Estratégia

O PAPEL DO RI NA GOVERNANÇA CORPORATIVA

O profissional de Relações com Investidores exerce, atualmente, um importante papel nas companhias, abertas ou fechadas, com a função de constantemente aperfeiçoar as práticas internas e o atendimento às solicitações do mercado e dos stakeholders. Esse profissional, portanto, pode contribuir para o processo de melhoria da Governança Corporativa.

À medida que o mercado e a sociedade se desenvolvem, novas demandas surgem e, em especial, os aspectos de Governança Corporativa são cada vez mais importantes. No que diz respeito à atividade do RI é preciso, a partir deste cenário, contemplar em sua experiência conhecimentos aprofundados sobre o tema.

Vale relembrarmos a famosa opinião do banqueiro alemão Carl Fürstenberg sobre os acionistas, ao dizer que “Os acionistas são estúpidos e impertinentes. Estúpidos porque dão seu dinheiro para alguém sem controlar o que é feito com ele, e impertinentes porque pedem dividendo como recompensa por sua estupidez”. No que diz respeito às empresas, o tema passa a ganhar importância por conta de um dilema inerente à estrutura e desenvolvimento dos negócios: o conflito de agência.

Destacam-se como razões-chave de desenvolvimento da Governança Corporativa os conflitos de interesse e as pressões sociais por maior amplitude dos objetivos corporativos. Segundo Robert A. G. Monks, o problema que todos tentam solucionar é um só: os administradores corporativos nunca serão tão cuidadosos em criar valor para os investidores quanto eles serão para criar valor para si mesmos. Todas as disciplinas e áreas de atuação reconhecem que deve haver alguma forma de prestação de contas por parte daqueles que exercem o poder, perante aqueles que são afetados por suas decisões. Mas a Babel de linguagens ofusca o fato de que a autopreservação dos gestores corporativos se contrapõe a toda tentativa de prestação responsável de contas.

O Código de Práticas Recomendáveis (Code of Best Practice), que teve por base o trabalho de numerosas organizações, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, publicou um relatório final com as seguintes preocupações em relação ao conselho: as responsabilidades; os membros; a importância de membros independentes; e a necessidade de comitês, especificamente um de auditoria, um de nomeação e um de remuneração.

O contexto de mudanças por qual passa a atividade de RI é reforçado ainda pela adoção dos padrões internacionais de contabilidade (IFRS), alinhando o Brasil ao resto do mundo. A Governança deve assegurar um processo de decisão coerente com os desafios da organização por meio de controles, foco na estratégia, correção de rumo e monitoramento.

Os mais diferentes países sempre estiveram ligados à maturidade dos mercados para abertura e concorrência, ao papel do governo como emprestador de último recurso ou intervencionista e um sistema financeiro baseado em relações pessoais (Alemanha e Japão) ou no livre mercado (Estados Unidos e Reino Unido).

A área de RI é o elo entre a empresa e os agentes do mercado de capitais e públicos estratégicos – analistas e investidores. Entre outras funções, se responsabiliza por transmitir informações financeiras e estratégicas do negócio, sempre dentro dos padrões de tempestividade, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. É notável o papel do RI, pensado dentro desse contexto. Assim, ele seria responsável por alinhar conceitos e discurso, integrar áreas, envolver os administradores, evidenciar boas práticas, estabelecer compromissos e considerar a opinião dos stakeholders.

É evidente que o RI só irá se preocupar com essas questões se for demandado pelo mercado. Do ponto de vista dos analistas e investidores, eles irão demandar, em um primeiro momento, se enxergarem algum risco que impacte de maneira significativa os seus ganhos e projeções. Um estudo global, publicado no jornal Valor Econômico em 16 de abril de 2014, mostra que os papéis de empresas com melhor gestão de riscos conseguem maior retorno no longo prazo e são mais resilientes em períodos de crise. O estudo mostra que 142,7% foi o retorno da carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) de novembro de 2005 a 14 de abril de 2014, frente a 62,51% do Ibovespa no mesmo período. Identificou-se, ainda, 38% menos volatilidade nos papéis de empresas com maior grau de gerenciamento de riscos.

De acordo com a Bolsa de Valores, as companhias que mantêm a área de Relações com Investidores atenta a essas mudanças apresentam vantagens competitivas, tais como: crescimento do valor e de mercado e liquidez, redução dos custos de captação no mercado de capitais, intercâmbio de informações relevantes, base acionária satisfatória, melhor profissionalização e aperfeiçoamento da postura ética e da imagem institucional.

Dessa forma, como atividade que pode ser indutora de mudanças fundamentais nas empresas, o RI deve assumir seu papel de protagonista nessas questões que se colocam à frente dos negócios. A melhor abordagem sobre gestão de riscos e sensibilidade do negócio às mudanças de cenário deve ser provocada pelo RI. Por fim, conclui-se que resta, aos analistas e investidores, questionar, e aos profissionais de RI, ter a pró-atividade em promover e liderar esses avanços. Só assim essa atividade criará valor.



Rafael S. Mingone
é sócio-diretor da TMG Estratégia, consultoria em governança
corporativa e professor da Trevisan Escola de Negócios.
rafael@tmgestrategia.com.br


Continua...