A divulgação, no início de maio, de que quase uma centena das maiores companhias abertas do Reino Unido ainda está muito longe da meta de ter mulheres ocupando, no mínimo, um terço dos assentos nos conselhos de administração até o ano que vem, trouxe novamente à tona a necessidade de ações para maior diversidade entre os conselheiros.
Desta lista, 20 têm conselhos formados exclusivamente por homens ou possuem apenas uma mulher e 74 têm mais de uma conselheira. Entretanto, os assentos femininos não chegam a 25% do total, segundo a The Investment Association (IA), entidade que reúne gestores de investimento cujos ativos sob administração somam 7,7 trilhões de euros. É importante ressaltar que a associação não tem poder para impedir que seus associados invistam nestas empresas, mas, ao fazer o alerta, chama a atenção para esta realidade como forma de influenciar as decisões de investimento.
Com o objetivo de ampliar a diversidade de gênero nos conselhos, os investidores estão se posicionando e impondo mais pressão. Fundos, batizados gender lens, incluem em suas análises de investimento aspectos como o incentivo a lideranças femininas, estímulo para que mulheres tenham acesso ao capital e iniciativas que favoreçam a igualdade no mercado de trabalho e na sociedade.
O ativismo em favor da diversidade é crescente entre as grandes gestoras de fundos, a exemplo da State Street Global Advisors (SSGA), que ganhou projeção ao instalar a estátua da “menina destemida” em frente ao famoso touro de bronze, em Wall Street. É cada vez mais comum a inclusão da demanda de um número mínimo de mulheres nos conselhos, assim como o voto contra chapas que não tenham membros femininos, nas eleições de conselheiros.
A criação do capítulo brasileiro do 30% Club é fruto deste movimento. Criado na Inglaterra em 2010, ele tem entre seus signatários fundos nacionais e estrangeiros, como Petros, Previ, Hermes e Blackrock. No início deste ano, a entidade sinalizou aos presidentes de conselhos das empresas listadas no IBrX-100 da B3 a preocupação dos investidores com a diversidade.
Independentemente da iniciativa, a conscientização de agentes de mercado é o caminho. Pesquisa da McKinsey, de 2018, aponta que empresas diversas étnica e culturalmente têm probabilidade 33% maior de apresentar lucratividade acima da média. Nessa linha, o IBGC, ao lado da B3, IFC e WCD, promove, há quatro anos, o Programa de Mentoria Diversidade em Conselho. Somamos 98 mulheres contempladas – são executivas C-Level, capacitadas para assumir assentos em conselhos de administração, mas ainda fora do network que lhes possa render indicações. Com a inserção promovida pelo programa, ao menos metade das participantes das duas primeiras edições já alcançou postos em conselhos.
Assim como no Brasil, os boards, pelo mundo afora, ainda têm predominância masculina, apesar dos avanços já obtidos para o melhor equilíbrio de gênero entre seus membros. Nos Estados Unidos, as mulheres ocupam 24% dos assentos de conselhos das empresas que fazem parte do ranking S&P 500 e entre as do FTSE 100, no Reino Unido, 29%. De acordo com o Global Board Diversity Tracker, os países com maior participação feminina são a França (42%), Noruega e Suécia (ambos com 37%), Itália (36%) e Finlândia (33%). Mas em geral, a participação feminina não chega a um terço.
A pesquisa Global Directors Survey aponta algumas possíveis causas para este tímido avanço. Os resultados revelaram que, no caso do Brasil, menos de um terço dos entrevistados considera importante o aspecto de gênero e apenas 13%, o de raça ou etnia no processo de recrutamento de conselheiros. Além disso, o levantamento do Global Network of Directors Institute (GNDI), do qual participaram mais de 2.000 conselheiros e especialistas em governança corporativa no mundo, sendo 165 no Brasil, mostra que uma quantidade significativa de conselhos não se dedica ao planejamento sucessório, o que favorece a manutenção de um mesmo perfil entre os seus componentes.
Ressalte-se, entretanto, que a questão da diversidade, seja nos conselhos de administração, nos times executivos ou nas demais áreas de negócios de uma organização, vai muito além do equilíbrio entre gêneros. Ela precisa contemplar, também, aspectos de etnia, credo e orientação sexual. Especificamente no caso dos conselhos, é vital que se acrescentem, inclusive, diferentes formações e experiências. Agregar perspectivas distintas é crucial para a competitividade e a sustentabilidade dos negócios. Mais ainda, em tempos de grandes transformações.
Henrique Luz
é conselheiro certificado pelo IBGC (CCIe), presidente do seu Conselho de Administração e membro independente de conselhos de administração e consultivos.
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