, as práticas de governança podem variar muito.
E embora as práticas de governança das empresas com maior capitalização de mercado, como por exemplo as companhias do Novo Mercado da Bovespa ou as do S&P 500, possam servir como importantes indicadores de práticas emergentes, ainda são uma tendência de governança não muito usual em grande parte de nosso mercado.
Como salientei no artigo da edição de outubro dessa revista (RI-207): "Não podemos governar novos tempos sem a presença de novas práticas" e isto deve ser entendido e assimilado pelas estruturas societárias e de governança. Neste contexto destacam-se dentre outros, alguns dos principais desafios que exploram e buscam respostas potenciais para resolver algumas das principais questões que provavelmente enfrentarão agentes de governança e acionistas, tais como:
Cabe aqui salientar que as questões acima passam necessariamente por:
Organizações devem como condição primordial de continuidade e resiliência, buscar o estabelecimento efetivo da materialidade da governança para os novos tempos, onde seus agentes e acionistas dediquem uma parte substancial de seu tempo para estabelecer uma agenda voltada para o futuro, de alto desempenho, apresentando um impacto maior à medida que vão além do básico.
Aproveitando o potencial estratégico dos agentes de governança, evitar apenas a revisão e aprovação da estratégia, através da formulação de questões inerentes que permitam fazer o melhor.
Nossas empresas, em especial as familiares (rígidas) de capital fechado, necessitam, em sua maioria, buscar compreender que os tempos e modelos mudam com frequência e de forma acelerada, trazendo sempre novas perspectivas para governança e seus agentes. Várias falhas e enganos corporativos e societários, baseados em conflitos de interesses e sistemas de condução de negócios, e um ambiente regulatório cada vez mais complexo, têm tornado mais agudo o foco na boa e verdadeira Governança nos últimos anos pelo mundo. Em resposta devemos intensificar a busca nas organizações e sociedades, o que se faz necessário para tornarmos as estruturas e agentes de governança cada vez mais eficazes, como são desenvolvidos e como as expectativas e responsabilidades de suas agendas devem ser tratadas frente aos desafios impostos pelo crescimento e continuidade. E neste contexto precisaremos revisitar o real papel dos conselhos, e quais atividades devem efetivamente participar e como. A estrutura do conselho, suas fundações e eficácia devem necessariamente entregar as expectativas globais e crescentes.
Ao que parece está configurando-se, e assim esperamos, maior publicidade e importância aos fatos recentes (e não tão recentes) da corrupção ativa que se instaurou e instituiu-se em nosso País, atos realizados por entes públicos e privados os quais conflitaram interesses, degradaram vidas e corroeram tanto valor da sociedade e empresas, colocando o Brasil entre os quatro países mais corruptos aos olhos do mundo. Estão vindo à tona, internacionalmente veiculados, na esperança de que além de apurados, venham trazer importantes lições às nossas instituições e sociedade, permitindo que possamos resolver tais questões e assim deixar um legado melhor aos diversos processos de sucessórios que com certeza virão na linha do tempo.
Enfim, caros leitores, muito ainda temos para abordar sobre os desafios e agendas de governança nas organizações. O fato é que muito ainda precisa ser feito para que se estabeleçam melhores e mais fortes instituições, empresas e nação, para assim (re)estabelecer-se a eficiência, o respeito e a confiança. E partindo-se do estabelecimento efetivo e material das verdadeiras ética e práticas de governança, sob diversos aspectos, conseguiremos fortalecer nossas instituições e sociedade, empresas e famílias, potencializar as relações com investidores e ampliar nosso mercado de capitais, fatores primordiais para o restabelecimento da confiança dos mercados e uma economia realmente forte.
Vladimir Barcellos Bidniuk
é partner advisor da VBnK TrustStream; consultor em GRC, Governança Corporativa, Societária, Familiar e Digital; e conselheiro de Governança Corporativa no COPEMI – FIERGS.
vlad.bidniuk@gmail.com