Perfil

HENRIQUE LUZ, SÓCIO DA PWC BRASIL

Com mais calma para pensar e tempo para sonhar, palavras que lembram uma famosa canção da Bossa Nova, movimento musical do qual é pesquisador intenso, Henrique Luz pretende ampliar horizontes para ter uma visão mais holística da realidade. E, é com essa perspectiva que vai se despedir de sua bem sucedida carreira como um dos sócios líderes da PwC - uma das maiores empresas internacionais de auditoria e também uma das marcas mais bem reputadas mundialmente em todos os segmentos – sem se aposentar da vida.

O curriculum vitae de Henrique Luz revela sua personalidade inquieta. Mesmo tendo optado por uma formação profissional ligada às ciências exatas - formou-se em ciências contábeis - e de sua especialização como auditor, uma atividade ainda mais técnica, seus estudos, capacitações e interesses estenderam-se pela seara das humanas, da defesa da causa da governança, da ética, à atuação junto a entidades culturais, profissionais e assistenciais.

Nem mesmo sua extensa e intensa carreira na PwC, onde atuou por 43 anos, o desviou da atuação nessas áreas. Ao contrário, como ele mesmo conta, a PwC tem um ambiente propício a essas participações. A empresa estimula os sócios a procurarem retribuir para a sociedade. Some-se a isso o fato de Luz vir de uma família enormemente ligada, por varias gerações, a entidades culturais, o que faz com que tenha isso na veia.

Em 1986, quando tinha 30 anos e foi admitido como sócio da empresa, foi convidado a fazer parte do conselho da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Gostou tanto de contribuir com uma causa tão importante que não parou mais de buscar estímulos tão compensadores. De lá para cá já participou de inúmeras entidades culturais, profissionais e assistenciais. Atualmente está muito vinculado à atuação na Fundação Dorina Nowill, que lida com deficientes visuais, onde atua como vice-presidente do Conselho.

Vida que segue
A vida que segue e a ampliação de horizontes pautaram sua escolha para fazer cursos que a PwC oferece a seus profissionais na pré-aposentadoria. No ano passado, obteve o Certificado em “Mediação de Conflitos”, pela Harvard Law School. Também, participou do programa executivo da Singularity University, no Vale do Silício, na Califórnia.

Na mediação de conflitos de sua vida cotidiana, Luz se revela vitorioso em saber conciliar sua vida profissional na PwC, com suas atividades sócio culturais e sua vida familiar. Casado, com quatro filhos e dedicado a inúmeras outras atividades - se não morreu é porque pelos menos soube mediar bem os conflitos de tempo, já que o dia tem 24 horas e ninguém vive sem dormir um pouco.

Brincadeiras à parte, para ele a mediação de conflitos é um assunto muito sério e uma prática da qual estamos carentes, e não só no Brasil.

Luz deixa a PwC até o final do primeiro semestre deste ano, com várias possibilidades a vista e cumprindo um mandato de três anos como membro do Conselho de Administração do IBGC, onde é vice-presidente. O IBGC é um dos mais importantes institutos de orientação e difusão de práticas de governança corporativa em nível mundial. No momento, avalia os vários convites que recebeu de companhias para integrar seus conselhos de administração.

Na área de governança tem tido forte atuação. No ano passado participou da Jornada Técnica de estudos de Governança Corporativa do IBGC em Cingapura e Hong Kong, em 2014 fez o curso de formação de Conselheiros do IBGC e, em 2016, cursou seu módulo avançado em Washington (D.C.). Já foi membro da Comissão de Estratégia e da Comissão Organizadora dos Congressos Anuais do IBGC.

Ele é carioca
Luz cresceu em Teresópolis, município localizado na região serrana do Rio de Janeiro. Desceu da serra para a capital para cursar a Faculdade Candido Mendes, nos idos de 1974. Conviveu com figuras ilustríssimas da Bossa Nova como Marcos Valle, Carlinhos Lira e Roberto Menescal. Com eles deu vazão a seu lado “poético” e até concebeu e produziu vários shows desses compositores.

Foi jovem num Rio de Janeiro, antes de ser “esse Rio de amor que se perdeu”, dos versos de Vinicius de Moraes. Via esse céu, esse mar, essa gente feliz, cantada pela Bossa Nova, movimento que foi marcante para sua veia artística e serviu para consolidar suas divergências em relação às explicações correntes à época sobre a criatividade por trás da música brasileira.

Luz conta que tinha dificuldades para acreditar que a criatividade da música brasileira nascia exclusivamente da necessidade, ”descia do morro” como era voz corrente até então. A memória da mudança que se produziu com a chegada da bossa nova ainda o entusiasma. E, deixou claro que tinha razão.

Aquela sonoridade leve e impar, que viria a se chamar Bossa Nova, estava sendo criada por jovens da classe média da zona sul. Eram meninos e meninas mais preocupados com o céu azul e o mar, produzindo harmonias mais rebuscadas, melodias sofisticadas e aquela sonoridade diferente, como a trazida nas batidas do violão de João Gilberto por exemplo.

Ele se lembra que até então a preferência da época era por uma música com letras mais “pesadas”. Era coisa semelhante - embora de qualidade musical superior e com uma diferença de gênero - ao que hoje é conhecido como sofrência. Era a sofrência do “corno”.

Para ele, o Rio de Janeiro continua lindíssimo por mais incompetência e corrupção que a administração da cidade venha sofrendo nas últimas décadas. Mas concorda que isso se reflete numa mudança de ambiente musical. Hoje os meninos e meninas olham menos para o céu, para o doce balanço a caminho do mar e mais para as sacudidas e batidas dos bumbuns.

Inversão e essência
Pensando no país, Luz acredita que para vivermos num país mais ético e menos violento, além de mais eficiente, produtivo e competitivo, é fundamental que busquemos a essência. Para isso, urge que haja uma inversão de foco que tem causado grandes problemas ao país.

E qual é a inversão? Para Luz, o centro nevrálgico da inversão está na prioridade dada ao investimento no ensino superior em detrimento do ensino básico. “Mesmo nos governos ditos de esquerda essa inversão foi mantida. E mais, houve até aumento do investimento no ensino superior. Cerca de 80% das verbas somadas de educação nos âmbitos federal, estadual e municipal tem sido carreadas para o ensino superior.”

Defensor ardente da causa da governança, que abraçou há 15 anos, Luz acredita que tenha havido um enorme avanço em suas práticas, especialmente desde a criação do IBGC, há 23 anos. Apesar dos claros aprimoramentos, ainda falta buscar mais pela essência na prática de seus pilares: equidade, prestação de contas, transparência e responsabilidade corporativa. Nesse sentido é bastante crítico. Não adianta olhar a governança apenas pelo lado dos controles, riscos e do compliance. É preciso chegar à essência de seus pilares.

Luz se define como um otimista, mas dentro de uma condição sine qua non: que o investimento no ensino básico se torne prioridade dos próximos governos. Sobre a operação Lava a Jato, o pensamento de Luz é que ela fez o país ficar diferente do que era quatro anos atrás. Mas também entende que o país, que parece estar por sair de uma crise gigantesca, carece de um pacto social que o ponha em direção a um Brasil mais eficiente e produtivo, mais competitivo, com um plano estratégico crível de médio e longo prazos.

Longa jornada
A jornada de Luz na PwC começou lá atrás com um curso de trainee em auditoria que o levou bem longe. De simples trainee chegou a sócio líder, um feito e tanto, sobretudo quando se trata de uma companhia com 200 sócios e sete líderes. Foram 32 anos como sócio responsável por auditorias realizadas em grandes companhias nacionais e multinacionais nos setores de Produtos de Consumo, Varejo, Aviação Comercial, Bancos e Serviços, em empresas familiares abertas e fechadas.

No escopo de suas funções executivas exercidas por 24 anos, destacam-se as atividades de estratégia, marketing/branding, expansão e penetração no mercado e desenvolvimento de negócios, inovação, clientes prioritários, grupos especializados nas indústrias e setores, expansão e atendimento a empresas de controle familiar e os desks de representação dos EUA, Coréia, China, Japão, Alemanha, Cingapura e Emirados Árabes. Segundo um presidente de uma das demais Big 4, Luz foi o pioneiro, na década de 90, na introdução de uma visão inovadora na gestão de relacionamentos em sua profissão.

Participou do grupo global de sete sócios que concebeu e implementou os padrões comportamentais desejados para consultores em busca de relacionamentos duradouros com seus clientes, a partir de atributos da inteligência emocional e social. Foi responsável no Brasil e na América do Sul pela implementação das metodologias de gestão de relacionamentos sustentáveis, inclusive de approach de negócio.

A partir de 2013, acumulou suas funções com o programa de mentoria de sócios da PwC, colaborando ativamente como mentor para o desenvolvimento pessoal e profissional de mais de 20 sócios, de variadas senioridades e linhas de negócios, inclusive líderes. Nos últimos dois anos, também tem atuado como mentor de CEOs e CFOs em busca de crescimento de carreira.


Continua...