Conselhos | Criação de Valor | Em Pauta | Empreendedorismo |
Espaço Apimec | IBRI Notícias | Livro | Opinião |
Orquestra Societária | Ponto de Vista | Registro |
Voltemos no tempo. Como se administravam negócios há séculos atrás? Alguém era proprietário, provavelmente por herança histórica, e tinha consigo um súdito que, como feitor e de chicote na mão, comandava trabalhadores para que produzissem, em troco de quase nada. Se saltarmos para o início do século XX, veremos empresários típicos como Henry Ford liderando grandes conglomerados, verticalizados, geridos com foco na eficiência e conveniência industrial, buscando volume a custos reduzidos. Daí sua lógica de que o consumidor poderia escolher qualquer carro desde que fosse preto: bom para a fábrica, o resto pouco importava.
Se avançarmos um século, até os dias de hoje, a sobrevida e o sucesso envolvem blockchain, cadeias de valor, alianças e parcerias, ambientes e lógica colaborativa, foco no consumidor, estratégica atenção a pessoas, inexorável e ampla consideração de recursos financeiros adequados a mover e viabilizar todo o conjunto. Por isso, a recente colaboração entre Ford e VW passa ao largo de considerações de concorrência, Uber e Airbnb trituram conceitos de reserva de mercado, drones revolucionam centenas de pré-conceitos operacionais, e por aí vai...
Em síntese, o tempo e a evolução da ciência e da humanidade forçam a mudança do modelo de gestão e, consequentemente, das habilidades, características, produtos e serviços com os quais se ganha o jogo da concorrência. A IBM, pelo lado positivo, e a KODAK, retratando a tragédia, são exemplos didáticos.
Quando aplicamos isso ao futebol, fica fácil entender porque o Brasil foi para casa mais cedo da Rússia, de mãos vazias, junto com todos os seus outros famosos colegas latino-americanos.
Nosso modelo reside no passado, quando a habilidade individual de um Pelé fazia a diferença, os dribles desconcertantes de um Garrincha deixavam seus adversários estáticos ou no chão, uma “folha seca” do Didi não podia ser analisada e prevista nos computadores ou quando, na Argentina, Maradona era “o cara”. Individualismo puro, que podia nos fazer ganhar por um lance épico e digno de exaltação de uma obra de arte, mas jamais pela força e consistência do conjunto.
Vivemos de ledo engano saudosista e ufanista. Futebol é, na sua essência, um esporte coletivo, solidário e, portanto, de sucesso pela vitória do todo, da equipe, não do malabarismo ou mérito individual. Objetividade e rapidez no toque de bola e na busca do gol, independente de quem o faça, abstraídas as demonstrações de arte. Este é o modelo lógico e óbvio da Europa e do resto do mundo, exatamente similar ao que ocorre na seara dos negócios.
Enquanto dermos atenção ao stress do fuso horário, importância ao avião fretado e decorado em lugar da simples aeronave de carreira, à sofisticação do hotel da concentração, às idiossincrasias individuais dos craques, à bajulação dos indivíduos e detalhes de suas histórias, estaremos fora do jogo.
Pretender ganhar com base no modelo antigo é tão esquizofrênico quanto querer manter a prática de gestão dos antigos feitores, os princípios de Henry Ford ou a invenção da fotografia, achando que, independente de tudo, somos simplesmente o máximo e que o hexa nada mais é do que justo, natural e inexorável já que um dia fomos penta.
Esquecemos que a vida e o mundo não levam isso em consideração, pois... “the world unfolds as it should”.
Telmo Schoeler
é fundador e presidente da Orchestra Soluções Empresariais.
tschoeler@orchestrasolucoes.com.br