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É sabido que 2015 vai ser um ano difícil diante de uma economia com perspectiva de recessão. No entanto, para a indústria de Private Equity, a atual crise político-econômica que vive o país não deve frear as operações dos fundos no Brasil. Com recursos captados, as gestoras planejam cumprir suas metas de investimento para este ano, aproveitando algumas janelas de oportunidades que foram abertas diante deste cenário de crise. Vários fundos já concluíram a captação e estão começando a colocar o dinheiro para operar. É hora de ir às compras...
Para os gestores de Private Equity, que trabalham em um horizonte de investimento de médio a longo prazo, a atividade continua, só está mais seletiva. “Qualquer economia do mundo tem altos e baixos. Situações de crises econômicas e políticas são passageiras. Estamos sim em um momento de dificuldade, com PIB baixo, crescimento econômico reduzido, baixa confiança política, isso tudo atrapalha o cenário econômico, pois o país não cresce, mas o investidor de private equity está vacinado quanto a isso, pois mesmo nesses momentos continua fazendo investimentos, pois está vislumbrando o retorno entre cinco a oito anos”, destaca Clovis Meurer, sócio da CRP - Companhia de Participações e vice-presidente da ABVCAP - Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital.
Chu Kong, sócio da Actis na América Latina, diz que não há motivos para se preocupar com a crise, e que o mais importante é saber escolher os investimentos, ver como a empresa vai reagir durante a crise, se ela vai performar bem no seu modelo de negócios e se vai gerar caixa. “Nós que atuamos com private equity somos privilegiados porque trabalhamos com investimentos de médio a longo prazo. Só temos que tomar cuidado para não ficar pagando por ativos caros demais”, diz.
A valorização do dólar também torna as oportunidades de negócios mais interessantes principalmente para aqueles que têm fundos captados em moeda estrangeira, já que os ativos estão mais baratos em moeda local. A inglesa Actis está com um fundo levantado com volume de U$ 2 bilhões para investir no Brasil em empresas que atuam nos setores de consumo, educação, saúde e serviços financeiros. Chu Kong afirma que, apesar da expectativa de ser um ano difícil, com ajustes fiscais, juros altos e inflação alta, a gestora vai manter a sua meta de investimento para este ano em dois negócios no valor de aproximadamente U$ 150 milhões.
No entanto, em meio a esta crise, os gestores devem estar atentos a alguns fatores que podem prejudicar as negociações. Para os fundos que estão captando, os juros altos podem atrapalhar, pois obriga o gestor a buscar uma taxa de retorno adequada. Outro ponto é como sair do investimento, tendo em vista que a Bolsa de Valores não está “funcionando”, tornando difícil qualquer saída via IPO - abertura pública de ações. “Isso limita a saída do fundo para venda estratégica onde muitas vezes não se alcança o retorno que estava previsto”, explica Clovis Meurer.
Momentos de crise podem ser encarados tanto sob a ótica positiva, quanto negativa. “Olhando pelo lado pessimista, não há dúvida de que esse cenário preocupa pois há menos investimentos, restrição de crescimento das atividades, o consumidor reduz as compras, o investidor se retrai. Mas por outro lado, neste momento é que surgem as oportunidades”, destaca Meurer.
Uma delas é que em tempos de crise, o governo tende a diminuir investimento em vários setores da economia, abrindo espaço para a iniciativa privada suprir essa carência. Há setores que continuam crescendo e precisando de recursos como o de energia, óleo e gás, infraestrutura, saúde, educação, agronegócios e serviços. “Há oportunidades que não desaparecem, e são espaços da economia que, mesmo em crise, estão em alta demandando investimentos, e a indústria de private equity está atenta para investir, pois os retornos são garantidos”, afirma Meurer.
Para os gestores de private equity, que têm como objetivo adquirir participações em empresas para no futuro vendê-las com lucro, o ciclo de baixa pode representar uma grande oportunidade de investimento em melhores condições. Algo que não era imaginado anos atrás, por exemplo, e que hoje passa a ser uma realidade para a indústria é fazer aquisições ou avaliar oportunidades de negócios que serão vendidos por grandes empresas arroladas na Operação Lava Jato, da Petrobrás.
Considera-se também que com o mercado acionário fechado para captações e bancos com menor apetite para dar crédito, é esperado que as empresas brasileiras se financiem por meio de fundos de private equity.
Carlos Eduardo Guillaume, diretor executivo da Confrapar, pondera que em um cenário de crise, para os fundos de Venture Capital (que compram participação em empresas em estágio inicial), há uma complicação maior. “Há um problema de liquidez inerente, temos poucos players no mercado e grande parte dessa liquidez foi dada por players internacionais. Como houve um maior aspecto de risco no país que contagiou todo o humor no mercado internacional, a liquidez desse mercado foi cortada. Em empresas que ainda não têm cash flow positivo, isso pode gerar um risco de carteira”, explica.
Já para o Private Equity, Guillaume diz existir muitas oportunidades, mas vai depender de que fase o fundo se encontra. “Se o fundo está desinvestindo agora, o momento é complicado, pois o cenário não está bom, os compradores não querem nem ouvir falar de empresas brasileiras, mas se o fundo está comprando, sabendo que o mercado é cíclico, está na hora de ir às compras”, diz.
A Confrapar levantou no segundo semestre do ano passado um fundo de R$ 200 milhões, que tem o BNDES como um dos investidores, e vai começar a fazer investimentos neste ano. Guillaume diz que o fundo é completamente descolado do ambiente macroeconômico, e tem como foco empresas pequenas na área de tecnologia que oferecem serviços para setores produtivos. “A tese de vendas dessas empresas é reduzir o custo do cliente, então elas conseguem aumentar o ticket em período de crise”, diz.
A Confrapar recentemente anunciou um investimento de R$ 3 milhões no ChefsClub, maior player de benefícios em gastronomia no Brasil. Através de seu website e aplicativos, o ChefsClub conecta mais de 100 mil clientes a 1.200 restaurantes em 20 cidades brasileiras. Através de uma anuidade, o cliente tem descontos negociados pela empresa nos seus restaurantes de preferência. Além deste aporte, a Confrapar planeja investir em mais três empresas de base tecnológica até o final do ano. A meta é fazer sete investimentos no período de dois anos.
Outra gestora que não pretende diminuir os investimentos neste ano é a Rio Bravo, que captou no final do ano passado R$ 240 milhões para o fundo Nordeste III, com foco de atuação na região Nordeste do país. O fundo foi captado com alguns dos maiores investidores institucionais do país, e ainda tem previsão de alcançar um volume de R$ 400 milhões. Trata-se do maior fundo de private equity com foco regional já captado no país. A meta é fazer dois investimentos neste ano, principalmente em empresas com atuação nos setores de saúde, varejo especializado, indústrias e serviços B2B e bens de consumo.
Luiz Medeiros, diretor de Private Equity da Rio Bravo, acredita que os fundos irão buscar investir em setores mais resilientes a crise, e que tenham algum componente de inovação em seu modelo de negócios. “Vamos continuar buscando oportunidades, mas de maneira mais cautelosa, pois o risco é maior em período de crise. Muitos empresários evitam precificar suas empresas neste momento”, diz Medeiros.
Segundo o executivo, o cenário de desaceleração econômica trouxe os preços dos ativos para a realidade. “O preço antes estava caro, e os fundos estavam evitando fazer compras por conta desses preços”, conta.
Marcus Regueira, sócio da gestora FIR Capital e Conselheiro Consultivo da ABVCAP também entende que é um excelente momento para os fundos investirem, e pretende fazer três aportes neste ano. Ele revela que está olhando para pequenas e médias empresas com foco de atuação na área de produtos e serviços essenciais para consumidores de baixa renda, que estão menos expostos a crise atual, e que a ideia é medir, além do retorno financeiro, o impacto social desses investimentos. “Se você fizer as coisas certas, em termos de criação de valor para a empresa, as oportunidades são extraordinárias e vão resultar em retornos extraordinários”, afirma.
Regueira revela que a intenção dos sócios é investir em áreas que serão de crescimento alavancado com recuperação da economia. “Estamos confiantes de que a reestruturação política-econômica virá. O Brasil está maduro o suficiente para reconhecer que não há outra saída a não ser fazer a reforma para o país voltar a crescer. Essa é a única opção, e é isso que sentimos em relação aos investidores. Eles também estão confiantes que essa reestruturação virá”, destaca.
O executivo diz que, mais do que se preocupar com os aspectos macroeconômicos e políticos, o foco neste momento é trabalhar na tese de investimento da gestora, no olhar de longo prazo da economia brasileira e na capacidade da FIR de fazer acontecer dentro desse cenário de crise.
Para Regueira, só há um cenário para desistir do Brasil, que vai ser se o Private Equity desistir do país e parar de investir. “Mas eu não vejo essa possibilidade porque temos um ambiente estável, regulamentado, estruturado, amigável para investimento, com governança, gestão e estratégia de longo prazo”, afirma.
Dinheiro em caixa
Apesar do cenário de crise, dinheiro não é problema para essa indústria. Os fundos de Private Equity captaram no ano passado US$ 10.4 bilhões para investimentos em empresas na América Latina, um volume recorde, de acordo com dados da LAVCA - Latin America Venture Capital Association. Pouco mais da metade desses recursos veio de fundos dedicados a investir no Brasil.
Na opinião de Carlos Eduardo Guillaume, esse montante poderia ser muito maior. Ele conta que a captação vem sendo bastante prejudicada desde o final de 2013, diante da expectativa do ano eleitoral, o que demandou um grande esforço dos gestores. “O problema seria se o Brasil não tivesse conseguido trazer essa captação. Para um país emergente, com produtividade baixa e com Olimpíadas pela frente, esse recurso por maior que seja ainda é pouco perto do potencial que apresenta. O Brasil poderia ter captado muito mais se não fosse esse cenário de crise, mas finalmente este dinheiro veio. Para quem já venceu essa etapa, a expectativa é de que vão fazer excelentes negócios”, afirma.
Guillaume ressalta que a empresa que for agraciada com o dinheiro do Private Equity vai conseguir se descolar dos seus concorrentes e se destacar no mercado, podendo fazer consolidações e aumentar a sua eficiência de operação colocando, por exemplo, novas tecnologias, novas ferramentas e plataformas. “Do ponto de vista dos fundos, essas empresas vão ter dinheiro em um mercado onde todas as outras não têm, e isso é muito bom porque elas vão crescer mais do que a média”, ressalta.
Ele ainda acrescenta que se não existissem os ciclos econômicos, o ganho de private equity seria menor. “Quando tem um ciclo econômico, você tem a oportunidade de entrar na baixa e sair na alta, e quando as empresas estão capitalizadas há mais oportunidade de fazer fusão e aquisição. Esse ciclo só não pode demorar muito a subir. Se a recessão durar uns dois ou três anos, é uma oportunidade. A mágica do private equity é conseguir estar com dinheiro em um momento de recessão e estar com ativos quando o mercado não está comprando. Essa tragédia econômica já estava anunciada. Os investidores que tiverem estômago para investir vão ser os que mais vão ganhar, pois vão aproveitar as oportunidades, e os que não tiverem, por algum motivo, são os que não estão acostumados e não conhecem o ciclo Brasil”.
Apesar deste ambiente de incertezas na economia, os grandes fundos de pensão brasileiros continuam alocando parte de seus recursos nesta indústria. “Essas Fundações já têm um programa elaborado de investimento e sabem que é importante investir em diferentes safras, que se pular uma ameaça a rentabilidade do programa como um todo. As vezes, as piores safras são as que terão melhor resultado lá na frente”, explica Guillaume.
Já os fundos de pensão médios estão com aversão muito grande ao risco, e nessa hora modificam a sua política de investimento e migram para renda fixa. “Isso acontece porque a instituição ainda não tem a cultura de investir em private equity”, acredita.
Apesar da alta do dólar tornar os negócios mais atrativos, é uma barreira a menos para os investidores internacionais que estão decidindo investir no país. Por conta do atual cenário de instabilidade, esse investidor pode optar por postergar o investimento, mas a percepção dos gestores é que não é uma decisão baseada na emoção do momento, ela é muito bem analisada, e aqueles que optam por investir no Brasil, já conhecem o mercado, e acreditam no seu potencial.