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A avalanche de esquemas de corrupção, revelados pela operação Lava-Jato, envolvendo empresas, empresários, políticos e outros agentes públicos, que azeitou a crise política e colocou em xeque a recuperação, ainda que tímida, da economia, impactou as rotinas das áreas de Relações com Investidores (RI) das companhias abertas. Mudanças relatadas por RIs vão desde aumento no volume de comunicados ao mercado, de esclarecimentos aos órgãos reguladores, e até no ‘time’ de atendimento e tipo de informações solicitadas por acionistas e demais stakeholders.
Embora no início as mudanças estivessem restritas ao trabalho de RI das empresas envolvidas na Lava-Jato, o volume e gravidade das revelações, fizeram com que se estendessem para o mercado de capitais de modo geral. Acionistas e stakeholders, principalmente estrangeiros, passaram a questionar, inclusive, a efetividade do compromisso das companhias com práticas de Governança Corporativa inscritas em seus estatutos.
Atender às mudanças exigiu esforço redobrado de equipes de RI e a premiação de várias companhias, realizada pela IR Magazine, que celebra a excelência e a transparência na comunicação das companhias com os investidores, é um reconhecimento de que as novas demandas foram atendidas a contento.
Desde 2001, a IR Magazine vem pesquisando junto a comunidade de investimentos brasileira, visando identificar os principais padrões de Relações com Investidores no país. Ao longo da última década, o programa se expandiu para reconhecer ainda mais aspectos das Relações com Investidores, particularmente as contribuições da alta administração, além de identificar os melhores do setor.
Este ano, as companhias Vale e Randon foram as principais vencedoras do IR Magazine Awards - Brazil 2017. A Randon conquistou três prêmios nas cinco categorias nas quais foi indicada, incluindo: Melhor Website de RI, Melhor Encontro com Investidores, e o Grand Prix de Melhor Programa de RI (small & mid-cap). A Vale, também indicada em cinco categorias, recebeu o prêmio de Melhor Relatório Anual, Melhor Teleconferência e Melhor Website de RI (large cap).
Kroton e Natura receberam dois prêmios cada uma: a Kroton, de Melhor Executivo de RI (Carlos Lazar) e Melhor RI por um CEO (Rodrigo Galindo); a Natura, de Melhor Prática de Sustentabilidade, e Melhor Governança e Transparência. Também foram premiados: Itaú Unibanco que levou o Grand Prix de Melhor Programa de Relações com Investidores (large-cap); Cemig, de Melhor Encontro com investidores (large cap); Petrobras, de Melhor RI para Investidor Individual; e Anima, de Melhor Executivo de RI (Leonardo Haddad).
RI da Vale foca na reestruturação
O trabalho do RI da Vale tem exigido esforços redobrados de sua equipe no relacionamento com os seus stakeholders. A demanda por serviços de RI que já havia sido impactada pelo desastre de Mariana - causado pela Samarco, controlada da Vale há cerca de dois anos - permaneceu intensa por conta da inundação de questionamentos sobre transparência que atingiu o mercado de capitais do país. No caso de Mariana, o trabalho exigiu decisões rápidas e fidedignas de tudo o que estava acontecendo. Agora, o foco do trabalho está operação de reestruturação societária da companhia, que busca afastar dúvidas em relação a sua transparência.
A restruturação, entre outras coisas, eliminará dúvidas sobre a interferência do governo na companhia, devido à presença de fundos de pensão de empresas estatais no seu bloco de controle, de acordo com André Figueiredo, diretor de RI da Vale. Atualmente a Vale é controlada pela Valepar, integrada pelos fundos de pensão, Previ, do Banco do Brasil e Funcef, da Caixa Econômica Federal.
“Com a premiação deste ano, a Vale volta ao topo do ranking de prêmios do IR Magazine e, com o compromisso de continuar evoluindo para, quem sabe, conquistar também outras categorias em 2018. Saí da premiação com uma excelente sensação de dever cumprido”, afirmou o RI.
Conforme Figueiredo, o foco do RI neste momento é apresentar e tirar dúvidas sobre o programa de reestruturação, aprovado em assembleia realizada em junho último. Se a transação tiver sucesso, o controle da companhia será pulverizado no mercado. Pela proposta, que foi apresentada pelos controladores, a Vale se tornará uma empresa sem acionista controlador definido, o que confere mais independência a sua administração, maior proteção e ampliação de poder dos acionistas minoritários, acrescentou.
A reestruturação faz parte do pilar de governança, um dos quatro adotados pelo novo CEO da Vale, Fabio Schvartsman, que assumiu a presidência com o desafio de estabelecer a base para o futuro da companhia. Os demais pilares estabelecidos pelo presidente são: melhor performance para ter operação mais eficiente; estratégia de longo prazo que já está em fase de diagnóstico; e sustentabilidade. Por ser uma mineradora, a Vale tem grande responsabilidade com o meio ambiente, diz Figueiredo.
“Para ter sucesso, a operação precisa ter a adesão de 54,09% dos acionistas preferenciais, o que demanda um trabalho de comunicação gigantesco do RI.” Para dar conta do recado, está contatando seu universo de investidores, dentro da estratégia de atendimento já praticada pela equipe RI, que está segmentada em áreas de fundos ativos, fundos passivos e pessoa física.
Segundo Figueiredo, o objetivo principal dos contatos tem sido esclarecer dúvidas sem se posicionar contra ou a favor da operação. A equipe de RI já entrou em contato com cerca de 680 investidores institucionais, que detêm a maioria das ações preferenciais da empresa. Também foi feito um site especifico para explicar a transação. Para os fundos ativos têm sido realizadas reuniões presenciais e vários roadshows no mundo. Os investidores que não podem participar têm sido contatados por telefone.
Junto aos fundos passivos, o trabalho tem sido com proxy advisors que fazem recomendações de investimento para esses fundos. “Muitos já recomendaram aprovar a transação.” Figueiredo disse que também foi feito contato junto a Amec (Associação dos Investidores no Mercado de Capitais) que, conforme afirmou, respaldou a transação. Junto as pessoas físicas, estão atuando através das corretoras com a realização de cafés da manhã, gravação de vídeos e divulgação do programa de reestruturação em mídias digitais, imprensas e na TV.
Depois da reestruturação, a empresa terá apenas ações ordinárias e em algum momento irá para o Novo Mercado, o mais exigente nível de governança corporativa da bolsa brasileira. O histórico de governança corporativa mostra que empresas com uma governança mais forte, com maior independência e transparência nas tomadas de decisão geram mais valor para os acionistas. Além disso, os acionistas minoritários passam a ter um tag along (direito aos acionistas de vender suas ações pelo mesmo preço dos controladores) de 100%, observa o RI.
Atualmente, o departamento de RI está estruturado em uma diretoria e três gerencias com três pessoas cada uma. “Essa divisão se faz necessária devido à complexidade dos negócios da empresa, que demanda expertise nas áreas de minério de ferro, cobre e níquel e carvão”. Figueiredo faz questão de ressaltar que todo o trabalho do RI é feito internamente - incluindo relatórios em inglês e português, comunicados ao mercado, fatos relevantes e participações em conferências 12 meses por ano.
Ele também ressalta que faz parte do trabalho que realizam, trazer visões do mercado para dentro da companhia para que a empresa possa saber o que está fazendo de bom ou de mal, que é feito com uma soma de competências. “Mistura pessoas com muita experiência na companhia com jovens que trazem novas experiências. Devido a sua complexidade a pessoa para trabalhar no RI da Vale tem que ser empreendedora e ter flexibilidade e coragem de tomar decisões.”
Randon modernizou atendimento
Na Randon, a crise econômica pesou mais sobre a empresa do que a crise política e a descoberta de esquemas de corrupção no país. Como atua no setor automotivo, a empresa sofre mais o impacto da instabilidade e falta de previsibilidade geradas pela crise econômica. Por isso, a preocupação de seus stakeholders ficou mais concentrada na recuperação da economia e menos na crise política.
Geraldo Santa Catharina, diretor Financeiro e de RI da Randon, informou que essa preocupação com a economia aumentou a demanda do trabalho do RI, mas não alterou o tipo de informações solicitadas, que tem se concentrado na performance da empresa no mercado. Para atender essa demanda, “o foco do nosso trabalho foi mostrar como a empresa estava mantendo a liquidez financeira e a reestruturação de custos, que fez para se adaptar a este momento do mercado”.
Falando sobre a premiação, ele disse que o reconhecimento motiva a empresa a trabalhar ainda mais para se manter entre os melhores tanto no atendimento, quanto nas práticas de relações com investidores. Como diferencial de atuação, o diretor de RI da Randon destacou a participação do alto escalão da companhia respondendo a todas as questões colocadas por investidores e analistas. E, ainda a qualidade das respostas da equipe que fala abertamente sobre as dificuldades que a crise atual impôs à empresa.
O diretor de RI da Randon também ressaltou a indicação de Hemerson Fernando de Souza, gerente de Planejamento e de RI, ao prêmio na categoria de Melhor Executivo de RI (small & mid cap), como mais um sinal do reconhecimento do esforço da companhia em elevar o nível de seus executivos. Souza acaba de assumir o cargo de RI na Fras-le, fabricante de autopeças da Randon.
A Randon já havia sido premiada anteriormente em 2011, 2012, 2013 e 2015. Em 2014 foi vencedora de Prêmio Especial - Melhor Desempenho em RI na década (2005-2014). De lá para cá, a companhia promoveu uma revitalização da qual fez parte a modernização do site. “Desenvolvemos um website de fácil acesso, transparência na informação e atualização diária, com interface para informações de mercado, como da bolsa de valores e cotações de moedas e outras.”
Essa modernização demandou a participação de uma equipe interna mais jovem e moderna alinhada com a tecnologia e visão mais apropriada dos novos tempos, acrescenta Santa Catharina. Além disso, a empresa trocou o fornecedor de sistemas, mudança que reduziu o custo e facilitou a atualização. “Com isso as atualizações e demais alteração de sistemas passou a depender mais de nós que do fornecedor.”
A Randon também contratou uma consultoria, a McKinsey, que ajudou na reestruturação da área de suprimentos e fez uma reformulação completa no sistema de seleção e avaliação de gestão. “Foi um esforço para fortalecimento da governança, do compliance e da gestão de riscos. “Além disso, pela primeira vez chamamos os bancos para mostrar com detalhes a nossa estrutura de capital.”
Outro diferencial do programa de RI da Randon é a disponibilização de calendário de eventos muito semelhantes de um ano para outro. Segundo o diretor de RI, a empresa percebeu que manter a programação facilita o conhecimento sobre o que a companhia vai fazer o que facilita a participação dos stakeholders. No ano passado, a companhia participou de cinco conferencias em Nova York e uma no Chile. Também realizou dois roadshows no Brasil e participou de cinco encontros realizados por bancos em São Paulo.
Em seu programa de RI, a companhia busca abranger todos os canais de comunicação, realizando por ano - pelos menos - 10 conferências no Brasil e no exterior. Atende aproximadamente mais de 600 investidores por ano. Realiza quatro conferences calls trimestrais com tradução simultânea para o inglês para apresentar as demonstrações financeiras, atendendo de 100 a 150 investidores. A área de RI é composta por quatro pessoas ligadas ao atendimento e mais duas pessoas que trabalham com a área de finanças para produzir informação para os investidores.
Perguntas sobre política aumentam na CEMIG
Na Cemig, empresa controlada pelo governo de Minas Gerais, a crise política e a Lava-Jato exigiram mais conhecimentos de política de sua equipe de RI para atender aos questionamentos dos stakeholders. Até a gestão do estado de Minas na companhia chegou a ser questionada. O governo mineiro detêm 51% das ações ordinárias (com direito a voto) e 17% do capital total da Cemig, a maior empresa integrada do setor de energia elétrica do país, sendo responsável pela operação de mais de 530 mil quilômetros de linhas de distribuição.
De acordo com Alexandre Eustáquio Sydney Horta, gerente de relações com investidores e governança corporativa da Cemig, a nova demanda de informações exigiu mudanças no atendimento aos stakeholders. Foi necessário um alinhamento maior do time de RI, que na prática, significou participação mais ativa da equipe em fóruns especializados de discussão de política e uma interação maior com o departamento jurídico da companhia. Também demandou mais discussões com os analistas.
Graças as suas práticas de governança corporativa, a Cemig não foi atingida pela Lava-Jato, ressalta Horta. Entre essas práticas, ele destaca a elaboração de planos de longo prazo, dispositivos de controles previstos no seu estatuto social e a composição equilibrada do Conselho de Administração. Atualmente, dos 15 membros do Conselho, sete são indicados pelos acionistas minoritários e pelo menos cinco são independentes pelos critérios do Dow Jones e do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3.
Para Horta, receber o prêmio do IR Awards, “coroou de êxito o empenho do time de RI da companhia em mostrar a realidade da empresa”. Ele observa que hoje aqueles questionamentos ficaram para trás. Agora, os principais questionamentos versaram sobre os fundamentos da companhia como balanço de energia, refinanciamento de dívidas, programas de investimento e desinvestimento. Foi o que mostrou o Encontro Anual da companhia, evento que está entre os destaques da atuação do RI, conforme Horta.
A 22ª edição do Encontro Anual, realizada este ano, ocorreu no Ouro Minas Palace Hotel, em Belo Horizonte, e contou com a participação de aproximadamente 90 convidados do mercado financeiro. O evento tem tradução simultânea para o inglês e tem ao mesmo tempo sua apresentação publicada na CVM e no site da companhia em inglês, português e espanhol.
“Ano a ano, a Cemig procura aproximar a alta gestão dos analistas e investidores. Ultimamente temos utilizado o formato “talk show”, o que permite que os fundamentos da companhia fiquem bem claros para os participantes e ouvintes, ao mesmo tempo em que lhes propicia a oportunidade de questionar e sanar suas dúvidas direta e informalmente com os administradores.”
O departamento de RI da Cemig é composto por um superintendente, dois gerentes, sete analistas e três técnicos. Está dividido em duas gerências: de mercado e investidor pessoa física, e de governança. Realiza cerca de 600 reuniões por ano, incluindo todos os tipos de comunicação: atendimento aos investidores institucionais e analistas de mercado através de contato telefônico, roadshows, reuniões conjuntas com a Apimec, conferências nacionais e internacionais. E ainda, apresentações para os empregados da companhia a cada divulgação trimestral, ou quando se fizer necessário.
Também realiza atendimentos, que envolvem a observância à legislação, regulação (CVM, B3, NYSE, LATIBEX), através de disponibilização de informações na CVM, no site de RI e em jornais ou outros veículos de comunicação. Além disso, participa de associações como ABRASCA, IBRI, IBGC, APIMEC e ICGN, seja como membros ou colaboradores, visando ao aprimoramento do mercado investidor e da atividade de RI, bem como da governança corporativa das empresas, acrescenta Horta.
Itaú: crise aumenta atendimentos do RI
O trabalho de RI do Itaú Unibanco, que este ano mais uma vez foi premiado pelo IR Magazine, também sofreu o impacto da crise política e das crescentes revelações de esquemas de corrupção. Segundo, Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do banco, o trabalho aumentou e houve mais questionamento, mas não foi necessário aumentar a equipe.
Segundo ele, a nova demanda gerou um aperfeiçoamento na divulgação dos fatores e riscos do banco, que estão no Form 20 F e no Formulário de Referência. “Faz parte da cultura da nossa organização a transparência e, com base neste alinhamento, o RI vem atuando inclusive nestes temas, sempre respeitando a regulamentação aplicável à divulgação de qualquer tipo de informação”.
Emissor de uma das ações mais líquidas negociadas na bolsa brasileira, a B3, o Itaú Unibanco, além de vencer a premiação do IR Awards 2017 na categoria Melhor Programa de RI, também foi indicado em mais seis categorias: Melhor Relatório Anual, Melhor Encontro com Investidores, Melhor Prática de Sustentabilidade, Melhor Website de RI, Melhor Teleconferência e ainda, Melhor RI por um CEO, para Roberto Setubal.
Todo esse reconhecimento, da premiação às indicações, deveu-se à estratégia de atuação do banco que está ancorada na busca de aperfeiçoamento constante das interações com o mercado. Conforme o diretor de RI, “buscamos estar perto dos nossos públicos e somos sensíveis às diferentes ênfases e enfoques utilizados”.
Essa prática pode ser vista na inclusão de materiais específicos na divulgação de informações sobre o banco e ainda nas visões mais completas presentes no Relato Integrado. Além disso, ele ressalta o trabalho do RI na análise do feedback de sua atuação, que eventualmente é ponto de partida para mudança no programa de RI, e ainda a realização de reuniões e “non-deal roadshows” focados em investidores SRI.
Sobre os diferenciais que levaram à premiação, Kopel cita a trajetória consistente ao longo do tempo, atendimento tempestivo e transparente aos analistas, investidores, acionistas e público interessado nas ações e ADRs do banco. “Nossa organização tem consciência da importância de estarmos próximos ao mercado e de sermos transparentes e ágeis. Isso se traduz em acesso aos nossos executivos, além de todo apoio ao time de RI.”
A atuação do RI do Itaú Unibanco inclui a participação em inúmeras conferências no Brasil e no exterior, realizações de Apimec’s, além de teleconferências trimestrais com o mercado. “Para viabilizar esta agenda intensa junto ao mercado, o banco investe constantemente na formação da equipe, por meio de treinamento formal e, principalmente, no treinamento “on the job”, que possibilita termos profissionais capacitados para representar bem nossa organização.”
Kopel destaca ainda que a área de RI do banco possui tanto uma vertente de atendimento como inteligência de mercado. A diretoria de RI, integrada por uma equipe de 20 pessoas, está dividida em duas superintendências, sendo que uma é focada no atendimento a investidores institucionais, análise de concorrência e MD&A. A outra trabalha com atendimento a pessoas físicas e agências de rating de crédito e SRI, relatórios regulatórios e canais de comunicação (site, Facebook, e-mails alerts, etc).
Educação: Kroton e Anima
O setor de educação foi atingido com intensidade pela crise econômica, que acarretou mudanças regulatórias principalmente no FIES (Fundo de Financiamento Estudantil do governo federal). A crise política e a Lava-Jato, porém, não tiveram impacto significativo nos serviços prestados pelo RI das duas empresas do setor premiadas pelo IR Magazine 2017: Kroton e Anima.
O diretor de RI da Kroton, Carlos Lazar , informou que não houve alteração ou aumento no trabalho da empresa por conta da Lava-Jato. “Apenas ficamos totalmente disponíveis para dúvidas e perguntas, mesmo quando não eram diretamente vinculadas com a Kroton e não foi necessária mudança na rotina de trabalho.”
Segundo ele, a empresa - líder na área de educação no Brasil e no mundo com uma trajetória de mais de 45 anos na prestação de serviços no ensino básico e de mais de 10 anos no ensino superior – continuou a trabalhar para garantir retorno adequado aos seus investidores. Em 2016, o retorno sobre o patrimônio da Kroton foi de 12,8% em 12 meses, conforme fontes do mercado.
Leonardo Haddad diretor de RI da Anima, também informou por e-mail que não houve alteração no trabalho de RI da companhia por conta da crise política e da operação Lava-Jato. Também não houve mudanças no volume ou perfil das demandas dos investidores. A Anima é uma das maiores organizações educacionais privadas de ensino superior do país, tanto em termos de receita como em número de estudantes matriculados, de acordo com a Hoper Educação.
Sobre a premiação, o RI da Kroton destacou como diferencial a disponibilidade de atendimento, a transparência na comunicação ao mercado e o envolvimento de toda administração da companhia nas atividades de RI.
No caso da Anima, na avaliação de Haddad, o prêmio foi um reconhecimento da transparência e comprometimento, além do envolvimento e disponibilidade de todas as equipes da Anima, para ajudar a atender os investidores da melhor forma. Haddad ressalta que em qualquer divulgação de resultado ou fato relevante, a empresa informa o mercado de forma simultânea e simétrica.
A equipe de RI da Kroton conta, atualmente, com três profissionais. A área de RI realiza todos os atendimentos aos acionistas. “Realizamos dez conferências e quatro roadshows ao ano. Também fazemos sight visits (visitas nas unidades) e realizamos um Investor Day por ano, que conta com participação de mais de 300 pessoas por edição”, de acordo com Lazar. Atualmente, 75% dos investidores da Kroton são estrangeiros.
Segundo o Haddad, a equipe de RI da Anima é composta por duas pessoas que participam de aproximadamente 15 conferências anuais, além de roadshows no Brasil e em outros países. “Nossa principal atividade é o atendimento às demandas dos investidores, em que buscamos sempre nos antecipar e agir de forma proativa, transparente e cuidadosa, para que nunca haja informação privilegiada.”
Natura vence desafios
A Lava-Jato e a crise política não impactaram o trabalho de RI praticado na Natura. Segundo seu diretor de RI, Marcel Goya, a empresa “sempre esteve comprometida com o cumprimento das leis nacionais e internacionais aplicáveis para combate à corrupção e suborno em todos os locais onde operamos”.
A área de RI da Natura comemorou o prêmio do IR Awards 2017, de Melhor Prática de Sustentabilidade e Melhor Governança e Transparência, como um reconhecimento de seu compromisso com a transparência das informações disponibilizadas ao mercado. A Natura foi a primeira companhia de capital aberto a se tornar Empresa B, ou B Corp, um novo tipo de empresas que usa o poder de seus negócios para resolver problemas sociais e ambientais.
Os desafios têm levado à inovações importantes e esse é um diferencial da Natura no mercado, conforme Goya. “Os desafios da sustentabilidade são vistos como oportunidades para o desenvolvimento de um modelo guiado pela geração de impacto positivo nas esferas social e ambiental. Esse objetivo levou à criação do Programa Carbono Neutro, que completa uma década em 2017”.
No programa a empresa quantifica as emissões em todo o processo produtivo, da extração de matérias primas até o descarte de produtos pelo consumidor, implementando ações para reduzir e compensar emissões ao considerar não apenas seus processos próprios, como também de toda sua cadeia produtiva. “Como resultado já reduziu em 33% suas emissões de gases de efeito estufa entre 2007 e 2013, e agora tem como objetivo reduzir em mais 33% as emissões até 2020.”
Goya observa que desde 2015 a empresa se empenha em mensurar os impactos ambientais, para ter um diagnóstico profundo de sua situação atual e embasar nossas decisões futuras. “Elaboramos um estudo para contabilizar, em reais, os efeitos do negócio e suas consequências finais para a sociedade, a partir das emissões de gases de efeito estufa, do uso da água, de resíduos e do uso e ocupação do solo, por meio da metodologia do EP&L (Perdas e Ganhos Ambientais, em português). Somos a primeira empresa da América Latina a realizar esse estudo e fomos pioneiros em abranger toda a cadeia de valor, incluindo a etapa de uso dos produtos pelos consumidores.”
Na governança, o prêmio foi um reconhecimento do engajamento da Natura na criação de um ambiente de negócios ético e transparente. Goya conta que há mais de dez anos, a empresa estabeleceu a ouvidoria, o código de ética e os princípios de relacionamento com os principais públicos com os quais nos relacionamos. “Desde 2015 a empresa passou a contar com uma área de compliance, dentro da diretoria jurídica, além de fortalecer o canal de denúncias de corrupção”. Os casos recebidos são avaliados e discutidos no Comitê de Ética, instância de apoio ao Comitê Executivo.
Segundo o diretor de RI, tanto o Código de Conduta quanto as principais políticas da Natura, como de negociação, transações com partes relacionadas, dividendos e divulgação estão na página de Relações com Investidores da companhia. Além disso, ele ressalta que todos os fornecedores também passam pelo treinamento sobre o Código de Ética da Natura.
Em 2016 a Natura foi considerada uma das 100 companhias mais sustentáveis do mundo pelo sétimo ano consecutivo, segundo o levantamento Global 100, realizado pela empresa canadense de mídia e pesquisa Corporate Knights. A empresa é a única companhia brasileira de cosméticos a figurar na lista. “A cada dia nos desafiamos a ser uma empresa melhor, por isso estabelecemos uma visão de futuro e nos comprometemos com a geração de impacto social e ambiental positivo”, diz o diretor.
Petrobras: RI foi até psicólogo
O departamento de RI da Petrobras viveu tempos difíceis a partir da revelação do extenso esquema de corrupção na empresa revelado pela operação Lava-Jato. A demanda pelos serviços prestados pelo RI deu um salto, ao mesmo tempo em que a equipe foi reduzida, em decorrência do programa de corte de custos, que a empresa precisou adotar para enfrentar sua derrocada financeira e a desmoralização no mercado provocadas pela corrupção.
A equipe perdeu 10 pessoas ao mesmo tempo em que teve que lidar com aumento da comunicação ao mercado e de esclarecimentos solicitados pelos reguladores, principalmente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil e da SEC (Securities Exchange Commission) nos Estados Unidos. Atualmente, 50% de seus investidores estão na América do Norte, 30% no Brasil e o restante na Europa e Ásia. O número de comunicações ao mercado, que historicamente ficava na faixa 100 a 150, chegou a 314 em 2015.
Além disso, a demanda por informações ficou mais exigente, complexa e até curiosa. “O RI teve que atuar até como uma espécie de psicólogo. Um grande número de investidores não procurava apenas por informações, queriam alguma espécie de consolo, e/ou reclamar e desabafar”, contou Isabela Mesquita, gerente executiva de RI da Petrobras, que responde por todo o RI da empresa e se reporta ao diretor financeiro e de relacionamento com investidores.
“O RI era questionado todo o tempo sobre qual seria o impacto da Lava-Jato no desempenho da Petrobras, sobre o que estava sendo feito para melhorar a governança, o compliance e os controles internos”. A situação exigiu mudanças na atuação, como resposta tempestiva aos questionamentos dos investidores e ainda a realização de um trabalho externo e interno muito grande, com foco no resgate da credibilidade da empresa.
De acordo com Isabela, o prêmio de Melhor RI para Investidor Individual, do IR Awards 2017, é um reconhecimento do esforço e do trabalho da equipe de RI. Como diferencial da atuação no pico da crise ela aponta o fato da equipe não ter sumido na crise. “O RI não sumiu. Ficou próximo dos stakeholders o tempo todo”. Na atuação atual, aponta a proatividade e a busca de proximidade, com diferenciais de atuação da equipe de RI no mercado.
Hoje o investidor já separa a companhia da operação Lava-Jato e os questionamentos focam mais no desempenho da companhia. “Os investidores estrangeiros agora querem saber da estratégia de longo prazo e estão interessados nas questões de sustentabilidade e de governança. Já os investidores brasileiros estão mais preocupados como a saída da crise e em como serão atingidas as metas previstas para 2018 no plano de recuperação da companhia. Entre as metas estão: reduzir para 2,5 o índice de endividamento líquido sobre o Ebtida, hoje de 3,2.“
Este ano a empresa retomou a realização do Investor Day, com um evento realizado em São Paulo e já tem dois outros previstos para o segundo semestre: um em Londres e outro em Nova York. No Investor Day de São Paulo foi destacado o que mudou na governança e o estudo para entrar no Novo Nível II da B3 (resultado da combinação de atividades entre a BM&FBovespa e a Cetip). O evento faz parte de uma gama de atividades desenvolvidas pelo RI da Petrobras.
Entre elas, Isabela cita o evento realizado para analistas que queiram aprimorar conhecimento de moldagem da companhia, além de reuniões de grupos de private banking com investidores individuais. Também procura participar do maior número possível de conferências de equities e de renda fixa. Tem ainda realizado roadshows com a participação do CEO e da alta administração para mostrar o plano de negócios da companhia. “Esse ano já fizemos roadshow nos Estados Unidos.”
A filosofia de trabalho do RI é focar na proximidade com alta administração da companhia, proatividade e proximidade com os investidores. A proximidade - e o diálogo com a alta administração - permite de um lado relatar a opinião dos investidores aos altos executivos e em contrapartida levar a posição deles para os investidores, observa Isabela.
O departamento de RI da Petrobras conta com uma equipe de 30 pessoas. Está dividido em 4 gerências mais o escritório em Nova York. Cada gerência tem de cinco a seis pessoas. A gerência de atendimento a investidores institucionais está encarregada da realização de contatos, conferências, roadshow e outros eventos, relatórios trimestrais. A gerência de Investidores Individuais faz atendimento presencial, por telefone e e-mail, cuida das assembleias e do contato com os bancos depositários. O atendimento por telefone tem uma média mensal de 250 chamadas, por e-mail de 150, e os presenciais cinco.
Tem ainda a gerência de Atendimento aos Órgãos Reguladores, responsável pela elaboração de todos os relatórios, e a gerência de Divulgação ao Mercado que cuida dos fatos relevantes, comunicados e o site de RI. O escritório de Nova York foi aberto dada presença significativa da base acionária na América do Norte.