Ponto de Vista

A POLÍTICA DA POLÍTICA ECONÔMICA

Novo Ministro da Fazenda. Cercado na Esplanada por um pequeno grupo de outros ministros com alguma representatividade política, e por um avantajado grupo de insignificâncias ministeriais que são - e sabem que são - apenas moeda de troca para a presidente Dilma Rousseff buscar obter apoio político de um Congresso de baixa extração. Com isso ela pretende, num fatigante processo de “tentativa-e-erro”, encontrar a forma de governar o Brasil até 2018, quando se dará seu velório político.

Mas as ameaças permanecem. O Brasil aguarda o desfecho desta situação em que há duas grandes vertentes: ela se livra do impeachment, ounão. Neste caso, surgem duas variantes – ficamos com Michel Temer ou saem os dois, caso em que teremos novas eleições.

O que muda na Economia? Muito pouco. Continuar tentando corrigir algum desajuste fiscal é, simplesmente, um caminho sem saída, agora: não depende tanto de querer ou não querer.

Em qualquer desses cenários políticos, o ministro Nelson Barbosa representa uma mera transição (sem nenhum demérito, a priori, simplesmente pela previsível força dos fatos futuros). Portanto, deverão ocorrer, sim, ajustes nas políticas previdenciária e trabalhista – áreas, aliás, de prioridade natural, para qualquer governante deste país – mas reformas de âmbito mais profundo, realmente estruturais, ainda esperarão por seu tempo de amadurecimento, infelizmente. Simplificação tributária, num governo como esse, convenhamos, é algo que já nasce com o chamado público informado esboçando, no mínimo, um leve sorriso de ironia, não é mesmo? Mas é claro que andar na direção correta já é meia estrada percorrida.

O ministro seguinte é que poderá fazer bem mais, porque só este é que contará com um suporte político de governo melhor costurado. É fora de dúvida que a variante de novas eleições seria a mais alvissareira – porque a mudança política, quase certamente, seria bem mais profunda. Mas bem mais ampla, a rigor, tende a ser somente a mudança no quadro político quando das eleições de 2018. Política demanda um preciosíssimo e insubstituível insumo: tempo! E sem ele nada se produz de cara muito diversa do que ainda se vê.

Ah, sim, e a economia?
Ora, vem a reboque disto tudo. Mas se não dá para ser otimista com o tempo do ciclo político, dá ao menos para ser menos pessimista que o que se vê, hoje, no mercado, com os rumos da produção.

Estamos antevendo como tendências dominantes, para 2016, os seguintes indicadores:

  • Uma queda no PIB de, no máximo, (-) 2%, provavelmente mais próximo da faixa do (-) 1,5%;
  • Uma taxa básica (SELIC) na faixa de 15% a 16% ao ano, já na virada de abril para maio. O novo patamar inflacionário, por diversas razões, já criou resistências maiores, ainda que com juros reais mais elevados;
  • Dificilmente teremos nossa taxa oficial de inflação, no ano que se inicia, registrando algo melhor que uns 8%, ao final do período.

Para chegarmos a essas projeções, vemos que um terço da economia do país (agronegócio e indústria exportadora, basicamente) está indo bem (com o dólar caro) e, na verdade, tende a ir melhor ainda com a provável entrada dos EUA numa fase de crescimento econômico sustentado – esta, também, nossa previsão específica.

















Vemos ainda que a demanda externa crescente deverá nos proporcionar um efeito líquido final bem positivo, mesmo que o estímulo cambial real e efetivo (já levando em conta, portanto, inflação e importância relativa de nossos principais parceiros comerciais), ao final do ano, esteja um pouco menos forte.

A razão é que, na verdade, nossas exportações têm seu vigor determinado mais até pela retomada do crescimento das principais economias do mundo do que (embora muito importante) pelo próprio câmbio real. Se o crescimento econômico interno é o melhor secretário da Receita Federal(como já disse, com absoluta propriedade, um dos titulares desse cargo, no passado), o crescimento do resto do mundo mais relevante para nós é o melhor ministro da Fazenda(dizemos nós, agora).

Quanto à demanda externa, como estímulo à nossa volta ao crescimento, já deveremos contar, ainda no horizonte 2016, pelo menos com a confirmação de um crescimento real consistente e relativamente vigoroso da economia norte-americana. Note-se que o efeito câmbio real já se faz presente, nitidamente, sobre o quantum de nossas exportações de manufaturados, no global (veja o gráfico, extraído do Boletim de Comércio Exterior, da FUNCEX, de dezembro de 2015).

Alguns dados relevantes de nossas exportações (acumulado de 12 meses - até Nov 2015)

Exportações de manufaturados para os EUA (em relação ao total das exportações brasileiras de manufaturados)
  • 2014: 16,7%;
  • 2015: 19,5% (+17%, aproximadamente)
Manufaturados mais semimanufaturados: representam cerca de 52% das nossas exportações [manufaturados, somente, cerca de 38%].
Agricultura + Pecuária Equivale a cerca de 17% da nossa pauta de Exportações
Agronegócio (inclui celulose):
  • 1º semestre/2014: 43%
  • 1º semestre/2015: 46% (+ 7%, aproximadamente.)
Dos dez principais itens de nossas exportações, seis deles são do Agronegócio (e estes vêm representando participação crescente na pauta de exportações do país: 8% em 2005, 24% em 2010 e 30% em 2015).
O Agronegócio, em 2013, já representava 22,5% do PIB brasileiro.

Fonte: FUNCEX; ESALQ/USP; Ministério da Agricultura; Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior.

NOTE BEM: Se estamos sendo otimistas, que fique claro que, no início de 2015, fomos bem pessimistas – e acertamos, quase na mosca. É bom notar que, ao final de março último, previmos uma queda no PIB real brasileiro entre (-) 3% e (-) 4%, em 2015. Quase ninguém mostrou, publicamente, por essa época, um número desses. Para nos atermos ao que temos de memória, a empresa de consultoria do ex-ministro Maílson da Nóbrega registrou, sim, uma previsão de (-) 3%. Ora, e quando o futuro aconteceu estamos frente a um número quase no limite do pior, dentro de nosso cenário básico. Os dados foram publicados no blog Panorama Financeiro, de 28 de março de 2015, em: www.panoramadorudge.blogspot.com.br.

Luiz Fernando Rudge
é consultor financeiro, foi editor de Economia e Finanças do jornal Folha de S. Paulo e do jornal “Investimento”, da Gazeta Mercantil, e autor de livros sobre mercado financeiro, mercado do ouro e dicionário de finanças.
rudge@enfin.com.br

Uriel de Magalhães
é doutor em Economia pela FGV/EPGE, com Pós-Doutorado em Economia & Finanças pela Universidade de Chicago. Consultor.
uriel.de.magalhaes@gmail.com


Continua...