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O profissional de RI (Relações com Investidores) deve assumir o compromisso de melhorar o nível da gestão na economia e sociedade brasileiras. O que o RI faz no âmbito das empresas privadas é buscar ampliar o valor da organização por meio do seu modelo de negócios, muitas vezes único.
As organizações têm muitas rubricas contábeis parecidas, tais como: confiabilidade de TI, percentagem de mulheres e homens, orçamento de marketing e vendas, operações e manutenção, depreciação, juros, etc. O que diferencia uma empresa de sucesso de outra é a sua cultura voltada para o crescimento com rentabilidade, assim como o que diferencia uma sociedade de outra é a sua ênfase em atitudes voltadas para a produtividade, a garantia do Estado de Direito e a livre iniciativa.
Ao focar em ter uma atitude comum à todos os funcionários de uma empresa, ou organização, passa-se a ter uma cultura voltada para fazer acontecer e tornar realidade a visão da direção da empresa. Isso é o que mais falta ao Brasil de hoje: uma cultura e um ambiente institucional voltado para fazer acontecer o plano de negócios desta empresa chamada Brasil com a visão de que: crescer é fundamental, produtividade é essencial e a distribuição da riqueza é uma necessidade.
Escolher e praticar um modelo de negócios eficiente que faça acontecer é o que precisa ser feito para as organizações que compõem o Estado brasileiro. Vários livros mostram que o segredo do sucesso de um país são as suas instituições que incluem fundamentalmente um Estado eficiente.
A falta de um Estado que tenha recursos públicos para executar o que os seus políticos prometem tem levado países como o Brasil, e cidades como Chicago, nos EUA, a anunciar as parcerias público-privadas para viabilizarem suas obras de infraestrutura. Hoje a crise fiscal aflige Estados e Municípios de vários países desenvolvidos. Vence assim o pragmatismo de buscar na iniciativa privada as soluções dos problemas públicos.
Esse caminho precisa ser institucionalizado, uma vez que a grande maioria dos habitantes das cidades brasileiras não pensa no Estado como um agente para o desenvolvimento, mas sim em um agente arrecadador voltado para a proteção de classes e setores com a destinação de recursos de bolsas e auxílios.
Por isso, cerca de 70% dos Municípios brasileiros dependem das transferências do Estado para garantirem a sua sobrevivência. A função é nobre, mas como se sabe o Estado não gera recursos, apenas compartilha os recursos que tomou via taxação do contribuinte. Se o Estado fosse considerado uma empresa, talvez já estivesse com a sua gestão mudada. E voltada para entregar o que prometeu ser executado.
O profissional de RI é um agente privilegiado do mercado neste contexto, já que conhece no âmago a organização onde executa suas funções e conhece também a percepção do investidor nacional e estrangeiro que confia na sua atuação, no seu país, no seu setor e, consequentemente, na sua empresa.
O profissional de RI conhece bem todos os entraves macroeconômicos. Este tabuleiro de xadrez é clássico e o que mais pesa neste contato entre o dono do dinheiro e o tomador do dinheiro é a confiança depositada em relações de longo prazo. O investidor tem que confiar que a empresa é capaz de crescer com rentabilidade e elevado nível de Governança Corporativa (controle) de forma sustentável e o RI tem que confiar na capacidade de apresentar as oportunidades e os riscos para a análise em termos de aplicação - ou não - dos recursos. O Estado brasileiro precisa de profissionais assim.
As enormes oportunidades existentes não estão se transformando em realidade na velocidade que precisamos. E isso afeta o crescimento das nossas empresas em função da queda do PIB (Produto Interno Bruto).
Vamos tirar as amarras do desenvolvimento. O Estado grande e letárgico precisa de profissionais de RI com atributos de análise financeira e econômica que podem ser de valia para acelerar a execução de projetos, planos e diagnósticos exaustivamente examinados, mas nunca executados. Execução é um dos quatro passos da administração (Planejamento, Organização, Execução e Controle) e talvez o seu item mais importante.
RI em Prefeituras
Levantaram-se dúvidas (relatório da FIFA) com relação à velocidade de execução das obras de infraestrutura que já se sabia, desde 2007, que precisariam ser entregues até 2013 (Copa das Confederações), 2014 (Copa do Mundo), 2016 (Olimpíada) enquanto nossos pares internacionais construíram estádios em menos de três anos. Houve dúvidas, também, com relação ao ensino da gestão de negócios no Brasil (relatório de Stanford Business School) e a capacidade do país de reduzir o seu gargalo qualitativo de infraestrutura (assunto BofAML).
A urbanização atingiu níveis elevados no Brasil e a multiplicação de profissionais de RI em Prefeituras, por exemplo, poderia contribuir no Brasil de maneira a multiplicar as melhores práticas junto aos investidores de todo o mundo.
Essa multiplicação de profissionais de RI disseminará os conceitos de plano de negócios, cronograma de execução, planejamento de metas e entrega realista de resultados em termos de custos e prazos. Deixaríamos de ter este cemitério de obras inacabadas.
É muito importante que se mostre que o investidor vai confiar mais nas empresas e organizações que têm números consistentes em sua avaliação passada ("track record"). Atrair capital continua sendo função preponderante e precisamos trabalhar integrados para incutir o trabalho que proporcione sinergia entre atração de capital, gestão de risco, tecnologia e governança corporativa.
Precisamos reerguer a esperança de que temos a capacidade de fazer acontecer e de não decepcionar o resto do mundo. Precisamos melhorar e ampliar todos os nossos portos e aeroportos, rodovias, ferrovias, sistemas de água e saneamento.
A oferta e a demanda não caminharam juntas neste período dos últimos 20 anos faltaram empenho e planejamento e hoje perdemos em produtividade por falta de infraestrutura, educação, segurança e justiça.
Nos últimos 20 anos muita coisa mudou: a expectativa de vida no país passou de 67 para 74 anos; a capitalização de mercado ("market cap") cresceu; o Brasil evoluiu seu peso no mercado mundial de equities. Mas tudo isso está sendo insuficiente para acelerarmos o nosso crescimento do PIB. A solução passa por um Estado mais eficiente e com maior nível de poupança. E os profissionais de RI podem ajudar, tornando-se novos agentes de mudança.
Os profissionais de RI serão novidade para o Estado, mas tradição histórica para qualquer organização que se preze.
Nota: artigo publicado originalmente na Revista RI - Abril.2012 (no. 162).
Silvio Guerra (1956-2012)
Falecido prematuramente aos 56 anos, em 2012, no exercício do cargo de Executivo de RI (Relações com Investidores) da Localiza, foi um visionário e um exemplo brilhante para os profissionais da área, tendo sido reconhecido diversas vezes através de relevantes premiações do setor, como a chancela, por três anos consecutivos, em 2010, 2011 e 2012, de Melhor Executivo de RI do Brasil, concedido pela conceituada publicação norte-americana IR Magazine.