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DESMITIFICANDO A ANÁLISE GRÁFICA

Vítima de um julgamento orquestrado, Papillon foi condenado - injustamente - por um crime que não cometeu, a prisão perpétua na Ilha do Diabo, situada a cerca de 40 km da Guiana Francesa. Sua única preocupação era como fugir daquele inferno sobre penhascos.

Um dia, observando do alto de uma rocha o movimento do mar, lá embaixo, algo chamou sua atenção: as ondas que se formavam, ao passar entre dois penedos, formavam um redemoinho e retornavam, depois de breve intervalo; mas nem todas. Por vezes formava-se um imenso vagalhão que estourava entre os penedos e prosseguia. Observando, Papillon constatou que as 6 ondas seguidas que retornavam, as antecedentes, eram sucedidas pelo vagalhão, o consequente. E era um fenômeno recorrente, o vagalhão era sempre a sétima onda.

As ondas obedeciam a um padrão: seis ondas seguidas e depois, o vagalhão, que seguia em direção ao continente. Papillon tinha então descoberto a maneira de fugir.

E foi numa sétima onda que Papillon se atirou com sua jangada de cascas de coco e depois de cerca de 60 horas atingiu o continente e a liberdade.

Enfim um padrão: seis ondas antecedentes traziam como consequente o vagalhão. E o fenômeno se repete. Sempre assim.

E é exatamente esse o funcionamento da análise gráfica.

Ciência ou arte, ou um misto das duas, tanto faz, a análise gráfica é empírica, fruto da experiência e da observação, e baseia-se em padrões antecedentes que sempre levam ao mesmo consequente, e que foram sendo constatados desde a origem da análise gráfica, assentada nos princípios de Charles Dow, fundador do Wall Street Journal e que criou o índice Dow Jones, hoje DJIA, em 1896.

Por exemplo, uma tendência de alta é um padrão, existem padrões de reversão, dos quais destaca-se o Ombro-Cabeça-Ombro; e também os de consolidação ou continuação.

Um dos mitos que existem é que a análise gráfica é divorciada da análise fundamentalista e que ambas nem se falam. Puro engano.

A análise fundamentalista trata de argumentos e razões que servem de base para a recomendação de compra de uma determinada ação, como a perspectiva de aumento de faturamento, lançamento de uma nova linha de produtos, mudança no controle acionário, redução do endividamento, etc, fundamentos enfim que sustentam uma perspectiva de valorização de uma ação, ou seja, PORQUÊ comprar essa ação. Porém a análise fundamentalista não informa QUANDO comprar. O mesmo é válido para uma análise desfavorável à empresa, quando a recomendação seria de venda.

A análise gráfica indica os pontos mais favoráveis à compra (ou venda) de uma ação, mas não apresenta as razões para tanto. Indica portanto QUANDO, mas não diz PORQUÊ. Nota-se então que as duas análises são complementares. As duas análises funcionam independentemente uma da outra, porém quando combinadas não somam, mais do que isso, multiplicam as bases para uma melhor tomada de decisão de investimento.

Em minha dissertação de mestrado pude comprovar estatisticamente a validade da análise gráfica, constatando um índice de acertos das indicações fornecidas pelos padrões gráficos da ordem de 75%. Por exemplo, em cada 4 tendências de alta confirmadas, se efetuarmos a compra e a venda seguindo as indicações dos conceitos gráficos, em cerca de 3 teremos lucro.

Outro mito é que a análise gráfica, como ferramenta de previsão de preços, é falha. Pudera, não é essa a função básica da análise gráfica. Apesar de até poder prever preços em certas condições, e tendências, a função precípua da análise gráfica é "TIMING" , ou seja, quando comprar e entrar no mercado ou quando vender e sair do mercado.

A análise gráfica não se aplica apenas a compra e venda de ações. A previsão de tendências explica porquê por vezes um processo fusão e aquisição entre empresas ou o lançamento de debêntures, por exemplo, são interrompidos. A conclusão é uma só, não é o momento propício para tal evento, o mercado virou, e a análise gráfica detecta isso!

As pessoas reagem ao risco que percebem, e não o percebem da mesma maneira, nem ao mesmo tempo.

A percepção do risco é, enfim, um fenômeno comportamental.

A análise gráfica capta e reflete o comportamento dos investidores. E comprovando a importância dos aspectos comportamentais, o psicólogo Daniel Kahneman ganhou o prêmio Nobel de Economia em 2002 pelos seus estudos a respeito da assimetria informacional, parte integrante das Finanças Comportamentais.

Um Analista de Investimentos deve conhecer tanto a análise fundamentalista quanto a gráfica.

E recomendo a todos aqueles ligados às idiossincrasias do mercado, como profissionais de RI, jornalistas, professores de finanças, dentre outros, que normalmente já têm noções da análise fundamentalista, que conheçam pelo menos os conceitos básicos de análise gráfica de forma a poder transmitir, coletar informações e ensinar conceitos inerentes ao mercado usando os mesmos termos e argumentos, aplicando esses conceitos cada um voltado às suas próprias atividades.
 

Marco Antonio de Barros Penteado, CNPI
é professor de análise gráfica. Foi analista de investimentos por mais de 15 anos, tendo sido diretor e conselheiro da APIMEC-SP (então ABAMEC-SP) durante vários mandatos. É engenheiro, pós-graduado em Administração de Empresas, sua dissertação de mestrado e sua tese de doutorado tiveram como tema a análise gráfica de ações.
mabapen@uol.com.br


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