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Ponto de Vista |
Sempre acessível, Ronaldo Augusto da Frota Nogueira ajudou a formar vários jovens jornalistas, como eu, sempre destacando a importância da pulverização da base acionária.
Um jornalista depende de suas fontes. Nenhuma verdade é tão absoluta quanto esta no caso da carreira jornalística. Tive o grande privilégio de conviver com relevantes nomes da Economia brasileira e, mais especificamente, do mercado de capitais ao longo de 30 anos de carreira. Sem a paciência e dedicação destas pessoas, dificilmente teria conseguido chegar até aqui. Para completar a conjunção de astros favoráveis, também tive alguns dos melhores editores neste segmento, nomes como: Ricardo Bueno, Luiz César Faro, Coriolano Gatto, Miriam Leitão, Cristina Calmon, Altair Thury, Cláudia Reis, José Casado, Cristina Konder, Ricardo Boechat, Augusto Nunes e tantos outros.
Arrisco prever que dificilmente a nova geração de colegas jornalistas contará com tal privilégio profissional. Seja por um cenário cada vez mais hipermidiático - com tecnologias ocupando lugar do bom e velho contato pessoal -, seja pelo triste e lamentável desaparecimento de títulos históricos de mídia, como o secular Jornal do Commércio, o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil (apenas para citar alguns). Os tempos são outros e este não é um artigo para falar de saudosismo. Se tem algo que aprendi ao longo da carreira foi evitar falar do ontem com um viés de nostalgia, mas sim com o aprendizado histórico, mirando sempre no futuro. Avanços devem ser valorizados.
Lembro dos bons tempos da sala de imprensa da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, na Praça XV, nos anos 90. Do mercado de capitais pujante, de fontes atenciosas, da corrida diária e da busca por grandes reportagens. Não sei bem dizer em que momento conheci Ronaldo Nogueira, mas arrisco dizer que tenha sido ainda bem novata, uma “foca”, como se chamam os jornalistas iniciantes, tão aguerridos para o trabalho, quanto, ao mesmo tempo, zonzos correndo o risco de “tropeçar” em dúvidas e possíveis erros.
Justamente por isso, as fontes de credibilidade e com experiência se tornam tão essenciais. Era preciso entender e acompanhar as mudanças da Economia e do mercado e não foram poucas estas transformações vividas. Inflação galopante, planos econômicos, operações sofisticadas, leilões de privatização, fundos de capitais estrangeiros, abertura do capital de várias companhias foram apenas alguns dos temas relevantes que tomavam conta do noticiário ao longo daquele período.
Os telefones celulares ainda estavam surgindo e era preciso ter um bom caderno de telefones e contatos com fontes que pudessem ajudar a esclarecer os mais variados assuntos. Fiz um caderninho preto, folha de fichário que ia crescendo de acordo com novas fontes. Sei que Ronaldo foi um dos primeiros porque seu nome está logo na abertura da letra “R”, no alto, com a importância e a antiguidade do posto de fonte tradicional.
O economista me abriu os olhos para os elos entre o Brasil e a globalização, destacando o papel das empresas nacionais neste cenário. Apresentou-me ao norte-americano William F. Mahoney, autor de livros e manuais sobre Relações com Investidores e um guru neste tema. Mais do que isso, abriu-me a mente para assuntos, os quais tantos se transformaram em matérias de destaque. Não queria aparecer: era generoso a ponto de apenas ajudar, indicar, orientar.
Volta e meia marcávamos algum almoço, ali mesmo, no Centro do Rio, perto do seu escritório, normalmente na tradicional Casa Ulrich. Éramos parceiros até mesmo no prato: dividíamos uma boa salada com atum. Comida frugal para uma conversa sempre intensa de assuntos sérios. Lembro de sua preocupação com os minoritários, suas orientações para que eu jamais esquecesse da relevância de ampliar a base do ainda hoje restrito mercado de capitais para todos. E chamava um garçom conhecido e perguntava porque ele não tinha ações, que respondia sobre o desconhecimento das regras e medo do risco. “Caderneta de poupança não é o caminho do Brasil do futuro”, me alertava.
Mais do que fonte, Ronaldo tornou-se amigo, referência. Fiquei amiga da família toda, apresentei-o a outros jornalistas, principalmente os que estavam começando, como eu, um dia. Tinha um jeito de lorde inglês, mas, sem esquecer, jamais, a origem cearense mas com a alma e o astral tão cariocas. Num destes últimos encontros informais, no ano passado, me mostrou os sapatos, mocassins legítimos, mas sem meia. “Olha em volta e vê quem está sem meia”, brincou. Era assim: sempre divertido, inteligente, um brasileiro de dar orgulho diante de tempos de tão pouco por se orgulhar.
Vai na luz, amigo. Acho que você sempre soube disso o tempo todo. Mas deixo aqui o meu reconhecimento público. Obrigada pela paciência com esta jornalista.
Sônia Araripe
é jornalista com especialização em Economia, mais especificamente, Mercado de Capitais. Ao longo de 30 anos de profissão, trabalhou nas principais redações do País, como Jornal do Commércio, O Dia, TV Globo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil, onde chegou ao cargo de Editora de Economia e depois de editora-executiva. Formada em Jornalismo pela UFRJ, tem dois MBAs - Comunicação Empresarial (PUC-MG) e Meio Ambiente (FGV) - e Curso de Extensão em Jornalismo Econômico na Universidade de Miami. Há 10 anos fundou a Plurale - revista e site - uma das principais mídias em Sustentabilidade.
soniaararipe@plurale.com.br