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Nos últimos anos, este espaço foi ocupado por Alfried Plöger onde expunha suas ideias e defendia, como o fez nos muitos anos que comandou a nossa entidade, a visão e os interesses das companhias abertas. Grande parte das conquistas da Abrasca foi resultado da sua incansável luta pelo aperfeiçoamento e fortalecimento do mercado de capitais e desenvolvimento das empresas. Foi um líder carismático e de muito bom humor, com que tive a honra de trabalhar por mais de 25 anos. Plöger nos deixou no dia 12 de abril, um domingo de Páscoa. Sua empatia, ética e dedicação são reconhecidas na nota de homenagem assinada por 11 entidades do nosso mercado a qual reproduzimos a seguir.
Nota de homenagem a Alfried Plöger
Como foi noticiado nesta última segunda-feira, no dia 12 de abril de 2020, domingo de Páscoa, perdemos o amigo e colega Alfried Plöger, ou simplesmente Plöger, como usualmente o chamávamos.
Cientes da dor e sofrimento da perda para seus familiares e amigos, majorada ainda pela situação de distanciamento social, as organizações que subscrevem esta Nota de Homenagem decidiram tentar redigir em poucas linhas os motivos pelos quais nos unimos àqueles que ora padecem sua ausência. Também sentimos e sentiremos muito a falta do Plöger e gostaríamos de compartilhar o porquê.
Plöger foi, acima de tudo, um incansável lutador, entusiasta inflamado das causas que defendia. Não era um homem de meias palavras. Sempre sabíamos da sua posição perante o que se estivesse discutindo, fosse o assunto um tema técnico, político ou futebolístico. Suas convicções eram expressas com seu vozeirão que preenchia a sala. Fossem críticas ou fossem endossos de concordância de uma posição ou decisão que se estivesse discutindo, sua manifestação sempre estaria lá. Plöger não ficava ‘em cima do muro’.
Essa voz intensa e contundente, que não passava despercebida, conduzia uma mensagem válida e valorosa para as cruzadas que enfrentou. Seja oferecendo seu apoio, seja oferecendo o contraponto, Plöger impulsionou diversos movimentos que certamente foram e continuarão sendo importantes para o Brasil.
Tome-se, por exemplo, seu constante incômodo que manifestava com tudo aquilo que inibe o empreendedorismo, o investimento e o desenvolvimento econômico. Conhecedor na própria pele do que significa empreender no Brasil, sendo ele mesmo um empresário, trazia para o debate econômico uma visão empresarial de eficiência, lúcida e necessária.
Não sem motivos, liderou por dez anos a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), atuando de forma decisiva, na linha de frente, nas batalhas em prol do desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.
Muito embora fosse economista formado na Escola Superior de Economia da Alemanha, ele também levava no seu currículo um diploma em contabilidade, fato que talvez seja desconhecido por muitos. Mas o que não é desconhecido por nós é que dentre as diversas cruzadas enfrentadas pelo guerreiro Plöger, uma delas foi justamente no campo da contabilidade. Ele foi durante 15 anos membro atuante do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), como representante da Abrasca. Além disso, também atuou, indicado pelos demais membros do CPC, como Coordenador de Relações Institucionais do CPC.
Nessa frente contábil, foi mais uma vez uma voz necessária em busca da simplicidade e da objetividade. Bem antes de ser pauta do organismo emissor das normas internacionais de contabilidade, já ouvíamos o Plöger vaticinar que estávamos indo rumo ao excesso nas notas explicativas às demonstrações financeiras. Foi entusiasta, apoiador e partícipe do projeto do CPC que culminou na emissão da Orientação CPC No 07, importante documento no qual o CPC se manifestou no sentido de esclarecer e reforçar que devem ser divulgadas as informações relevantes (e apenas elas) e as que de fato auxiliem os seus leitores. Em poucas palavras, uma orientação que promove o pragmatismo e a objetividade, dois valores tão caros ao nosso colega Plöger. Esse é inclusive o sentido em que as próprias normas internacionais têm se movido. Se hoje concluímos que o Brasil foi precursor nesse movimento ao que ora se unem a maior parte das nações do mundo, sem dúvida nenhuma devemos isso também ao Plöger.
Conquanto tenha nascido na Alemanha, Plöger viveu no Brasil boa parte de sua vida, desde seus nove anos de idade, e naturalizou-se brasileiro em 1980. Alguns traços de sua origem germânica podiam ser facilmente percebidos, não só pelo alemão que falava ao telefone na antessala de reuniões que tivemos com ele ou pelo pragmatismo já referido, mas também por sua retidão, frontalidade e, por que não, sua pontualidade. Nesse último quesito, se uma reunião começasse para além do horário combinado, esse fato certamente seria por ele sublinhado, sem perder o bom humor, outro traço de sua personalidade. Dono de uma risada sonora e contagiante, Plöger também sabia trazer uma leveza que enchia os espaços nos momentos de descontração.
Sem prejuízo de sua origem germânica, seu espírito brasileiro era incontestável e se demonstrava na sua atuação como empresário, líder empresarial e em muitas outras iniciativas, das quais listamos algumas poucas aqui. O Brasil foi seu lar e sua causa. Na fusão germânico-brasileira, era apaixonado por futebol e foi goleiro na juventude. Palmeirense ‘roxo’, ia até pouco tempo atrás assistir os jogos no estádio.
Como começamos esta nota, em 12 de abril de 2020 Plöger nos deixou. Deixou também sua esposa, Claudia, e seus quatro filhos, juntamente com uma legião de familiares, amigos e colegas que muito lamentam sua ausência e a sentirão imensamente. Outrossim, deixa uma inegável contribuição para a economia brasileira, quer seja pela liderança empresarial que representou, quer pelo fomento ao desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, no qual registrou indelevelmente seu legado.
Subscrevem esta nota as seguintes instituições:
FACPC - Fundação de Apoio ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis e suas organizações instituidoras; ABRASCA - Associação Brasileira das Companhias Abertas; APIMEC - Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais; B3 S/A - Brasil, Bolsa, Balcão; CFC - Conselho Federal de Contabilidade; FIPECAFI - Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras; IBRACON - Instituto dos Auditores Independentes do Brasil e organizações participantes da FACPC; ANEFAC - Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade; FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos; IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa; e IBRI - Instituto Brasileiro de Relações com Investidores.
Eduardo Lucano da Ponte
é diretor executivo da Associação Brasileira das Companhias Abertas (ABRASCA)
abrasca@abrasca.org.br