IPOs

CAUTELA NOS IPOs

A oferta inicial de ações de uma companhia sempre é precedida de um extensor e profundo estudo sobre as demais fontes disponíveis de obtenção de recursos. Ao fazer o IPO, a companhia está mostrando ao mercado que escolheu captar recursos no Mercado de Capitais, como alternativa ou como complemento às demais modalidades de captação.

Sob a ótica do mercado, a companhia passa a compartilhar com seus stakeholders uma série de informações econômico-financeiras e de desempenho, para que os investidores possam tomar a decisão de investir, manter ou ampliar seus investimentos na empresa, ou até mesmo vender os papéis.

Dentre os dados que passam a ficar disponíveis ao mercado após o IPO está, obviamente, o valor de cotação das ações.

O dado de que apenas 16% das empresas que abriram capital em 2007 acumularam valorização das ações, deve ser avaliado com cautela, pois há diversas ponderações a serem feitas antes de concluir que a abertura de capital não representou um fator de sucesso para a empresa. São elas:

1) Nunca saberemos se as companhias que, de acordo com o estudo, não apresentaram valorização de suas ações desde 2007, teriam experimentado uma redução ainda mais expressiva de seu valor caso não tivessem optado por fazer uma Oferta Inicial de Ações naquele momento.

2) Não há dados disponíveis sobre todas as empresas que movimentam a economia brasileira e, portanto, não há como dizer se o percentual de 16% das empresas que fizeram IPO em 2007 e apresentaram valorização de suas ações, é superior ou inferior ao percentual de empresas de capital fechado que se valorizaram no mesmo período. O dado, aparentemente desfavorável às empresas que realizaram IPO, pode revelar uma informação positiva.

3) Jeff Bezos, fundador da gigante Amazon, é conhecido como o bilionário de uma empresa que não lucra. A companhia de Bezos opta por reinvestir seus lucros em detrimento à distribuição de caixa aos acionistas. Uso esse exemplo para demonstrar que há estratégicas econômico-financeiras que podem ser adotadas pelas empresas e que impactam diretamente na valorização (ou ausência de valorização) de suas ações, sem significar, no entanto, que a companhia não foi lucrativa ou não pagou dividendos aos acionistas.

4) Pelo valor da ação é possível determinar o valor das ações em circulação, o chamado Market Capitalization. Se uma companhia, ao longo de sua trajetória, fizer um grupamento ou desdobramento de ações, ou reduzir ou ampliar seu free float, seu Market Capitalization não é afetado, mas a cotação das ações sim. É necessário levar esses fatores em conta para contextualizar corretamente o percentual de 16% das companhias que fizeram IPO em 2007 e acumularam valorização das ações.

5) Há fatores econômicos, tributários, de mercado etc. que também fazem com que os investidores migrem suas preferências para determinados papéis, além do desempenho de alguma companhia específica. Assim, muitas vezes a ausência de valorização das ações de uma companhia não decorre de sua abertura de capital, e o valor da empresa seria afetado independentemente dela ter papéis negociados em bolsa ou não.

6) Por fim, o ajuste do preço das ações pode também fazer com que as companhias não apresentem valorização de seus papéis ao longo do tempo. Quando estamos diante de um boom de IPOs e de um mercado favorável à captação em bolsa, dois fatores de apresentam:

(a) muita procura pelas ações (diante, por exemplo, de um mercado financeiro menos atrativo), afetando naturalmente a relação de oferta/demanda e, consequentemente, elevando o preço das ações no momento do IPO; e

(b) comparando os valuations feitos no momento do IPO com os números efetivamente desempenhados pelas companhias, pode ocorrer de algumas avaliações mais otimistas não confirmarem, mas mesmo assim as companhias apresentaram excelente performance, apesar da redução da cotação de seus papéis.

Enfim, como conclusão, eu diria que é essencial ser muito cauteloso com a análise de dados ou estatísticas, para não correr o risco de tirar conclusões equivocadas ou incompletas. É dificílimo fazer uma correlação direta entre a abertura de capital e o desempenho das companhias. O mercado de capitais brasileiro ainda continua representando uma alternativa viável de captação de recursos pelas companhias, embora venha se tornando gradativamente menos atraente para os investidores, em função de alguns escândalos revelados (OGX, Petrobras) e da elevada taxa de juros brasileira.



Renato Chiodaro
é sócio do De Vivo, Whitaker e Castro Advogados e professor do BI International.
chiodaro@dvwca.com.br


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