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Brasil, o país do futuro: Este era o jargão apregoado para o Brasil durante a década de 70 e todos aqueles que tinham mais de doze anos em 1970 se lembram dos “90 milhões em ação, ... pra frente Brasil ... milagre brasileiro ... país do futuro”. Mas definitivamente não foi isto o que aconteceu.
Desde 1900 imigrantes, no início principalmente europeus (italianos, alemães, poloneses e outros) e, após 1950 também japoneses e coreanos, vieram ao Brasil na esperança de construir uma vida melhor para seus descendentes. Fugiam de uma vida quase miserável em seus países de origem para a terra onde haveriam oportunidades.
Aproximadamente, nos últimos dez anos, os netos e bisnetos desta geração de imigrantes decidiram fazer o caminho de volta ou buscar outro país. Outros brasileiros de origem anterior a 1900 também tomaram a decisão de deixar o Brasil. Sim, 50% da população de classe média alta ou classe média entre 25 e 35 anos deixou ou está deixando o país, dado sem valor estatístico, baseado nas pessoas de meu relacionamento. Entretanto utilizando uma “proxy”, temos uma pesquisa atual do BCG que mostra que 87% dos experts digitais brasileiros gostariam de ir para o exterior. Afinal o Brasil se tornou o país da falta de oportunidades e de esperança. Esperança e oportunidades deram lugar a pobreza crescente, desemprego absurdo, corrupção brutal, recordes mundiais de criminalidade, burocracia bestial. Foi o que restou. Resultado: o país está perdendo uma geração inteira de talentos nas mais diversas áreas o que irá piorar ainda mais a situação do país.
A grande pergunta: Por que o “país do futuro” se tornou o “país do passado”? Vamos analisar detalhadamente.
As fontes dos dados das análises relativas ao PIB/capita que se seguem são do Banco Mundial. O gráfico que se segue mostra como este indicador evoluiu desde 1960 até 2018 no Brasil, na China, na Coréia do Sul e em Singapura. Estes três países tinham uma renda média por habitante muito inferior ao Brasil em 1960, mas...
Enfim, os outros países deram esperança e oportunidades e o Brasil destruiu.
Mas vamos continuar nossas análises da evolução do PIB/Capita. Vamos analisar o crescimento de outros países comparados com o Brasil de 1960 a 2018.
País |
Crescimento Anual PIB/Capita 2018 - 1960 |
Brasil |
2,04% |
China |
6,58% |
Coréia do Sul |
5,94% |
Singapura |
4,97% |
Conclusão: o Brasil está muito abaixo dos “vencedores” no longo prazo.
Vamos agora analisar o crescimento médio anual ponderado (CAGR) no Brasil em cada década desde 1960 e comparar com a média para todos os países do mundo (217 países). A tabela que se segue mostra esta evolução.
Década |
PIB/Capita -- CAGR (% por ano) |
|
Brasil |
Mundo (217 países) |
|
1970 - 1960 |
3,25% |
3,32% |
1980 - 1970 |
5,91% |
1,91% |
1990 - 1980 |
-0,45% |
1,33% |
2000 - 1990 |
0,98% |
1,31% |
2010 - 2000 |
2,52% |
1,55% |
2018 - 2010 |
-0,29% |
1,66% |
Quais as conclusões?
Vamos agora correlacionar a evolução do PIB/Capita com eventos políticos “traumáticos”.
Evento Político “Traumático” | Período | PIB/Capita CAGR (% por ano) |
|
Brasil | Mundo (217 países) |
||
Fim do Regime Militar | 1980 - 1985 | -1,19% | 0,81% |
Início Período Democrático | 1992 - 1985 | -0,13% | 1,32% |
Impeachment Presidente Collor | 1992 - 1990 | -1,21% | 0,00% |
Governo Dilma | 2016 - 2010 | -0,48% | 1,56% |
Impeachment Presidente Dilma | 2016 - 2014 | -4,22% | 1,53% |
Vamos agora analisar como a população brasileira está ocupada atualmente. Os dados utilizados nas análises são do IBGE e do IPEA.
O gráfico abaixo mostra que menos de 50% da população brasileira economicamente ativa é empregada em atividades economicamente produtivas, mesmo incluindo neste grupo os funcionários das empresas estatais, isto é menos da metade da população brasileira economicamente ativa produz para sustentar todo o resto da população!!! Isto é absolutamente insustentável e prejudica terrivelmente a evolução do PIB/Capita.
Além disto, os gastos públicos subiram de 22% do PIB em 1995 para 26% em 2005 para 35% em 2015. Esta curva se correlaciona com a destruição do PIB/Capita e com a explosão do desemprego que subiu de 6,4% em 1995 para 9,6% em 2005 para 8,4% em 2015 para 12,5% em 2018.
Existem diversos outros aspectos que poderiam ser discutidos, através de conclusões de análises adequadas baseadas em dados de fontes respeitadas, relativos à criminalidade, burocracia e educação, mas vamos deixar isto para uma próxima oportunidade.
Construiu-se aceleradamente um país da “rabeira” do mundo, sem esperanças e sem oportunidades. E este já foi chamado de “país do futuro” ... Será que existem perspectivas de que o país volte a encontrar algum futuro?
Não adianta reclamar do Congresso, da Justiça, do Governo, do partido “A” ou “B”. O Congresso foi eleito pelo povo e representa realmente o perfil médio do povo brasileiro e seus problemas, isto é, falta de preparo, baixo nível educacional, etc. Isto não quer dizer que não existam bons congressistas ou membros do judiciário, pois existem bons brasileiros preparados. Mas o êxodo atual para o exterior pode piorar muito isto.
A questão é extremamente complexa e a solução não é simples nem de curto prazo. Existem soluções, mas isto vai exigir mudanças radicais. Este é um tema relevante que poderei vir a abordar em futuros artigos.
Nota: Este material não tem o propósito de defender ou criticar quaisquer posições ou partidos políticos, ideologias ou governos. Trata-se de fatos concluídos através de análises de dados de fontes confiáveis.
Domingos A. Laudisio
é Conselheiro de empresas. Foi diretor da Booz Allen & Hamilton e executivo de topo em três grandes multinacionais. Experiência internacional em seis países. Mestre em Engenharia e Administração pela Universidade de Stanford e Engenheiro pela Escola Politécnica da USP.
dalaudisio@bmcounseling.com