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Esta é uma proposta aceita pela maioria das pessoas: a capacidade de uma empresa ter suas ações avaliadas corretamente pelo mercado é maior quando os investidores possuem um maior nível de boa informação sobre suas estratégias, operações, condições financeiras e resultados correntes.
Assim, o Disclosure é o âmago da proposta do reconhecimento de valor.
Intuitivamente os executivos se dão conta de que um mercado bem informado está melhor capacitado a atribuir um valor justo a uma ação ou título de dívida da empresa. Ainda assim, muitos administradores evitam revelar demais, talvez por receio de expor suas falhas ou facilitar informações exclusivas para os concorrentes.
Então, qual é o estado da prática de disclosure corporativo? Obviamente, os legisladores e reguladores acreditam que ela precisa ser aprimorada. Eles escreveram leis e reforçaram exigências pedindo mais informações, muitas delas bastante específicas, divulgadas nos vários relatórios obrigatórios e nos comunicados sobre novos fatos relevantes, e através dos esforços para assegurar que todos os investidores tenham oportunidades de obter informações que movem o mercado ao mesmo tempo.
Os profissionais de investimentos mostram um certo grau de insatisfação. Pesquisas apontam que money managers e analistas reclamam do conteúdo dos relatórios anuais e outros documentos. É provável que eles nunca ficarão satisfeitos; não existe uma informação perfeita.
Talvez uma preocupação maior seja o sentimento dos profissionais de que a informação dada pela empresa não é confiável. E por isso os money managers freqüentemente buscam fontes que eles julgam ser independentes e objetivas. Claramente, as empresas precisam melhorar seus press releases, relatórios anuais, apresentações e conversas com analistas e administradores de fundos.
Certamente, as empresas podem atender as leis e regulamentos colocando mais informações. A verdadeira questão é: As empresas estão dispostas a fornecer informações realmente significativas?
Uma resposta deve começar com uma definição. O fundamental é: a informação é significativa quando ela possibilita aos analistas, administradores de carteiras e investidores individuais a entenderem a empresa o bastante para tomarem uma decisão de investimento ou fazerem uma recomendação que prove ser precisa em termos de desempenho futuro da empresa. Poderíamos também dizer “precisa” em termos de preço da ação, mas o preço da ação é influenciado por mais do que os resultados operacionais ou financeiros de uma empresa.
Qual informação é mais importante para permitir que os investidores obtenham o tipo de conhecimento que lhes forneça a melhor possibilidade de avaliar a empresa com precisão? A resposta constitui a essência do disclosure.
Uma grande parte da informação se aplica à todas as empresas e pode ser categorizada como fundamental. Ela trata do desempenho da empresa medido por métricas comumente usadas – aplicadas ao mercado, ao setor e a cada empresa. Nós todos sabemos quais são elas – vendas, despesas/margens, lucros, fluxo de caixa, despesas de capital, retorno sobre investimentos, uma gama de cifras básicas que ajudam a avaliar o estado da empresa, tais como recebíveis, vendas diárias, preços de matérias primas, estoques, entre outros.
Informações para Avaliar a Capacidade de Crescer
Mais específicos para a empresa são os aspectos dos negócios que levam ao crescimento. Os investidores precisam ter um entendimento profundo sobre eles como base para avaliarem o progresso que está sendo alcançado pela empresa. Eles são chamados value drivers (determinantes de valor). A qualquer momento eles podem estar se movendo em direções positivas ou negativas, ou estarem paradas em neutro. Ajudar os investidores a acessá-los com precisão é a chave para ter as ações da empresa avaliadas corretamente.
Será que os administradores entendem verdadeira e plenamente os seus value drivers? É mais provável que a resposta seja “sim”, mas não é garantido. E, talvez, a maior pergunta envolva se os administradores reconhecem/entendem o impacto daqueles fatores sobre o preço de suas ações.
Aqui, existem oportunidades para fortalecer a proposta de criação de valor e o valor de mercado da empresa. Elas enfocam sobre a melhoria do diálogo entre os administradores e o mercado para assegurar que cada grupo tenha igual nível de conhecimento sobre o papel e o impacto do value driver tanto no desenvolvimento das operações como nos resultados financeiros da empresa, e na justa avaliação das ações.
O fornecimento de informações significativas sobre os determinantes de valor é uma parte essencial do processo de disclosure.
Quais são os determinantes de valor de sua empresa?
Eles podem ser orientados tanto externamente como internamente. Os preços dos materiais usados na produção dos seus produtos podem ser um determinante de valor. A situação do setor pode ser um outro. Certa vez, uma empresa verificou que a sua participação num índice de ações era um dos seus value drivers.
Os value drivers internos são mais prováveis de estarem em áreas vistas como mais intangíveis do que tangíveis. Todavia, certas operações altamente eficientes que melhoram as margens são determinantes de valor quando classificam a empresa como fornecedora de baixo custo à frente das concorrentes. Isso é especialmente significativo em setores de manufatura.
Mas, é mais provável que esses value drivers sejam resultantes de Pesquisas & Desenvolvimento, inovações e superioridade dos produtos, melhor serviço aos clientes, administração dinâmica, efetiva execução de estratégias, empregados altamente motivados e produtivos, excelente marketing, entre outros. Uma pesquisa realizada há alguns anos entre investidores institucionais descobriu um dos mais importantes fatores na decisão de investir numa empresa era a capacidade dos seus executivos em executar bem suas estratégias.
Então, a pergunta é: será que a empresa tem métodos para reunir e fornecer informações significativas para o mercado sobre esses value drivers intangíveis?
Nós podemos dividir o conteúdo de um sólido programa de disclosure em três principais componentes:
(1)estrutura financeira, condição e desempenho;
(2) estratégia, operações e perspectivas; e
(3) fatores de risco que afetam o investimento na empresa.
Órgãos reguladores estão enfatizando claramente o desempenho financeiro nas suas exigências de disclosure. As empresas estão aprimorando seus disclosures financeiros. Ao mesmo tempo, as empresas estão sendo criticadas pelos investidores, acadêmicos e consultores por não apresentarem maiores descrições e discussões sobre suas estratégias e operações.
Talvez, mais do que qualquer outro componente, as novas leis e regulamentos estão exigindo maior informação sobre os fatores de risco, em virtude dos escândalos corporativos e da retração da confiança do investidor nas empresas e nas informações.
Como as Empresas são Estruturadas para Informar
Igualmente importante é o que ocorre no processo de fornecimento do disclosure. Claramente, esse processo está mudando nas empresas e, em alguns casos, de forma bastante extensa.
Existem empresas que parecem estar fornecendo informação de qualidade a nível prático. Chamamos isso de melhores práticas. É necessário ver como elas operam.
E, é importante notar que os diretores financeiros e executivos de RI que desenvolvem esses programas de disclosure ainda acham que existe espaço para melhorar. É necessário que seja um processo perfeito, pois o futuro é incerto e os preços das ações fluem a partir das expectativas sobre o desempenho futuro.
As empresas que fornecem um sólido fluxo de informações possuem políticas de disclosure bem definidas e, geralmente, comitês de divulgação. A questão não é tanto se a empresa tem um comitê e/ou uma política escrita. O que conta é que um grupo de executivos no topo da empresa entenda o papel e o valor do disclosure e das informações que orientam um melhor entendimento das estratégias, operações, condições financeiras e resultados, e que esse grupo tenha determinado a melhor forma de apresentar as informações.
Os membros desse grupo ou comitê geralmente incluem o RI, o consultor jurídico, o diretor financeiro, o comptroller, o chefe da auditoria, e um representante do auditor externo. Algumas empresas também incluem o diretor presidente, o corporate secretary, os chefes de unidades de negócios e o executivo da área de comunicação corporativa.
Graças, em parte, à todas as leis e regulamentos, existem importantes aspectos legais nas práticas de disclosure. É interessante observar a diferença de 180 graus nas atitudes dos advogados a favor ou não de um maior ou menor disclosure. Embora a maioria deles ainda argumenta em revelar o mínimo necessário, um crescente número acredita que oferecer uma colcha de informações protege a empresa no caso de surgir uma acusação de violação de regras ou outra disputa legal. Certamente, os CFOs e os RIs se sentem mais à vontade nas suas comunicações diárias com analistas e investidores.
Além disso, alguns advogados consideram as políticas escritas de disclosure como uma prova de que a empresa atende as suas obrigações de fornecer informações, enquanto outros receiam que isso possa servir de base para provar que a empresa não é tão aberta na prática.
Os comitês de disclosure são auxiliados nos seus trabalhos através de declarações que estabelecem uma estrutura para os níveis de conteúdo e diretrizes específicas para lidar com questões sobre a conveniência ou não de revelar certas informações, e de decisões sobre o uso de veículos de comunicação mais eficientes, em geral e para situações específicas.
Materialidade e Orientação
Freqüentemente, esses comitês lidam com questões sensíveis como: se a empresa deve dar uma orientação e o que deve ser coberto, e se certas informações não reveladas são relevantes (materiais).
A ausência de um pronunciamento definitivo sobre materialidade por parte do órgão regulador deixa que as empresas usem suas “culturas” para tomar decisões – agressivas ou conservadoras. As empresas conservadoras tendem a usar razões para não revelar, com os advogados procurando proteger a organização, enquanto as empresas mais abertas se inclinam a fazer o disclosure porque acreditam que ele ajuda os investidores a fazerem uma melhor avaliação.
A prática para a determinação do que é relevante sugere que os administradores que melhor conheçam o que orienta ou determina o seu valor, estão mais aptos a tomar decisões sobre qual informação ou evento deve ser considerado relevante.
A preocupação sobre se é melhor para a empresa oferecer orientação trimestral/anual sobre os resultados financeiros parece surgir o tempo todo. Um bom disclosure sugere a importância de manter os analistas e investidores bem informados sobre o desempenho da empresa, divulgado através de cifras tais como lucro por ação e receitas. Quão específica deve ser a informação para que os analistas façam projeções precisas? Não se espera que eles sejam capazes de fazer boas estimativas baseadas na construção do conhecimento profundo sobre a empresa?
Também, as reclamações de executivos sobre o enfoque do mercado nos resultados de curto prazo e na validade do preço da ação causada por esse enfoque são um problema. Esses fatores conflitantes têm levado os comitês de disclosure a enfrentarem a questão da “orientação”. A prática sugere que as empresas concordam que é necessário dar orientação para alcançar um preço justo da ação e, embora preços maiores possam criar riqueza pessoal quando as opções são exercidas, a maioria dos executivos prefere que as pressões trimestrais para atender as expectativas de lucros sejam reduzidas considerando que eles desenvolvem estratégias com perspectivas de prazos mais longos.
A escolha dos melhores veículos de comunicação para disseminar informações vitais na comunidade de investimentos tornou-se uma importante parte do processo de disclosure. A resposta está no conhecimento de quais veículos são mais amplamente usados pelos investidores, analistas e consultores financeiros. Os mais populares são os press releases enviados através da Internet. Esses comunicados ajudam a satisfazer a necessidade dos investidores receberem notícias imediatamente quando estão sendo divulgadas. Enviadas online para todo o mundo, esses comunicados também atendem a exigência dos reguladores para que cubram o mercado inteiro.
Os relatórios aprimorados por exigência de informações mais objetivas e detalhadas, estão sendo mais lidos. Pela mesma razão, os proxy statements estão sendo mais examinados, especialmente as tabelas que comparam o desempenho da empresa com a remuneração dos executivos.
Os investidores estão partindo cada vez mais para as conference calls, de uma maneira ou de outra – para ouvir webcasts ao vivo ou de arquivo, ler os sumários e as transcrições das conferências. E, o relatório anual é uma preferência, não apenas pelos dados financeiros, mas para ver como o CEO descreve a empresa e o progresso que está sendo alcançado. A “mensagem do presidente” para os acionistas contém um bocado de “linguagem de corpo”. Está ele sendo objetivo ou vago? A direção da empresa está clara e suas estratégias bem articuladas? A empresa está sendo apresentada inteiramente, cobrindo os bons progressos e os problemas?
Nota: Artigo de William F. Mahoney, publicado originalmente na Revista RI - edição: Agosto de 2003 (no. 66).