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Depois de um ano em que o Brasil vivenciou o agravamento da crise política e econômica, a expectativa para 2016 é de um cenário de incertezas. A Empiricus Research, casa independente de análises de ações e demais investimentos, dissociada de corretoras, projeta uma retração de 3% na atividade econômica do país este ano. Em 2015, Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, orientou os investidores a adotarem postura defensiva. Já este ano, ele avalia que há oportunidades, ações baratas na bolsa, desse modo, os investidores com tolerância à volatilidade e pensando em um horizonte de longo prazo, podem tomar pequenas doses de risco.
As operações da consultoria começaram em 2009. No entanto, a Empiricus ganhou maior destaque ao divulgar a tese “O Fim do Brasil”, em julho de 2014. Em novembro do mesmo ano, a Empiricus atualizou o documento, lançando “O Fim do Brasil - O Segundo Mandato”, no qual abordava, entre diversos aspectos, a deterioração das contas públicas e o risco de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A situação das contas públicas continua inquietando o mercado, segundo Felipe Miranda. Quanto a um possível impeachment, ele avalia que houve um esfriamento.
No ano passado em entrevista à Revista RI, Miranda comentou sobre a entrada de Joaquim Levy no ministério da Fazenda. A despeito da alta qualificação do então ministro e da reação positiva do mercado, ele alertou que Levy enfrentaria problemas políticos, teria dificuldades para implementar medidas de ajuste fiscal e poderia deixar o governo - o que se confirmou. O sócio-fundador da Empiricus prevê agora o “retorno silencioso” à Nova Matriz Econômica, com Nelson Barbosa na condução do Ministério da Fazenda.
Acompanhe a seguir a entrevista exclusiva que Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, concedeu à Revista RI:
RI: Quais os resultados da Empiricus em 2015? O número de assinantes avançou? Quantos leitores têm acesso ao conteúdo gratuito?
Felipe Miranda: Avançamos bastante e terminamos 2015 com 110 mil assinantes. Havíamos começado o ano com cerca de 35 mil clientes. Atualmente, a Empiricus tem uma base total de 1,2 milhão de leitores, considerando também os que acessam o nosso conteúdo gratuito. O crescimento foi expressivo e pode ser explicado por uma combinação de fatores. O momento é muito delicado e as pessoas buscam qualificar investimentos e a gestão do patrimônio, portanto, precisam de informações. Depois, ocorreram alguns problemas envolvendo bancos e corretoras, por exemplo, mais recentemente com a TOV (o Banco Central decretou liquidação extrajudicial da corretora TOV devido a “graves violações às normas legais) e, no passado, com o Santander voltando atrás nas suas opiniões. Em 2014, um informativo do banco aos clientes de alta renda com o título “Você e Seu Dinheiro”, relacionava a subida da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais à um cenário de desvalorização do real, alta dos juros e reversão das altas recentes na bolsa. O que era para ser um comunicado rotineiro se transformou em crise. O banco pediu desculpas ao governo pela nota e demitiu a analista. O público começa a perceber a importância das opiniões independentes. Além disso, geramos caixa e investimos na Empiricus. Felizmente, conseguimos acertar bastante. As pessoas reconhecem a marca e a associam a um alto índice de acerto nas previsões.
RI: Quais as novidades para o início de 2016?
Felipe Miranda: Não paramos aqui. No fundo, somos uma empresa de consultoria e também de varejo, que lida com a ponta final e, desta forma, temos que inovar sempre. Temos três produtos engatilhados para o curto prazo. Um deles é estrito de renda fixa. Nesta área, reforçamos a equipe, trouxemos uma pessoa com muita expertise para preparar relatórios específicos. Iremos lançar também um produto de long and short (estratégias de valor relativo em diversos mercados, especialmente no de ações. A ideia é ter bons retornos em cenários favoráveis ou desfavoráveis, desde que estejam bem posicionados – compras e vendas de ativos) e um de distressed assets, que rastreará possibilidades de ganhos com ativos problemáticos, de alto risco. São casos de turn around, reestruturação de dívidas etc.
RI: Em novembro de 2014, a Empiricus lançou "O Fim do Brasil - O Segundo Mandato". Quais foram os maiores acertos? Algo não se confirmou?
Felipe Miranda: As previsões que na época pareciam catastrofistas se demonstraram até comedidas com o passar do tempo. Mas se olharmos bem, a tragédia está aí. O que estava apresentado como uma projeção de futuro, hoje se materializou. Alertamos para as pessoas venderem as ações da Petrobras, venderem ativos de risco em geral. Orientamos para que comprassem dólar e se posicionassem em títulos de inflação e pós-fixados, o que rendeu bastante dinheiro. "O Fim do Brasil - O Segundo Mandato" era uma peça que resumia a projeção de ambiente ruim. O único erro que cometi foi ter sido otimista demais naquele relatório.
RI: Naquela época, no documento foi mencionado o risco de impeachment de Dilma Rousseff, porém, por uma possível vinculação da presidente ao “Petrolão”. Recentemente, o pedido de impeachment que foi elaborado pelos juristas Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, e Miguel Reale Junior é fundamentado nas “pedaladas fiscais”. Na sua avaliação, o risco persiste?
Felipe Miranda: O risco de impeachment diminuiu. Isso esfriou com o rito sendo barrado no Supremo Tribunal Federal (STF) e com as divergências no PMDB. É um cenário ao qual atribuímos uma baixa probabilidade. Nesse momento, não me parece que seja o caminho. Contudo, ressalto que é uma possibilidade latente. Todos os dias há notícias novas da investigação Lava Jato da Polícia Federal. Dadas as informações disponíveis, parece que não há probabilidade. O problema é que existem informações relevantes indisponíveis, assim, não descartamos o impeachment.
RI: Na sua visão, o que aconteceria na economia brasileira mediante eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Felipe Miranda: Em termos práticos, continuaríamos com os problemas fiscais e com os baixos preços das commodities nos impactando negativamente. No entanto, abriria a possibilidade de contarmos com pessoas mais competentes tocando o país, endereçando os problemas. Uma reforma fiscal profunda no atual governo que não acredita nisso, dificilmente vai sair. Lógico que não devemos culpar somente o governo, há diversos fatores complicadores. Porém, com o impeachment haveria esperança de alguma mudança em direção a um programa mais liberal, o que aconteceria em um governo cujo protagonismo não é do PT.
RI: O Brasil está carente de lideranças políticas?
Felipe Miranda: Sem dúvida. O papel da oposição durante todo esse processo foi ruim e ofuscado. Houve falta de apoio popular quando as manifestações assumiram uma cara, de fato, em prol do impeachment. Quando as manifestações eram mais gerais, contra a corrupção, aumento de tarifas e falta de serviços públicos como as de 2013, tiveram participação intensa. Já quando as pessoas se deram conta de que a saída da Dilma representa a entrada do Temer, houve certo esvaziamento. Das discussões sobre a saída potencial da presidente, não emergem outras lideranças.
RI: Há um ano, você comentou em entrevista à Revista RI sobre a gravidade dos desajustes das contas públicas e ressaltou que as “pedaladas fiscais” iriam "cobrar o seu preço". Como avalia a situação das contas públicas agora?
Felipe Miranda: É uma situação explosiva. Se nada for feito, a dívida pode entrar em uma trajetória fora de controle e dentro de três a cinco anos possivelmente estaremos discutindo a renegociação da dívida ou eventual calote. São necessárias reformas para o ajuste fiscal. Caso contrário, o país viverá um cenário de hiperinflação, isto é, o PIB será inflado em termos nominais para uma relação dívida/PIB mais baixa, ou seja, o país pagará a dívida com inflação. Outra possibilidade é a renegociação, se nenhuma providência for tomada. O país trouxe o risco efetivo de crédito soberano para a mesa, algo que parecia superado. Se caminharmos para uma a relação de dívida/PIB de 80% com juros de 15% ao ano, a conta não fecha. Isso é impagável.
RI: Também nesta entrevista à RI, no ano passado, você analisou a nomeação do então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, destacando que a despeito da alta qualificação dele, esbarraria em problemas de natureza política. Qual é sua avaliação sobre a saída de Levy e a entrada de Nelson Barbosa na condução do Ministério da Fazenda? Lembrando que Barbosa era um dos nomes cotados na época da indicação de Levy. Como o mercado vê Nelson Barbosa?
Felipe Miranda: Considero negativa essa mudança no Ministério da Fazenda. O ministro Nelson Barbosa não vai se assumir como um heterodoxo, tão pouco vai assumir publicamente que adotará medidas em prol da Nova Matriz Econômica até porque o espaço fiscal para fazer isso é complicado, o dinheiro acabou. No entanto, escrevi um relatório recentemente e falei sobre a guinada silenciosa que o Nelson Barbosa vai fazer, um retorno à Nova Matriz. Por exemplo, uma possibilidade é a liberação de um pouco de crédito dos bancos públicos, há um pequeno espaço aberto pelas pedaladas para isso. Barbosa defenderá retoricamente que é importante o equilíbrio fiscal, mas na prática dará uma guinada heterodoxa. Ele é o pai desse negócio, ele é economista desenvolvimentista e acha que esse é o caminho para resolver a crise. Além disso, o ministro é subserviente à presidente Dilma, cujo viés ideológico é o mesmo.
RI: Mas se o governo não tem recursos suficientes, como haveria um retorno à Nova Matriz Econômica?
Felipe Miranda: Certamente não seria na intensidade anterior, não ofertando tanto crédito como no passado. Mas não deverá manter os juros altos, justificando que a economia está caindo, exercendo uma pressão tácita sobre o Banco Central. Quero dizer, não serão iniciativas explícitas, de dar subsídios ou baixar os juros na marra, desvalorizar o câmbio, não vai ser assim. Mas sempre que houver espaço, decidirá em prol da heterodoxia.
RI: No combate ao pessimismo, o governo diz que está estudando medidas para estimular a economia e já anunciou que apostará em um novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que terá como prioridade estimular a construção civil. Qual é a sua avaliação?
Felipe Miranda: O novo PAC é uma atrocidade. Não houve nem o PAC anterior, isto é, não teve impacto prático nenhum. Isso é uma desculpa retórica para adotar as mesmas políticas do passado. Ora, realizar o mesmo procedimento e esperar resultado diferente é uma loucura.
RI: E as discussões do governo para que haja o retorno da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira)?
Felipe Miranda: O país necessita de reformas estruturantes, porém, no curto prazo não tem o que fazer. Ninguém quer mais imposto, os brasileiros já pagam muito para o nível de renda, mas no curto prazo, como algo transitório, a CPMF é um mal necessário.
RI: Quais as previsões da Empiricus em relação ao desempenho da economia brasileira? Como será 2016? Ainda teremos um ano difícil pela frente?
Felipe Miranda: Em 2015, projetamos que o PIB teria um recuo de 3,7% (O IBGE anunciará os números do desempenho da economia em 2015 no mês de março). Para 2016, a contração da economia será de 3%. O dólar pode buscar os cinco reais ao longo deste ano e a inflação persistirá bastante alta, superior ao consenso (Boletim Focus), avaliamos que este ano estará mais para 8,5% do que 7,5%. Para nós, a inflação guarda uma relação mais próxima com o fiscal do que as pessoas supõem. Em relação à Selic, do ponto de vista prático, acreditamos que o ciclo será menor do que aquele contemplado na curva. A alta será de 1 a 1,5 ponto percentual. Certamente, 2016 ainda será um ano difícil.
RI: A bolsa minguou, está operando a 38 mil pontos...
Felipe Miranda: O cenário é péssimo. Entretanto, há oportunidades. A bolsa é um instrumento de formação de poupança no longo prazo. Se o investidor entende e tem estômago para tolerar a volatilidade deve aproveitar o sell off, comprar bons ativos a preços atraentes. Há bons papéis que estão baratos. No setor de Papel e Celulose, ações voltaram a ficar baratas, como a Suzano a R$ 16 reais. Por exemplo, não acho má ideia comprar ações do Itaú. Dentro de Consumo, digo consumo não dependente do crédito e, ainda, empresas pouco alavancadas e de margens razoáveis, posso mencionar alternativas como Guararapes e Grendene.
RI: Em 2015 foi recomendada uma postura mais defensiva aos investidores. E agora?
Felipe Miranda: Os investidores devem pensar em longo prazo e manter alguns seguros na carteira, dito isso, acho que podem começar gradativamente, dado o nível de preços das ações, a adicionar beta, isto é, migrar com parcimônia para um portfólio um pouco mais arriscado. Eles devem se apropriar desse sell off para irem montando posições de risco porque o Brasil se resolve, não com esse governo, mas uma hora se resolve. Em relação à renda fixa, com ciclo menor de juros, há possibilidades como Tesouro Prefixado 2018. Hoje, são preferíveis os títulos atrelados à inflação - Tesouro IPCA, uma vez que a inflação continuará alta.
RI: E a preocupante desaceleração da economia chinesa?
Felipe Miranda: É natural que a China não conseguira crescer tanto tempo a ritmo muito acelerado, de 14%, 13% ou 10% ao ano. É uma economia muito estatal que precisa se transformar em economia de mercado. O país era muito pautado nas exportações e a partir de 2008, com a queda da demanda global, teve que se voltar ao mercado doméstico. A China também era muito focada em investimentos, que hoje estão muito estruturados e, portanto, mais um motivo para se voltar ao consumo interno. Essa transição é complexa. Tudo isso é agravado pela falta de transparência dos dados. Os maiores riscos são justamente aqueles que a gente não consegue ver, por isso, a China assusta.
RI: Quais aspectos ou fatores podem consistir em esperanças para a melhoria da economia nos próximos anos?
Felipe Miranda: Infelizmente, a esperança está no imponderável. Se não acontecer nada fora do script, estaremos condenados à recessão este ano e no ano que vem.
O Fim do Brasil - a origem do nome
De acordo com Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, a economia a grosso modo representa consumo e investimento. Assim sendo, no passado, em um cenário de hiperinflação, com os preços em alta e o poder de compra dos salários caindo ao longo do mês, não havia uma sistemática de consumo e também era impossível pensar em investimentos de forma consistente sem regras claras e perenes.
Conforme ele, nasce um Brasil em 1994 a partir do Plano Real. A estabilização da economia, com a recuperação da confiança na moeda, o controle da inflação e definição de um arcabouço institucional confiável. Contudo, foi usada a âncora cambial para manter a inflação sobre controle e, em 1999, surgiram problemas com as contas externas. Para conter a crise cambial, o governo adotou o tripé macroeconômico, regime de metas de inflação, fiscais e câmbio flutuante. “Foi quando atingimos a maturidade”, afirma.
Segundo Felipe Miranda, se metaforicamente nasce um novo país em 1994, com a estabilização da economia, é possível dizer que a partir da Nova Matriz Econômica e suas consequências ocorre o falecimento desse Brasil. Tentando mitigar os efeitos da crise mundial a partir de 2008, o governo brasileiro abandona a ortodoxia na política econômica e migra para um conjunto de medidas heterodoxas de orientação desenvolvimentista. Entre as características da Nova Matriz, ele aponta: