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A trajetória do “apóstolo” Ronaldo Augusto da Frota Nogueira e as suas “epístolas” no reino das Relações com Investidores
Ronaldo Augusto da Frota Nogueira, falecido aos 79 anos - no último dia 10 de outubro de 2017, nasceu em Fortaleza (Ceará) no dia 31 de julho de 1938. Na infância morou em Montevideu (Uruguai) e Pelotas (Rio Grande do Sul) - e, em 1948 mudou-se para o Rio. Em 1959, aos 21 anos, passou um ano na Europa, estagiando em bancos na Suécia e na Alemanha. Em 1961, formou-se em economia pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, no Rio. Em 1966 passou um ano em Nova York, onde estudou no Graduate School of Business Administration da New York University, e estagiou nos bancos de investimentos Smith Barney e Kuhn Loeb. Durante sua vida profissional, além de trabalhar em instituições do mercado de capitais no Brasil, tendo sido fundador da ABAMEC (atual APIMEC), do IBRI e do INI, em 1986 fundou, com seu filho Ronnie Nogueira, a IMF Editora, tendo publicado diversos livros, manuais e anuários voltados à formação, divulgação e disseminação de informações sobre o mercado de capitais brasileiro no Brasil e no exterior, tais como as publicações: Guia IMF Companhias Abertas, Brazil Company Handbook, Manual do RI, Revista RI, entre outros títulos. De 1989 até 2016 foi diretor de diversos fundos de investimentos estrangeiros, incluindo: o Brazil Fund, o Korea Fund, o Sovereign High Yield Investment Company, entre outros.
Os apóstolos cristãos foram homens judeus que teriam sido “enviados” por Jesus para pregar o Evangelho em todo o mundo, sendo responsáveis pela influência e a importância histórica que a religião assumiu. Paulo de Tarso, mais conhecido como São Paulo, é considerado, por muitos, como o principal discípulo e difusor das idéias de Jesus. As suas Epístolas formam uma secção fundamental do Novo Testamento.
Preferências religiosas a parte, se fossemos fazer uma metáfora com a difusão da atividade de Relações com Investidores no Brasil, poderíamos considerar Ronaldo Nogueira, o São Paulo, a Revista RI a sua epístola e os livros de William F. Mahoney: MANUAL DO RI - Princípios e Melhores Práticas de Relações com Investidores, e RELAÇÕES COM INVESTIDORES - O Guia dos Profissionais para Marketing Financeiro e Comunicação as bíblias. Vejamos a sua trajetória e tiremos nossas conclusões.
Como tudo começou
Formado em Economia pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil (atual UFRJ), no Rio de Janeiro, quando o curso ainda funcionava na Rua Marquês de Olinda em Botafogo, antes de ser transferido para a Urca, no Campus da Praia Vermelha, Nogueira foi aluno de grandes referências do pensamento econômico brasileiro como: Eugênio Gudin, Roberto Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. Além de ter sido colega dos então alunos, depois professores titulares, Carlos Lessa, ex-reitor da UFRJ e ex-presidente do BNDES e Maria da Conceição Tavares. Teve uma formação privilegiada.
Desde estudante, Ronaldo demonstrava interesse pela área financeira e de mercado de capitais, prospectando trabalho sempre nesse setor. A sua primeira experiência profissional foi como corretor da bolsa, que na época, funcionava como um “regime feudal”. Para atuar tinha que ter o símbolo de preposto. Negociou com um corretor, Júlio Lips da Cruz, que não tinha sucessores, participação nos negócios, conseguindo a sua nomeação como corretor preposto. A forma como funcionava a bolsa, incomodava-o: “Era uma “bagunça”, tinha sujeito que no pregão declarava: “Vendo apartamento”, lembrava Nogueira.
Tio Bulhões
Mudanças eram necessárias. Inconformado, ligou para o Ministro da Fazenda Octávio Gouvêa de Bulhões, que chamava de “tio”, pois era parente da família de sua esposa (Tita), explicando a situação, que, sensível ao assunto, convidou-o para jantar. Após o encontro, Bulhões pediu para que Ronaldo preparasse um relatório com todas as propostas e idéias que haviam discutido. O seu espírito de Relações com Investidores começava a aparecer.
Durante 15 dias ficou estudando e preparando o relatório para entregar ao Ministro, que só deu a devida importância após uma “alfinetada” da Tia Tuniche (a tia do Bulhões - Antonieta de Bulhões Gouvêa Pinheiro - que era a avó da esposa do Ronaldo), que morava no mesmo prédio do Ministro, na Rua Raul Pompéia, em Copacabana, e tinha muito contato com Nogueira, pois adorava os seus bisnetos, dentre eles, o conhecido diretor editorial da Revista RI, Ronnie Nogueira, então com um ano e meio de idade, e seu irmão mais novo Rik - e ia sempre vê-los.
Numa dessas visitas, ao perguntar sobre o retorno obtido com o relatório entregue ao Ministro, Ronaldo respondeu: “até agora, não tive nenhuma resposta, mas só se ele (Bulhões) tiver “muito peito” e coragem é que irá fazer o que eu sugeri”, desafiou. Ao receber este recado de sua Tia Tuniche, na mesma hora, o Ministro leu o documento, que tinha engavetado, e determinou que fosse criado um grupo de trabalho para realizar um estudo. O rascunho deste relatório, escrito a mão, em folhas de caderno, está guardado até hoje, na biblioteca de seu escritório.
Participaram do grupo de trabalho, além do próprio Ronaldo Nogueira, Ney Souza Ribeiro de Carvalho (Bolsa de Valores do Rio), Ernesto Barbosa Tomanik (Bolsa de Valores de São Paulo), Denio Chagas Nogueira (SUMOC), Ary Waddington (preposto do corretor Henrique Guedes de Mello), Pedro Leitão da Cunha (diretor de companhia de investimentos), José Cavalcanti Neves (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional), Sérgio Augusto Ribeiro (Caixa de Amortização) e Norman Poser (representante da NYSE). O trabalho realizado foi a base para a criação da Lei nº 4.728, a Lei do Mercado de Capitais, de 14 de julho de 1965, que disciplinava o mercado de capitais e estabelecia medidas para o seu desenvolvimento.
De vilão a herói da bolsa
O estudo foi visto muito positivamente pelos demais ministros, que resolveram publicá-lo no jornal, “como numa novela”, parte a parte do estudo. No último capítulo, saía publicado o nome dos participantes. A proposta era de colocar “ordem na casa” e acabar com toda a “mordomia” da Bolsa de Valores. Ronaldo lembra que quando chegou no dia seguinte ao seu escritório na bolsa, tinha sobre a sua mesa, uma carta como se ele estivesse pedindo demissão (pois como preposto não poderia ser demitido) para ser assinada. Esta carta chegou ao conhecimento do Ministro, que repreendeu imediatamente o Presidente da Bolsa do Rio, dizendo que não admitia pressão ao seu grupo de trabalho.
Apesar disso, Ronaldo passou a ser considerado persona non grata na bolsa e, sem nunca ter assinado a carta de demissão, afastou-se por um breve período, no qual trabalhou na Caixa de Amortização, e foi para Nova York fazer um curso sobre Mercado de Capitais de um ano, na New York University patrocinado pela USAID e financiado, em parte, pelo BNDES, onde teve oportunidade de vivenciar uma estrutura mais séria e profissional de mercado, além de ter sido aluno de Edward Demming, criador do conceito de qualidade total. Fizeram também este curso o Júlio César Belisário Vianna e Ricardo Marques, que, assim como Nogueira, participaram posteriormente da fundação da ABAMEC (Ronaldo Nogueira foi o membro de número 4).
Quando Nogueira voltou ao Brasil, o estudo já tinha se transformado na Lei do Mercado de Capitais - no. 4.728/65. De vilão da bolsa, passou a ser visto como herói. Continuou atuando como corretor, trabalhando, dentre outras, na corretora Ney Carvalho e na Marcelo Leite Barbosa, considerada a Merrill Lynch brasileira.
Globetrotter
Na Bolsa de Valores do Rio, era responsável pela organização de eventos. Promoveu diversos seminários pioneiros na época, sobre: Bolsa de Mercadorias e Futuros, Fundos de Investimento, Bancos de Investimento, Offshore, entre outros. Estes seminários geravam uma ampla visibilidade e uma rede de relacionamento em nível de presidência com todo o mundo. Nesta sua atividade de Globetrotter pelo mundo dos investimentos, além de ter sido representante de um banco inglês (European Banking Company), conheceu, no final dos anos 1980, o responsável em lançar o Korea Fund, que ao lançar similar no Brasil, convidou-o para ser diretor do Brazil Fund, que contou também com a participação ativa de Daniel Dantas, então diretor do Banco Icatu, profissional que, polêmicas a parte, Ronaldo considerava um “craque”.
Ao participar de um seminário internacional no Centro de Estudos Estratégicos em Washington, sobre as barreiras que impediam os investimentos no Brasil, foram abordados os pontos comuns, como: societários, contábeis, jurídicos, financeiros, da credibilidade das instituições. A conclusão foi de que mesmo com todos esses pontos equacionados, não ocorreria investimento estrangeiro, pois faltavam informações sobre as empresas e o mercado brasileiro. Como solução, um diretor da seguradora Prudential forneceu um exemplar do anuário “Japan Company Handbook”, e sugeriu a Ronaldo uma publicação similar no Brasil. Daí foi criada a IMF Editora, e produzido o primeiro Guia IMF Companhias Abertas e, na seqüência, o Brazil Company Handbook.
Na varanda com o Mahoney
Em 1994 a IMF promoveu o primeiro seminário de Relações com Investidores no Brasil, convidando empresas estrangeiras listadas na Bolsa de Nova York com características semelhantes as companhias abertas brasileiras, com controle familiar e capital pouco pulverizado para participarem; além de conferencistas diversos e profissionais de Relações com Investidores para esclarecer melhor sobre a importância desta atividade.
Nesta ocasião, ao organizar todo o material coletado ao fim do seminário, de maneira casual, tomou conhecimento de um livro trazido por Lou Thompson, então presidente do NIRI (National Investor Relations Institute) sobre Relações com Investidores. Era o livro do William F. Mahoney: Investor Relations: The Professional’s Guide to Financial Marketing and Communications. O pensamento de Mahoney “caiu como uma luva” no que se discutia no Brasil. Ronaldo, então, entrou em contato para adquirir os direitos autorais do livro junto à editora, para traduzi-lo e publicá-lo no Brasil.
O IBRI
Neste momento já começava a nascer a idéia de criar o IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores), na época o nome seria ABRI (Associação). Ronaldo conta que a “semente” da idéia nasceu junto com o seu filho Ronnie Nogueira em seu escritório, na sede da IMF Editora no Rio, onde traduziram juntos os “estatutos” do NIRI, adaptando-o para o Brasil – e, selecionaram e enviaram uma carta para umas 30 empresas brasileiras explicando a proposta. O retorno foi imediato. A White Martins e, principalmente, o Banco do Brasil deram total apoio a idéia, tendo sofrido uma pequena resistência por parte da ABRASCA, que tinha a proposta de criar um departamento próprio de Relações com o Mercado. Ronaldo relembra como foi: “Após eu e o Ronnie termos enviado a carta, o diretor financeiro do Banco do Brasil, Gilberto Caetano, ligou dando total apoio a iniciativa, e marcou uma reunião. Patrocinaram o lançamento do livro do Mahoney, houve um acordo com a ABRASCA e criou-se o IBRI”.
Quando o IBRI foi fundado, em 1997, foi feito um seminário no Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, sobre Relações com Investidores com a participação do William F. Mahoney. Nogueira convidou-o para passar o final de semana em Nogueira, Petrópolis, onde, na varanda de sua casa, discutiram a criação da Revista RI, que, inicialmente, seria uma newsletter, similar a publicada pelo NIRI, que na época era editada pelo próprio Mahoney. Em março de 1998 saiu o primeiro número da Revista RI, então uma parceria do IBRI com a IMF Editora, tendo Mahoney como editor internacional. Hoje, já são quase 20 anos de publicações mensais ininterruptas.
Cultura de RI
Para Nogueira, as empresas brasileiras precisam sempre estar sendo educadas para a área de RI, que, em alguns casos, ainda não é vista como uma atividade estratégica, criadora de valor, restringindo-se, algumas vezes, a serviços operacionais como: preparação de relatórios, prestação de contas a CVM, criação de sites, reuniões com analistas entre outras. Atividades necessárias, porém não suficientes para um bom trabalho de RI, cuja principal função é, ou, pelo menos deveria ser, a de criar valor para a companhia. Prova disso é que, ainda hoje, em períodos de crise um dos primeiros profissionais a serem cortados é da área de RI.
Ronaldo considerava que esta visão de RI é importante para profissionais que atuem em qualquer área. “Se um vendedor ou, até mesmo, um porteiro aplicarem esta visão de RI em sua atividade, irão se destacar dos demais. “É um diferencial” afirmava, lembrando que a educação é fundamental para desenvolver o mercado e que o medo do desconhecido é que afasta os investidores, por isso impulsionou a criação do INI – Instituto Nacional de Investidores, em parceria com a NAIC (National Association of Investors Corporation), cujo fundador Thomas Ohara, foi um grande influenciador.
É impressionante a trajetória de Ronaldo Nogueira como propagador das melhores práticas profissionais no mercado de capitais brasileiro. Participação ativa na Lei nº 4.728 - a Lei do Mercado de Capitais, na fundação da ABAMEC, do IBRI e do INI. Sua importância é histórica. Diante de tudo isso, no Reino das Relações com Investidores do Brasil, Ronaldo Nogueira pode ser considerado o principal apóstolo, que com a suas bíblias (livros do Mahoney) e as suas epístolas (Revista RI, seminários, cursos e publicações da IMF), catequizam o mercado e difundem a atividade de RI.
Então, o saudemos: AVE NOGUEIRA!
(*) Matéria revista e atualizada, de autoria de Marcelo Martins Guimarães, originalmente publicada em 06/08/2009 no Blog “Jornal de Educação Empresarial”, ligada ao grupo de pesquisa do Laboratório de Educação Estratégica Empresarial, do curso de Administração da UFRJ.
Depoimentos sobre RONALDO NOGUEIRA
“Ronaldo Nogueira desde que o conheci, há muitos anos atrás, sempre foi um guerreiro do mercado de capitais. Esteve sempre presente nas discussões mais relevantes para o crescimento do mercado. Seu último e grande legado foi a Revista RI que criou há quase vinte anos e soube enfrentar as dificuldades para mantê-la com grande qualidade como a principal publicação do setor. Com certeza sentiremos sua ausência e atitudes ponderadas.” - Alfredo E. Setúbal, presidente da Itaúsa
“A trajetória de Ronaldo Nogueira no mercado de capitais engrandece a história no Brasil. Conheci Ronaldo na década de 80 e a partir daí criamos intensa amizade até os dias de hoje, quando nos encontrávamos mensalmente para almoçar junto com outros ícones de nosso mercado. Fomos colegas de diretoria da Abamec/Apimec e conselheiros, quando ele teve oportunidade de criar a Certificação de Analistas e inúmeros aperfeiçoamentos do mercado. Tinha grande trânsito na CVM, identificado como alguém que sempre tinha sugestões brilhantes. Para dar um exemplo, sua Revista RI tornou-se um marco de imprescindível leitura. Vá em paz meu amigo, qualquer dia nos encontraremos...” - Álvaro Bandeira, analista de investimentos e diretor do Banco Modal
“Criativo, inovador, sempre ativo e entusiasmado com o desenvolvimento do mercado de capitais. É desta forma que consigo definir o amigo e grande profissional Ronaldo Nogueira, com quem tive o privilégio de trabalhar na formação do INI - Instituto Nacional de Investidores, fundado em 2004, do qual foi patrono e idealizador. Ronaldo, que viveu o “boom” da Bolsa de Valores no início da década de 70, acreditava em um mercado mais técnico capaz de atrair poupança e alavancar o investimento produtivo. Acreditava e lutava por esse princípio desde a década de 60, quando participou dos estudos que resultaram na criação do Banco Central e na organização e modernização dos mercados financeiro e de capitais. Ronaldo foi ainda um dos fundadores da Abamec (hoje Apimec); antecedendo a Lei das S.A. e a criação da CVM em 1976. Posteriormente participou ativamente da criação do IBRI, nos deixando ainda como legado a Revista RI, publicação que acompanha passo a passo a evolução do mercado de capitais, bem como a criativa e competente gestão de seu editor, companheiro e filho Ronnie Nogueira. Por tudo isso, só temos que homenagear e agradecer a esse profissional que tanto contribuiu para o mercado de capitais que hoje temos.” - Antonio Castro, diretor e ex-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca)
“Na missa de 7º dia do nosso querido Ronaldo Nogueira, meu pai me perguntou de quem eu era mais amiga, se era da Mariana (sua filha caçula), cuja idade bate mais com a minha. Sou amiga de todos, convivi naquela casa gostosa de Nogueira em Petrópolis, jogando vôlei e fazendo festa. Com Mariana, Rik, Ronnie, Tita, Ronaldo e tantos tios, primos e amigos em comum. Mas na resposta ao meu pai disse que o mais amigo de todos era mesmo o próprio Ronaldo. Vivemos uma experiência ímpar, quando eu era Secretária de Fazenda da Prefeitura do Rio e organizamos juntos, em 2011 e 2012, o Rio Investors Day, grande evento do Mercado de Capitais no Copacabana Palace em comemoração ao recém-adquirido Investment Grade da cidade. A nova geração junto com a do Ronaldo, acreditando no sonho de que o Rio ia finalmente decolar e veríamos a revitalização do Mercado de Capitais carioca. A ambição da Prefeitura era fazer do Rio o melhor lugar para se viver e trabalhar do hemisfério sul. E nós realmente acreditávamos nisso! Deu no que deu... mas eu cismo em continuar acreditando.” - Eduarda La Rocque, economista – sócia da Usina Pensamento e fundadora e coordenadora do Pacto do Rio
“Estive em Nova York, recentemente, em final de setembro, e ao passar pelo hotel St. Regis, lembrei-me que eu e Ronaldo Nogueira estivemos lá juntos para assinar um contrato com o Chemical Bank, de U$ 13,5 MM, para o financiamento de equipamentos da Seridó. Isto foi em 1975 ou 76. A proposta escolhida foi a da Corretora Ney Carvalho, representando, devidamente, o Chemical Bank e assinada pelo Ronaldo. Havia cinco propostas de financiamento. Comparei as taxas, prazo de carência, prazo total, e as demais condicionantes, apoiado na competência do Ronaldo, como, de fato, sucedeu. Sem dúvida, era a proposta que melhores condições apresentava. Assinamos os contratos. No dia da volta ao Brasil, o Ronaldo, com a experiência muito maior que a minha, disse-me que à tarde iria para o meu quarto, para não termos que pagar duas diárias a mais. Assim fizemos. Como estava muito calor, Ronaldo, ao entrar no quarto, resolveu diminuir a temperatura do ar condicionado. Ao fazê-lo, o aparelho de ar caiu do andar em que estávamos, 14º ou 15º. Ainda bem que no pátio interno do hotel. Ficamos muito assustados, paguei a conta pela empresa e fomos embora, rindo muito, mas com muito receio, indo para o aeroporto e ouvindo aquelas sirenes da polícia e bombeiros muito comuns em Nova York. Talvez, o hotel mais assustado do que nós, pois poderíamos ter movido uma ação contra eles. Diversas vezes nos lembramos deste fato rindo muito. Boas recordações de uma amizade até o fim da vida!” - Fernando Luiz Albuquerque Lima, empresário
“Conviver com o querido amigo Ronaldo foi uma experiência rica e estimulante. Ronaldo Nogueira buscou sempre o bem público, sem se preocupar com o que ele poderia ganhar, em prol de todos. Era uma central de ideias, projetos e modelos que visavam a melhoria constante e consistente do nosso mercado de capitais. Sempre esteve à frente de várias inovações que deram certo, como o IBRI. Gostaria de compartilhar dois momentos que ajudam a definir um pouco da complexidade do ser humano Ronaldo: há uns 11 anos atrás, nos sofás de um lobby de hotel na capital paulista, eu e Ronaldo, junto com seu filho Ronnie e Ian Richman, publisher da IR Magazine, abordamos a possibilidade de trazer a premiação “Investor Relations Awards” para o Brasil. Ronaldo, sempre de forma elegante, demonstrava entusiasmo com a ideia, a defendendo com argumentos relevantes sobre a importância da premiação vir para o Brasil. Ian não teve saída, concordando com o ponderado, convincente e elegante Ronaldo. Há mais de 10 anos a premiação passou a ocorrer no Brasil! O outro momento foi pessoal, há uns 3 anos, eu estava no Rio e fui gentilmente convidado para o jantar semanal da família Nogueira. Foi espetacular! Todos os filhos do Ronaldo com seus cônjuges e filhos, um clima de família unida, religiosa e que se admira, gostam um do outro. A importância desse jantar foi elevada, pois naquele período eu estava com problemas graves com meus pais e a família Nogueira me acolheu e com palavras carinhosas e rezas me ajudaram. Essa união e ajuda a um amigo refletem a cultura que foi ensinada por Ronaldo e Tita (esposa) para sua família. Ronaldo nos deixa com inúmeras realizações para o mercado e uma família unida. Ronaldo fará muita falta para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele!” - Geraldo Soares, superintendente de RI do Itaú Unibanco
“A B3 lamenta profundamente o falecimento do Sr. Ronaldo Nogueira. Economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, contribuiu de maneira fundamental para o desenvolvimento do mercado de capitais. Em 1997, fundou o IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores), contribuindo desta forma para o fortalecimento e aperfeiçoamento do papel dos profissionais de Relações com Investidores no suporte às companhias abertas promovendo o relacionamento e a comunicação com os acionistas, investidores e analistas de mercado. Durante sua trajetória em prol da evolução dos nossos mercados, foi responsável também pela criação da Revista RI, reconhecida publicação do mercado de capitais brasileiro com foco na disseminação das boas práticas dos executivos de Relações com Investidores.” - Gilson Finkelsztain, presidente da B3
“Eu havia sido admitido como sócio da então Price Waterhouse (hoje PwC) em 1986. Naquela época, conheci Ronaldo Nogueira - já muito renomado como economista, com uma grande bagagem de contribuições ao desenvolvimento dos mercados de capitais brasileiros. Ronaldo tinha a IMF Editora e produzia um guia sobre as empresas abertas registradas na CVM (Guia IMF - Companhias Abertas). Um ótimo projeto que tivemos a honra de patrocinar por vários anos e que logo depois passou também a ser produzido na língua inglesa (Brazil Company Handbook). Além disso, em 1987/88 tivemos o prazer de trabalhar, de certa forma juntos, na viabilização do The Brazil Fund, Inc. A elegância diferenciada do Ronaldo, sua paixão pela publicação, sua enorme empatia conseguiam ser ainda maiores do que qualquer projeção de retornos que imaginássemos com a publicação. Ronaldo era a própria publicação. Sinto saudades dos tempos no meu Rio de Janeiro da década de 1980 quando não somente podíamos transitar em paz pelas ruas como ainda podíamos conviver com gente do quilate do Ronaldo Nogueira, um verdadeiro gentleman, um ícone do mercado de capitais e do mundo editorial.” - Henrique Luz, sócio e membro do Comitê Executivo da PwC Brasil
“Conheci Ronaldo Nogueira logo após entrar na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas em 1961. Foram 56 anos de estreita amizade e muitas atividades profissionais em conjunto. Outro dia, jantando com sua querida família, contei uma série de “causos” que marcaram nosso relacionamento. Qualquer um deles caberia neste depoimento. Os pessoais, os associativos (ABAMEC/APIMEC) e os profissionais. Juntos, trabalhamos numa grande Corretora de Valores Mobiliários, ele colaborou no começo da Lopes Filho com uma seção em nossa publicação, intitulada “Mercados Internacionais”, ainda nos anos 70; viajamos a trabalho e a lazer, visitamos e recepcionamos muitos expoentes do mercado de capitais mundo à fora. Creio que este é o ponto que aqui devo destacar. Desde que o conheci ele buscava, seja na Suécia, na Suíça ou em Nova York, “vender Brasil”. Tinha conhecimento e orgulho do país e do nosso mercado de capitais, onde atuou por toda sua vida. Muito antes de regulamentado o ingresso de capitais externos em Bolsa, ele já tentava despertar nos gestores de recursos internacionais maior interesse em nosso mercado. Se hoje mais da metade das transações nos mercados de bolsa é realizado por Investidor Externo foi Ronaldo que deu início a este processo. Devemos dizer obrigado a ele pela dedicação que teve ao promover, internacionalmente, o mercado brasileiro de capitais.” - Luiz Fernando Lopes Filho, presidente da Lopes Filho & Associados, Consultores de Investimentos
“Conheci Ronaldo Nogueira em um Congresso da Apimec em Fortaleza em 2009. Neste encontro discutimos o projeto “Clubes Educacionais de Investimentos”, um método novo pelo qual pessoas comuns de diferentes classes sociais e de renda aprenderiam a investir no mercado de ações seguindo uma abordagem de “learn by doing”. Toda a tecnologia e metodologia necessária seria “importada” da NAIC - National Association for Investors Corporation. Em 2011, tive a oportunidade de trabalhar com Ronaldo no “Rio Investors Day”, evento desenvolvido em típica PPP (Parceria Público Privada), reunindo forças da Prefeitura do Rio com as companhias abertas, com o suporte do 3º setor representado pela Apimec Rio. Na 2ª edição do evento em 2012 estiveram presentes cerca de 100 investidores em busca de oportunidades de negócios. Este foi Ronaldo, um notável estrategista com visão de longo prazo e relação com parceiros em âmbito internacional. Suas ideias e sua perseverança na busca de um mercado de capitais próspero deixam saudades.” - Luiz Guilherme Dias, sócio-diretor da Sabe Consultoria - Inteligência em Ações da Bolsa
“Qualquer discussão sobre um tema específico pode ser feita através de inúmeras lentes teóricas. No que se refere ao mercado financeiro nacional, por exemplo, o gosto do cliente frequentemente determina o tipo de abordagem que será feito. No entanto, quando atentamos para as pessoas por trás desses embates, somos obrigados a sair do plano das ideias e adentrar no âmbito da ação. E quando buscamos alguma referência para as decisões imprescindíveis que contribuíram na luta pelo fortalecimento do mercado de capitais no Brasil, o nome de Ronaldo Nogueira é um verdadeiro porto seguro. Sua percepção privilegiada das inúmeras relações que perpassam a complexidade econômica fez com que ele atuasse como uma verdadeira mão invisível que aproximava investidores e empresas, tornando o acesso à informação qualificada e a relação com o investidor duas faces de uma mesma moeda. Se o mercado de capitais infelizmente perdeu um de seus principais nomes, nem por isso seu exemplo de vida deixa de ser um norte para a consolidação do nosso mercado.” - Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da BOVESPA - Bolsa de Valores de São Paulo e diretor-presidente da Magliano Corretora
“É um momento de tristeza para todos que, como eu, gostavam e admiravam o nosso Ronaldo Nogueira. Resta a satisfação de ter tido o privilégio de interagir com um homem de “três metros de altura” como era o Ronaldo. Deixa um legado importante e raro no Brasil de hoje. Um excelente profissional respeitado por todos - uma pessoa de caráter - e um verdadeiro gentleman, que agora repousa para sempre em sua querida Nogueira. Um bravo guerreiro que percebeu a importância e lutou pela educação financeira para desenvolver o mercado de capitais do Brasil. Tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de acompanhá-lo em algumas de suas batalhas.” - Roberto Castello Branco, ex-diretor de RI da Vale e pesquisador do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV.
“Conheci Ronaldo Nogueira nos bancos da Faculdade Nacional de Ciências, na Rua Marquês de Olinda, em Botafogo, onde nos formamos em 1960. Tivemos entre nós colegas que ocuparam importantes posições na vida econômico-política e social, valendo lembrar os nomes de Maria da Conceição Tavares, Carlos Moacyr Gomes de Almeida (fundador da Gafisa), Tomas Zinner (que foi presidente do Unibanco), Antônio Mariani (Unipar), somente para citar alguns. Também tivemos professores que se destacaram na vida política, tais como: Roberto Campos, Octávio Gouvêa de Bulhões, Paulo Lyra, Antônio Dias Leite, Themóstedes Brandão Cavalcanti, Casimiro Ribeiro e Julian Chacel. No entanto, meu relacionamento com Ronaldo se consolidou através do interesse que tínhamos pelo desenvolvimento do mercado de capitais. Essa paixão nos fez trabalhar em projetos ligados à necessidade de dotar o Mercado com instrumentos que entendíamos serem fundamentais para o desenvolvimento do país. Essa incessante inquietude nos colocou lado a lado em vários momentos, não só na Lei 4.728 de 1965, como também na determinação de que seria fundamental criar mecanismos que permitissem a participação de capital estrangeiro em nosso mercado. Estivemos juntos na criação do Brazil Fund, Inc, um dos primeiros “country funds” elaborados para permitir a participação do exterior em nosso mercado. Ronaldo fez parte de seu Conselho de Administração e eu, inicialmente, fiz parte do Conselho Consultivo com Chacel e Carlos Moacyr. Mais tarde passei a integrar o Conselho de Administração e, portanto, trabalhamos em conjunto no melhor interesse dos investidores, o que trouxe bons resultados. Ronaldo também participou do conselho do Korea Fund, onde sempre teve atuação destacada. A ele certamente devemos muito dos progressos registrados nos mercado, particularmente nos anos 60 e 70. Trabalhar com Ronaldo sempre foi grande motivo de prazer e satisfação de juntar esforços para um mercado maior, dinâmico e ético. O mercado de capitais no Brasil perde assim um de seus grandes defensores e promotores. Ronaldo é, indiscutivelmente, uma figura histórica do Mercado e sua ausência será sentida.” - Roberto Teixeira da Costa, economista - fundador e primeiro presidente da CVM – Comissão de Valores Mobiliários
“Conheci o Ronaldo Nogueira nos início dos anos setenta, ele já com enorme experiência no mercado de capitais e reconhecido como excelente técnico. Eu, um recém-iniciado analista de investimentos. Ele na Corretora Ney Carvalho. Eu na Caravello. (ambas, já não mais existem). Ao longo desses quarenta e muitos anos estreitamos a nossa amizade e muito respeito profissional. Realizamos alguns projetos juntos: a criação do INI - Instituto Nacional de Investidores; duas edições espetaculares do Rio Investor Day em 2011 e 2012, em parceria com a Secretaria de Fazenda do Município do Rio de Janeiro. Quando criou a Revista RI - Relações com Investidores, nos anos 90, me convidou para escrever o primeiro editorial. E, naquele início de projeto, sempre me pedia opiniões sobre temas do momento. Nos últimos anos, nos encontrávamos mensalmente no “clubinho” (Clube Marimbás, em Copacabana) para um almoço que o querido Luiz Fernando Lopes Filho (Lulu) organizava e do qual participava também o Álvaro Bandeira. Éramos o quarteto da saudade: lembrávamos dos “velhos e bons tempos” do mercado de ações na BVRJ; dos amigos que prematuramente já haviam nos deixado; trocávamos informações dos amigos que não víamos há muito tempo; discutimos muito o futuro do mercado de ações brasileiro; evidentemente criticávamos o governo de plantão e os políticos de forma geral; trocávamos informações, conhecimentos e experiências antigas e novas. Ele nos contava das viagens que fazia com a Tita (esposa). Praticamente não se falava de futebol porque éramos três tricolores e só ele torcedor do Bangu. Confesso que o Ronaldo foi o primeiro e único torcedor do Bangu que conheci até hoje. Ele sempre maravilhado com o Rio de Janeiro e sempre otimista com o futuro do Brasil. As críticas que eventualmente fazia à situação econômica ou política do país eram sempre muito moderadas e com uma boa dose de otimismo no futuro. Mesmo nos momentos de profundo pessimismo, era o Ronaldo a trazer à mesa alguma luz positiva. Álvaro e eu éramos mais enfáticos nas críticas. O Lulu, na altura da sua experiência era mais comedido e sensato; ponderando e minimizando as opiniões extremas. Os almoços, agora a três, continuarão. Precisamos arranjar ânimo para o primeiro sem ele. A cadeira dele, evidentemente, estará lá. E o nosso principal e único tema da conversa será ele, Ronaldo Nogueira. Certamente iremos ouvi-lo ainda por muitos e muitos almoços. Deixou saudades, mas, também muito boas lembranças.” - Roberto Terziani, ex-diretor de RI da Oi
“Ronaldo Nogueira mais do que um grande nome do mercado de capitais era uma fantástica figura humana e um grande amigo. Conheci Ronaldo em 1965, logo que comecei a operar na corretora Ney Carvalho, quando voltei dos Estados Unidos depois de um ano trabalhando numa empresa de avaliações. A lei 4.728, conhecida como Lei do Mercado de Capitais, tinha sido recentemente promulgada. Somente algumas décadas depois fiquei sabendo que Ronaldo tinha participado de sua elaboração. Mudei-me para São Paulo em 1969 e somente em 1974 voltei a falar com ele, pois íamos os dois para Los Angeles para representar a Abamec na criação do Comitê Internacional dos Analistas Financeiros. Morei 32 anos em São Paulo mas sempre tínhamos oportunidade de nos falarmos quase sempre sobre assuntos relacionados a Abamec. Quando em 2001 voltei a morar no Rio, Ronaldo convidou-me e ao Geraldo meu irmão para criarmos com ele o INI - Instituto Nacional dos Investidores, que tinha por objetivo a formação de clubes de investimento de caráter educativo para que pessoas relacionadas aprendessem a investir no mercado de capitais. Fui com Ronaldo e um grupo de pessoas, com a participação da Bovespa, a Detroit para conhecer essa iniciativa que foi, graças ao Ronaldo, trazida para o Brasil. Nosso relacionamento ficou mais próximo e conheci seu filho Ronnie, que comanda a Revista RI. O tema: Relações com investidores foi mais outra iniciativa do Ronaldo para melhorar o relacionamento das empresas com seus acionistas. Suas dicas para conhecer Paris eram sempre seguidas e conheci o melhor bar para ouvir os tradicionais “chansoniers" franceses. Almoçamos, Renata e eu, muitas vezes juntos com Tita (esposa) e Ronaldo no Clube Marimbás e frequentávamos seus aniversários no seu apartamento da Av. Rainha Elizabeth, em Ipanema. Ronaldo será uma ótima lembrança para sempre...” - Thomas Tosta de Sá, ex-presidente da CVM - Comissão de Valores Mobiliários e diretor-superintendente do Codemec - Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais