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Ponto de Vista |
Alcançar uma boa situação financeira não é tão difícil quanto parece. Comparando as pessoas que obtém sucesso financeiro àquelas que nunca o alcançam, vemos que a diferença está nos detalhes. A maioria das pessoas bem-sucedidas passa longe dos estereótipos que se faz delas. Não vivem pensando apenas em dinheiro e tampouco são pessoas, egoístas ou insensíveis com a miséria alheia. São, sim, pessoas que aprenderam desde cedo a gastar um pouco menos do que recebem e sabem investir bem o valor poupado.
Quem tem problemas financeiros costuma justificar-se dizendo que ganha pouco. Tais pessoas pensam que teriam tranqüilidade financeira se ganhassem o dobro do rendimento atual. Mas muitos não conseguem se desvencilhar dos problemas financeiros mesmo ganhando aumentos salariais e promoções. Outros têm vidas bastante equilibradas e constroem lentamente patrimônios consideráveis mesmo ganhando pouco.
Estratégias para economizar
As pessoas que conseguem economizar regularmente utilizam uma das seguintes estratégias:
1. Pague-se primeiro. É o jeito mais simples. Basta reservar uma parte do dinheiro assim que receber a renda e destinar essa quantia para investimentos voltados à construção da independência financeira e à aposentadoria. Faça isso da forma mais automática possível e logo no dia em que receber. Para ajudar nesta estratégia, a maioria dos bancos, permitem que você programe investimentos de forma regular. Assim, sempre que você faz uma aplicação, aparece um campo que permite que você programe este investimento para os próximos meses. Os planos de previdência que permitem programações mensais de depósitos também são uma alternativa interessante. Por mais contraditório que possa parecer, planos de investimentos que dificultam resgates antecipados e que punem aqueles que não efetuam contribuições mensais acabam conseguindo melhores resultados de longo prazo para os poupadores.
2. Tenha um bom orçamento. Anote as receitas e as despesas e programe regularmente a poupança para um consumo futuro, como viagens ou reformas, e também a poupança de longo prazo, para o estudo dos filhos e a aposentadoria. Nesse caso é fundamental que toda a família discuta de forma serena e equilibrada as prioridades de gastos e os cortes no orçamento. Todos devem ter um espaço de flexibilidade pessoal, ou seja, uma “mesada” individual. Mesmo o marido e a esposa devem ter quantias separadas, em que o outro não possa interferir. Se ela gosta de ir ao cabeleireiro e paga com sua parte na renda, ele não pode reclamar. Se ele adora dar presentes aos pais, pode gastar sua “mesada” particular com isso sem que ela interfira. Se os dois concordam com todos os gastos, a mesada pode ser direcionada para um jantar romântico no final do mês ou para a compra de algo que os dois queiram muito. Reservar uma parte da renda para que cada membro da família gaste como quiser evita os costumeiros boicotes ao orçamento.
3. Gere uma falsa noção de escassez. Esse é um modelo que não recomendo a ninguém. Ele geralmente é feito por um dos membros da família, que é o controlador do orçamento e que normalmente encara o dinheiro como forma de poder. Assim, o controlador toma para si todas as rendas da família e se responsabiliza pelos pagamentos. Ele sempre diz que a família está à beira do precipício financeiro. A cada conta de luz que recebe cria enormes discussões com todos e ameaça que, se continuarem gastando daquela forma, logo não terão o que comer. Os outros, apavorados, começam a economizar cada vez mais e ficam sempre em suspense a cada discussão sobre dinheiro, pois sabem que logo haverá brigas e acusações múltiplas. Eventualmente, o controlador faz grandes gastos, muitas vezes baseado apenas nas suas prioridades, o que confunde e revolta os demais familiares. Essa estratégia costuma gerar traumas em relação ao dinheiro. Em famílias que seguem esse modelo, os filhos podem tornar-se perdulários para contrapor o comportamento que não aprovavam nos pais. O cônjuge do controlador geralmente se acomoda à situação e passa a não pensar em dinheiro. Se o casal vem a se separar, uma das partes acaba despreparada para a nova situação financeira. Outro problema que ocorre neste caso é que a pessoa se convence de que está de fato em situação difícil e acaba levando uma vida muito mais restrita do que seria necessário.
O planejamento financeiro de uma família é importante para a tranqüilidade atual e para a educação dos filhos. É comum vermos famílias em que o casal ganha muito dinheiro e sustenta uma casa que é uma verdadeira máquina de gastar dinheiro. Pessoalmente, já presenciei famílias que descobrem, espantadas, que seus gastos com animais de estimação superam o orçamento total de seus pais. Já encontrei pessoas que pagam clubes que já deixaram de freqüentar há anos. Alguns executivos cuidam de orçamentos milionários e são rígidos quanto aos gastos nas empresas para as quais trabalham, mas convivem, dentro de casa, com grandes desperdícios.
O dinheiro é carente. Se você não tem tempo para ele, ele irá encontrar outra pessoa que lhe dê atenção. Muitos profissionais dizem que trabalham demais e que não encontram tempo para elaborar um orçamento ou para verificar as aplicações. Tudo bem se você tiver que trabalhar 12 horas por dia para ganhar dinheiro. Mas é preciso dedicar pelo menos uma hora por semana para fazer com que o dinheiro fique com você e para que todo esse trabalho não seja desperdiçado.
Esse exemplo vem de famílias que conservam o dinheiro por muitas gerações. Conheci um empresário muito bem sucedido que cuidava dos gastos domésticos. Tinha um programa regular de controle das contas com os filhos e chamava-os para discutir onde poderiam economizar. Perguntei a ele se tudo aquilo era necessário. Ele disse que esse programa era indiferente para sua situação financeira, mas que para seus filhos era fundamental. “Se meus filhos gastarem muito, um dia receberão uma proposta de emprego que não cobrirá suas despesas e ficarão desmotivados a trabalhar. Se vierem para nossas empresas e forem descuidados com os gastos, logo teremos dificuldades e todo o enorme esforço de gerações passadas se dissipará rapidamente”, disse ele.
Para esse empresário, o controle do orçamento doméstico era uma oportunidade de educar os filhos. Longe de ser um sovina, ele costumava viajar com a família e mostrar a eles que a finalidade do dinheiro é proporcionar tranqüilidade e prazer. E que, assim como o dinheiro, esses momentos não podem ser desperdiçados.
Frequentemente sou questionado por pessoas querendo saber como educar financeiramente os filhos, minha resposta é sempre a mesma: só existe uma maneira, através do exemplo.
Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br