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Neste momento em que o Chapter Zero Brazil, representado no País pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), completa dois anos de atuação voltada a promover ações e engajamento no combate ao aquecimento da Terra, cabe máxima atenção ao relatório 2023 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, que acaba de ser lançado. O documento alerta sobre os graves danos já causados pelo aumento da temperatura global e os riscos presentes e futuros caso o problema não seja mitigado.
Ficou muito claro que os desastres naturais relacionados ao clima estão afetando todo o mundo, com maior contundência as pessoas mais vulneráveis e os ecossistemas mais frágeis, como manguezais, áreas costeiras e semidesérticas. Multiplicam-se no planeta intempéries que extrapolam o nível de normalidade, como as chuvas em volume recorde que atingiram o Litoral Norte de São Paulo no Carnaval.
O uso desordenado e insustentável de energia e do solo vai elevando a temperatura sistematicamente. Isso provoca o aumento da frequência e da intensidade dos eventos climáticos extremos, que causam impactos cada vez mais perigosos. Quando ocorrem no quintal de nossa casa, percebe-se com mais clareza os efeitos da reação da natureza à emissão de gases de efeito estufa, mas é preciso visão holística e global sobre a questão.
É prudente atentar para uma informação crucial do novo relatório do IPCC: a temperatura média mundial já subiu 1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, em consequência direta da queima de combustíveis fósseis em mais de um século. O Acordo de Paris, firmado em 2015, na COP 21 - Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, estabeleceu limite de aumento de 1,5 grau. Portanto, estamos flertando perigosamente com o descumprimento dessa meta, que representaria ameaças muito mais sérias ao meio ambiente, à economia e às populações do que as que já estamos vivenciando. Outra consequência preocupante é o agravamento da insegurança alimentar e hídrica.
Ou seja, o Relatório Síntese sobre Mudança Climática 2023 é claro e conclusivo quanto à premência do cumprimento do Acordo de Paris. Para isso, segundo o documento, são necessárias, na década em curso, reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa em todos os setores. O corte deve ser de quase a metade até 2030, para que a meta de 1,5 grau tenha alguma possibilidade de ser viabilizada. A solução proposta pelo IPCC é o “desenvolvimento resiliente ao clima”, que consiste na integração de medidas de adaptação às mudanças com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases de efeito estufa, de maneira a proporcionar benefícios econômicos e sociais mais amplos e igualmente distribuídos.
Dentre as soluções a serem adotadas, as mais relevantes são as seguintes: expansão do acesso à energia limpa; eletrificação com baixa emissão de carbono; promoção de transporte com zero e/ou baixa emissão de carbono; e a melhora da qualidade do ar. Essas medidas, de fato, promovem benefícios diretos à saúde e à qualidade da vida. Um ponto enfático é que os ganhos econômicos advindos desses avanços seriam equivalentes ou até mesmo superiores aos custos de adoção das soluções ecologicamente corretas.
O relatório destaca, ainda, o poder dos governos para a redução das emissões de gases de efeito estufa, por meio de financiamento público, demonstração clara de vontade política aos investidores e intensificação de medidas eficazes rumo à energia limpa. Mudanças no setor de alimentos, eletricidade, transporte, indústria, construção e uso do solo são classificadas como iniciativas de alta relevância, bem como adoção de estilos de vida mais sustentáveis e de baixo carbono, que melhorariam a saúde e o bem-estar das pessoas. Neste último item, salientamos, destaca-se o consumo mais racional e consciente.
No entanto, independentemente das conclusões do relatório do IPCC, entendemos ser grande a responsabilidade das empresas. Tal constatação é muito clara na recente carta ao mercado divulgada por Larry Fink, CEO da Black Rock. Ele ressalta o quanto as alterações climáticas vêm sendo fator decisivo para as pessoas e as empresas na tomada de decisões sobre investimentos. Os preceitos da governança ambiental, social e corporativa (ESG) tornam-se uma exigência cada vez mais forte. O que até pouco tempo atrás era muito mais uma visão de longo prazo, está se convertendo em fator imperativo, à medida que cresce a conscientização referente aos danos provocados pelo aquecimento terrestre.
Concordamos totalmente com Fink no sentido de que a agenda do clima seja cumprida de modo urgente, sendo merecedora de atenção máxima. Assim, conforme ele recomenda, são necessárias mudanças estruturais mais rápidas nas finanças e nos negócios. Mas, como ser célere e integrar temas cruciais como este aos modelos de negócios?
Essa é uma questão crucial para a governança corporativa e para os conselheiros de administração. Afinal, os iminentes riscos climáticos estão forçando os investidores a reavaliarem os pressupostos básicos para a definição do aporte de seu capital. Ademais, os propósitos das empresas transcendem cada vez mais ao lucro, abrangendo também o bem-estar da sociedade, o que implica meio ambiente mais saudável.
Acreditamos que a Agenda Positiva de Governança, proposta pelo IBGC, apresente medidas que podem apoiar nesse sentido, uma vez que propõe, no pilar ambiental e social, que sejam identificados e divulgados indicadores ao mercado, bem como a justificativa econômica (business case) para a adoção de práticas ligadas às questões ambientais, sociais e de governança corporativa.
Também orientamos que as lideranças estimulem o próprio mercado em que estão inseridas a consumir produtos e serviços sustentáveis, por meio de investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento. Uma empresa é capaz de inspirar outras do mesmo nicho a partir de suas boas práticas e, assim, promover um ecossistema mais sustentável e comprometido. Além do que, ir além da agenda institucional já é um importante passo em um momento que requer total mobilização e comprometimento das pessoas, empresas, organizações da sociedade civil e governos.
Valeria Café e José Pugas
são, respectivamente, diretora de Vocalização e Influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); e coordenador do Comitê Consultivo do Chapter Zero Brazil, capítulo da CGI representado pelo IBGC no país.
comunicacao@ibgc.org.br