Educação Financeira

10 PASSOS PARA QUEM NÃO SE PREPAROU PARA A APOSENTADORIA

Os planos para a aposentadoria deveriam fazer parte da lista de prioridades de todo trabalhador já ao assinar o primeiro contrato de trabalho. Infelizmente esta não é a regra para a maioria dos brasileiros. Somente quando a possibilidade de aposentadoria fica nítida no horizonte é que os trabalhadores começam a fazer as contas para descobrir como irão viver sem a renda do seu trabalho.

Não vamos esquecer que a geração que está hoje com 50 ou 60 anos viveu uma das fases econômicas mais inacreditáveis da história nacional. Foram períodos em que a inflação anual era mediada na casa dos milhares. Tablitas, expurgos e congelamentos fizeram parte do dia a dia dessa geração. Como esperar planejamento financeiro de quem viveu tempos assim?

É bem verdade que alguns conseguiram acumular grandes quantias e agora têm tranquilidade para começar a usufruir do patrimônio que conquistaram. Mas estes casos são exceção.

1, 3, 6, 9... Um ponto de partida!
“1, 3, 6, 9” é o nome de uma metodologia desenvolvida pela equipe de educação para investidores do Itaú Unibanco, sob a coordenação do planejador financeiro Martin Iglesias. Ela foi criada para ajudar as pessoas a saber se estão acumulando o suficiente para se aposentar. Cada número significa a quantidade ideal de anos em salários poupados até as idades de 35, 45, 55 e 65 anos, respectivamente.

Isso quer dizer que:

  • 1: aos 35 anos, o trabalhador precisa ter o equivalente a um ano de salário em sua reserva de aposentadoria;
  • 3: aos 45, precisa ter três anos de salários poupados;
  • 6: aos 55, a poupança precisa ser equivalente a seis anos de salário e
  • 9: aos 65 anos, é preciso ter pelo menos nove anos de salários para se aposentar com essa idade e assegurar o mesmo padrão de vida que manteve enquanto trabalhava.

Segundo as contas desta metodologia, caso a pessoa consiga uma rentabilidade real de 3,5%, já descontada a inflação e os custos financeiros, e não tiver nenhuma renda do INSS, o montante de nove anos de renda duraria até a pessoa completar 81 anos. Diante do aumento da expectativa de vida, essa é uma previsão preocupante. No entanto, a maioria dos brasileiros vai ter alguma renda proveniente da previdência oficial. Pelos cálculos, se a pessoa conseguir 10% da renda do INSS, o pecúlio chegaria até os 84 anos. Com 20%, chega aos 90 anos e, com 30%, aos 100 anos.

Um ponto importante é saber o que entra na reserva de aposentadoria. Será que a casa própria ou a casa de praia podem entrar no cálculo dos 9 anos de renda necessários? Tudo depende dos planos de cada um. Se a pessoa pretende vender a casa e mudar para a praia o valor da venda pode contar. Ou então se pretende vender a casa de praia e colocar este valor para gerar renda, a casa de praia entra no cálculo. Mas se pretende usufruir dos dois então o valor dos imóveis deve ficar de fora do cálculo.

O que fazer quando os números assustam
Muitas pessoas se assustam ao descobrir que a poupança para aposentadoria está abaixo do valor ideal para a idade que têm. Susto que costuma ser bem maior quando se está muito próximo dos 65 anos.

Você fez todos os cálculos e viu que não vai conseguir acumular os 9 anos de renda até o momento de se aposentar? Ou já chegou no momento da aposentadoria sem o valor preconizado? Lembre-se: desespero não resolve o problema. Veja abaixo algumas alternativas para colocar em prática agora mesmo.

    1. Levante todas as receitas: é hora de fazer as contas. Lance os dados em uma planilha considerando os valores com os quais vai poder contar após a aposentadoria. Inclua o que vai receber do INSS, rendas de planos de previdência privados, possíveis aluguéis (como a garagem ou o quarto que esteja sobrando no apartamento). Imóveis de lazer podem trazer renda enquanto não são utilizados. Serviços online como o Airbnb podem ajudar. Confira também o saldo no FGTS e revise cada detalhe das suas finanças para que nada passe em branco.

     

    2. Reflita sobre a estrutura de gastos: agora que você já verificou suas rendas, lance em uma planilha cada gasto que precisa fazer. Quem já tem o hábito de anotar seus gastos vai ter mais facilidade. Quem ainda não tem, deve começar a anotar tudo pelo menos um ano antes de aposentar. Questione cada despesa, por menor que seja. Quais de fato são fundamentais, quais valem o esforço que temos que fazer para ganhar o dinheiro que elas custam e quais podem ser suprimidas sem prejudicar a sua qualidade de vida? Lembre-se: um bom orçamento é aquele que evita desperdícios e permite mais gastos supérfluos.

     

    3. Questione todos os custos fixos: muitas vezes alguns custos são encarados como imutáveis, quando na verdade apenas dependem de uma decisão para mudar. Os seguros de vida que são fundamentais quando se tem dependentes podem ser reduzidos ou até eliminados quando deixamos de ter dependentes. Verifique os planos de TV, telefonia e internet. Veja se ainda frequenta o clube que paga, se continua lendo as revistas que assina. O segredo não é eliminar o importante, mas se livrar daquilo que está no orçamento por comodismo.

     

    4. Evite o apego a imóveis e estruturas caras: quanto mais pesada sua mochila mais difícil é sua caminhada. E nesta fase da vida é hora de aliviar a carga. A casa dos sonhos de outrora pode ter deixado de fazer sentido neste momento. O carro, eventualmente, pode ser substituído com economia por táxi ou UBER. Na aposentadoria é hora de aprender que menos pode ser mais.

     

    5. Nova carreira é uma possibilidade? A expectativa de vida não para de crescer, porém, mais do que aumento do tempo de vida ganhamos a possibilidade de viver com qualidade e de forma produtiva a terceira idade (dos 60 aos 80) e até a quarta idade (dos 80 aos 100). Pesquisas demonstram que continuar a trabalhar até os 70 aumenta significativamente as chances de chegar com saúde aos 80. Mais do que parar de trabalhar, muitas pessoas querem uma mudança de rotina. É neste momento que pensar em uma nova carreira pode ajudar. Aqui o importante não é ganhar muito ou conquistar postos de grande prestígio e responsabilidade. O importante é um trabalho que gere propósito e que concilie baixo stress e mais tempo de lazer.

     

    6. Planejar a vida pós-carreira: parar de trabalhar pode ser um sonho para muitos, porém, é preciso pensar no que fazer depois. Ter seis meses de férias sem nenhum compromisso ou ter tempo para viajar pode parecer um sonho. Mas dificilmente ficar de papo para o ar ou viajando sem parar preenche a vida de alguém. O amanhã precisa ser planejado — antes mesmo da aposentadoria.

     

    7. A estrutura da sociedade mudou e a herança também: durante muitas gerações a aposentadoria era pensada no seio da família. Como poucas pessoas ficavam velhas, vigorava uma lógica simples: cada um procurava enriquecer a família e a herança era a forma de transmitir esta riqueza. Caso alguém ficasse velho ou doente, era atendido pela mesma família. Este pacto tácito inter-geracional caducou pela redução do numero de filhos e pelo aumento na proporção de idosos na sociedade. Agora além de a herança ser transmitida já muito tarde, quando impacta pouco na construção do patrimônio dos filhos, os mais jovens têm grande dificuldade de cuidar dos pais na velhice. Qual a saída? Melhor do que pensar em herança é pensar em ter um pecúlio para se manter, de forma a não pressionar em demasia a vida dos filhos.

     

    8. Filhos precisam ser emancipados financeiramente, o quanto antes: pais que protegem os filhos em excesso, além de prejudicarem suas finanças também criam filhos que encontram muitas dificuldades em se tornar adultos e se emancipar. Pais tendem a fortalecer filhos fortes e enfraquecer filhos frágeis. Se a educação que você deu não tornou seus filhos maduros a vida vai precisar fazer a parte dela. Você não é eterno e quanto mais tarde seu filho tiver que viver por conta própria, mais dificuldade terá em se adaptar.

     

    9. Mudar de cidade pode ser uma alternativa: algumas cidades são mais baratas e mais amigáveis para os idosos. Cidades pequenas ou alguns bairros com grande concentração de idosos geralmente permitem viver melhor, com menos dinheiro.

     

    10. Evitar o risco: por último, lembre-se que não é hora de correr muitos riscos. Ir à falência aos vinte e poucos anos pode ser um grande aprendizado. Mas passar por esta situação depois dos 50 anos é uma grande tragédia.

A geração que está se aposentando agora ganhou em média 30 anos de expectativa de vida - o que é um fato fantástico e um imenso bônus. Mas para quem não se preparar adequadamente para viver este tempo extra, ele pode rapidamente se transformar em ônus.

Espero que você, leitor, tenha uma longa e profícua aposentadoria, mesmo que ela não signifique parar de trabalhar.

Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br


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