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Ponto de Vista |
A abertura de capital é uma alternativa de financiamento para empresas em crescimento que possibilita inúmeras vantagens. Segundo a Bovespa a maioria das empresas é motivada pela possibilidade de captar recursos dos investidores para financiar seus projetos de investimento e aumentar sua competitividade. Isso é essencial nos dias de hoje, já que o ambiente empresarial exige que os investimentos em modernização, atualização, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos sejam contínuos.
O professor Luigi Zingales da Universidade de Chicago é co-autor de um artigo acadêmico clássico, publicado em 1995 com o título: “Why do companies go public? An empirical analysis” ou, em tradução livre: “Porque empresas abrem o capital: uma análise empírica”. Segundo o autor o entendimento das razões que levam uma empresa a abrir seu capital deveria ser pré-requisito na definição de qual estratégia deve ser implementada para aumentar de forma consistente o número de empresas Brasileiras que decidem listar suas ações em Bolsa.
O estudo elenca 7 benefícios que deveriam ser vistos como estímulos pró decisão de abrir o capital:
1. Criar uma fonte alternativa de financiamento de longo prazo;
2. Aumentar o poder de barganha em negociações com instituições financeiras uma vez que, para empresas abertas, existem fontes alternativas de capital além de bancos;
3. Diversificação de portfólio para aqueles que detinham inicialmente as ações da companhia que decidiu abrir o capital;
4. Disciplina de gestão forçada pela cobrança e em algumas situações pelo envolvimento do mercado;
5. Aumento de liquidez para as ações da companhia, fato que tem duas consequências também positivas:
a. ativos mais líquidos tendem a valer mais e
b. ações da companhia podem ser usadas como moeda de troca em aquisições e também como instrumento para atrair profissionais e outros sócios para empresa;
6. Dar maior visibilidade, colocando a empresa no radar de investidores e até de clientes. Empresas de capital aberto tendem a ter muito mais visibilidade do que seus pares de capital fechado;
7. Aproveitar situações chamadas de janelas de oportunidade onde ativos de um setor específico ou com características específicas estão precificados a valores próximos ou às vezes até acima de seu valor justo.
Entretanto, temos assistido nos últimos sete anos a um movimento contrário de “fechamento de capital” jogando por terra as vantagens mencionadas de um processo de abertura de capital, o que é muito preocupante. Só em 2014 cinco empresas fizeram ofertas públicas de aquisições (OPAs) para recomprar suas ações no mercado, enquanto que apenas uma (Ourofino) realizou uma oferta inicial de ações (IPO).
Um estudo publicado na Revista RI de Fev/2015 denominado “Por que as empresas fecham capital no Brasil?” desenvolvido pelo administrador Marco Túlio Padilha, procura mostrar as razões para o fechamento com base em uma amostra de 119 empresas que se “deslistaram” de 1999 a 2013: no ano que antecede o fechamento as empresas apresentam maior concentração de participação no capital social pelos controladores, menor alavancagem financeira e menor nível de distribuição de dividendos e retorno sobre os ativos. Uma hipótese de explicação para o autor desse estudo é que a empresa poderia visar benefícios próprios com a depreciação das ações no mercado e posterior recompra via OPA por um preço menor.
O gráfico a seguir evidencia a redução do número de empresas listadas na Bovespa que já teve em 1989 o seu maior nível: 592 companhias abertas com negociação de ações. Em 2007, ano anterior ao da grande crise financeira mundial, tivemos um aumento de 54 novas empresas listadas em relação ao ano anterior, alcançando 404 companhias. Atualmente temos 358 empresas listadas que correspondem a uma redução de 234 empresas (ou 65% das atuais) em relação ao maior nível de 1998 (Fonte: Bovespa).
Evolução da quantidade de empresas listadas na Bovespa – 1980 a 2013
Fonte: Revista RI
O Art. 47 da Instrução CVM 480 trata do “Cancelamento Voluntário” por parte dos emissores de ações condicionado à comprovação de uma das seguintes condições: inexistência de valores mobiliários em circulação; resgate dos valores mobiliários em circulação; vencimento do prazo para pagamento dos valores mobiliários em circulação; anuência de todos os titulares dos valores mobiliários em circulação em relação ao cancelamento do registro; ou qualquer combinação das hipóteses indicadas nos incisos anteriores, desde que alcançada a totalidade dos valores mobiliários.
De 2015 para cá 25 companhias deixaram de ser listadas na CVM pelo motivo de “Cancelamento Voluntário”, sendo 3 neste ano de 2016. Veja a tabela a seguir:
Companhias com “Cancelamento Voluntário” – 2015 – Fev/2016
Fonte: CVM
Comentários Finais
Para alguns especialistas a bolsa perdeu atratividade para as empresas por questões macro-econômicas que inviabilizam a oferta das ações, impactando negativamente a valorização que elas teriam em bolsa e tornando menos interessante para seus controladores vender suas ações. Isto não me satisfaz e explico porque a seguir.
Num artigo recentemente publicado sob o título “A retomada das privatizações e o mercado de capitais”, Thomás Tosta de Sá, presidente do Instituto IBMEC, faz referência a um estudo da consultoria Grant Thornton que ressalta que a atual estrutura do mercado norte-americano desestimula o investimento de longo prazo e encoraja a especulação de curto prazo. Podemos dizer que efeito semelhante ocorre em nosso mercado. Tosta de Sá pontua também que “a utilização do mercado de capitais como instrumento da retomada dos investimentos num momento em que o Governo não tem sequer dinheiro para a manutenção de suas atividades essenciais é o caminho que devemos buscar”.
Temos enfatizado em nossos artigos sobre o tema “O que está dando certo no Brasil” intitulados “O Brasil que dá certo fica escondido” e “O que pode dar certo em 2016” que incentivar a confiança é a chave para a mudança, pois sem confiança não há investimento e sem investimento não há desenvolvimento da economia. Continuamos com uma visão otimista para a bolsa brasileira no longo prazo afirmando: “Nunca desista da Bolsa!”.
Luiz Guilherme Dias
é sócio-diretor da SABE Consultores. Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.
Lg.dias@sabe.com.br