Ter sucesso nos dias de hoje parece sinônimo de não ter tempo livre. O incrível é que muitos profissionais ostentam certo orgulho de suas agendas superlativas. Mas qual a relação entre a falta de horas para o lazer e o status social?
Quando eu estava fazendo pesquisas para o livro “O tempo na sua vida”, que escrevi com Fernando Serra, entrevistei um médico que fez uma brilhante carreira em Santa Catarina e construiu um legado de respeito e admiração. Na época, já próximo dos 90 anos, ele vivia uma sóbria e confortável aposentadoria iniciada 20 anos antes e sustentada pela renda de uma carteira de investimentos imobiliários que construiu com seu trabalho.
Ao compartilhar sua trajetória, ele me contou que o início foi bastante duro, mas que ao final da década de 1950 sua rotina se estabilizou. No auge da vida profissional, ele acordava às 7h, tomava café da manhã enquanto lia o jornal e em seguida ia a pé para o hospital. Atendia os pacientes e depois seguia para o consultório particular, onde trabalhava das 10h ao meio-dia. Depois do almoço em casa tirava um rápido cochilo e voltava ao consultório, onde atendia das 14h às 17h antes de fazer uma última visita aos pacientes internados. Era comum chegar em casa às 19h e eventualmente ser chamado para um atendimento urgente à noite ou durante o final de semana – o que segundo ele era raro.
Conversei também com empresários, engenheiros e executivos que tiveram sucesso no passado. Eles me contaram das grandes dificuldades que enfrentaram, mas relataram rotinas de comportadas 40 horas ou, no máximo, 50 horas semanais.
O SUCESSO HOJE
Entrevistei também profissionais com carreiras de sucesso no mercado atual. O que encontrei? Pessoas com jornadas de trabalho que facilmente chegavam a 70 horas semanais, que reclamavam de nível elevado de stress e do pouco tempo para os filhos, para o lazer e para cuidar da própria saúde.
Os motivos apontados para essa jornada intensa foram: competição acentuada, necessidade constante de atualização, grandes demandas financeiras familiares, trânsito, dedicação a networking e presença do trabalho em todos os momentos da vida em função dos novos meios de comunicação.