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Um país com uma taxa de poupança compatível com sua necessidade de investimentos e um mercado de capitais dinâmico e sadio, onde as empresas possam se capitalizar
A Rede Globo tem veiculado diariamente uma campanha conclamando os brasileiros de todo o país a - de uma forma compacta, através de uma gravação feita por celular - expressarem o que considerem importante para o futuro do país.
Impressiona constatar que brasileiros de diferentes cidades pelo país afora têm registrado de forma bastante clara o que entendem ser da maior relevância para o nosso futuro. Não saberia dizer quantos já manifestaram sua opinião ou quantos mais ainda estarão na tela.
Não chega a ser surpresa que haja uma relativa convergência no que se refere aos temas e demandas que vêm sendo tratados.
Sem uma avaliação estatística, numa primeira avaliação o tema corrupção tem tido uma frequência constante. Se a mesma pesquisa fosse realizada há uns quatro anos, ela não apareceria nessa triste liderança. Realisticamente, esses desvios de conduta sempre existiram e, muito provavelmente, não na escala que vêm sendo revelados pela operação Lava-Jato. Assim, a reação dos pesquisados é bem sintomática, e o assunto sensibiliza a todos. Não imaginava que pudesse ter atingido tal escala na avaliação de nossa sociedade. Afinal de contas, ser honesto não deveria ser uma pré-condição, mas sim uma obrigação de cidadania.
Outros temas que registrei durante os depoimentos que vi e ouvi: temos a questão da saúde e educação, essas infelizmente sempre presentes em pesquisas análogas que conhecemos do passado, assim como a questão da renovação do quadro político. E, em menor presença, mas também digno de nota, a sensível questão do meio ambiente.
Levando-se em consideração o total desprestígio da classe política, há muitos anos com uma avaliação muito negativa em sucessivas pesquisas, surpreende que, conversando com analistas, afirmem que, diante das regras eleitorais e práticas conhecidas, não devamos esperar substancial renovação, o que seria uma grande decepção. Portanto, temos um contraste, onde os pesquisados acham que a renovação é importante, e os experts nela não acreditam. Penso que talvez seja assunto que esteja mais presente nas grandes cidades. Lembro-me também de várias menções à agricultura, à grave questão do saneamento e ao transporte — o Rio apareceu recentemente muito mal colocado no ranking das grandes cidades.
Também chamou minha atenção a menção a obras inacabadas, a maior parte delas vitais para moradores de pequenas e médias localidades. Como explicar esse quadro dramático? Obras iniciadas com finalidade política e sem os recursos necessários para sua conclusão? Apropriação indevida dos recursos disponíveis? Custos que excederam substancialmente o projeto original? Achei também que os temas segurança e emprego seriam citados com maior frequência. Bons temas para nossos futuros legisladores, que, espero, estejam registrando essas demandas de seus eleitores.
Se fosse dar o meu depoimento sobre o Brasil que eu quero, teria como fundo a Bolsa (B3) e gravaria:
“O Brasil que eu quero é um país com uma taxa de poupança compatível com sua necessidade de investimentos e um mercado de capitais ativo, dinâmico e sadio, onde as empresas possam capitalizar-se para atender a suas necessidades de investimento para crescer e com investidores dispostos a canalizar parte de sua poupança para o mercado, com regulação que iniba práticas delituosas.”
ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA
economista, foi o primeiro presidente da CVM,
e um dos responsáveis pela organização e instalação
da Comissão de Valores Mobiliários no Brasil.
teixeiradacostaroberto@gmail.com