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Temos recebido de alguns de nossos leitores perguntas, questionamentos e sugestões sobre a Orquestra Societária e suas premissas construtivas. Três perguntas, entre as citadas, embasam o presente artigo e suas respostas conduzem a uma proposta de evolução da Orquestra, aqui apresentada.
As perguntas em questão são as seguintes:
Respondendo à primeira pergunta – como repensar a organização, à luz da Orquestra Societária, visando prepará-la para o futuro? – observamos:
Passando à segunda pergunta – É possível os líderes organizacionais desejarem construir uma Orquestra valorizando também outras dimensões? – podemos dizer:
Com respeito à terceira pergunta – o constructo Orquestra Societária pode ser aplicado por analistas e profissionais de investimento do mercado de capitais para analisar empresas e seu futuro? – temos a considerar:
As respostas às três perguntas iniciais criam, a nosso ver, a necessidade e a oportunidade de evoluir a Orquestra Societária e, ao mesmo tempo, demonstrar sua flexibilidade, que pode ser trabalhada conforme a necessidade dos líderes organizacionais, visando ajudá-los em seu trabalho de conduzir a organização do presente até o futuro.
A evolução acima citada está representada na figura da página seguinte, correspondente a uma nova versão da Orquestra Societária, destacando-se algumas novidades, sem, entretanto, modificar os conceitos da Orquestra, do Modelo de Gestão Sustentável (MGS) e da Sinfonia Corporativa (e preservando-se, portanto, os conceitos apresentados na edição 218 desta Revista RI – Sinfonia Corporativa: o gran finale –, cuja releitura recomendamos):
A Orquestra Societária é a organização comprometida verdadeiramente, em sua essência, com a ética, seu propósito e as boas práticas de governança corporativa e de sustentabilidade, em completa harmonia com sua estratégia, instrumentalizada pelo Modelo de Gestão Sustentável, gerando a Sinfonia Corporativa.
O Modelo de Gestão Sustentável – MGS – é o conjunto de princípios, valores e crenças, que se transpõem em práticas de gestão respeitadas, comunicadas e amplamente aplicadas pelos líderes e gestores na organização, suportadas por diversas ferramentas de apoio à administração, visando a performance sustentável e a satisfação de todos os stakeholders.
Essas práticas têm as funções de direcionar, planejar, conectar, executar, controlar, corrigir, energizar e tornar consistentes com a sustentabilidade as principais dimensões da Arquitetura Organizacional – seu desenho ou projeto –, materializando a estratégia, por fim, em resultados sustentáveis.
As funções citadas não são exaustivas, por se tratarem de elementos-chave ao sucesso da Organização, organismo vivo em constante evolução.
Os leitores podem perguntar a si mesmos, diante do desenho da página anterior, no qual mantivemos a ideia do pentagrama, a estrela de cinco vértices ao redor do Modelo de Gestão Sustentável – MGS: tal proposta invalida aquela que temos apresentado tradicionalmente nesta coluna, especialmente a partir da edição 218? Não, o desenho da edição citada se trata de uma variação dessa visão ampliada e pode ser muito útil, conforme as necessidades da liderança, de acordo com as dimensões e demais elementos que se queira enfatizar.
Considerando a nova proposta, os leitores também podem indagar: por que as mudanças são interessantes, conceitualmente e na realidade prática? Em que tais alterações ou enriquecimentos agregam valor à Orquestra Societária? Vejamos:
O propósito, no contexto da Orquestra Societária, corresponde à ideologia central, agregando, ainda, maior nível de objetividade a esse conceito. Note-se que o propósito deve definir, além do que a organização deve ser, o que ela não deve ser.
A agregação do propósito ao lado da ética – e com a qual este também se relaciona – favorece a criação da missão (razão de existir) e da visão organizacionais (como os sócios e líderes vislumbram o status da organização nos anos futuros). Se o propósito for bem redigido, a missão, em especial, será uma resultante natural de sua redação.
Racionalidade – razão e lógica, como preferimos dizer, enfatizando a lógica para maior rigor no uso da razão – e criatividade são preocupações que perpassam o pensamento de Max Weber e elementos imprescindíveis para a continuidade da organização. Sua representação na figura anterior é oportuna: em momentos de grave crise, tais elementos devem existir em prol da resiliência, a capacidade de chegar ao futuro operando sob condições adversas. Aliás, eles devem existir em momentos sem crise também.
Boas estratégias requerem bons modelos de negócios, para serem bem-sucedidas, sendo o modelo de negócio uma espécie de plataforma com base na qual estratégias serão construídas, implantadas e acompanhadas. Como tornar essa afirmativa mais clara para os nossos leitores?
Consideremos o exemplo da assinatura de um software, que ofereça ao comprador várias facilidades, como por exemplo bons e variados recursos de trabalho e atualização tecnológica contínua, elevando a produtividade do comprador. Se o modelo de negócio é a assinatura, a estratégia dirá como vencer concorrentes, conquistar clientes em diferentes mercados e fidelizá-los, ao longo do horizonte de planejamento que se considera. Será a assinatura simples, baseada em FAQ´s (frequently asked questions) a melhor alternativa estratégica para todos os segmentos de mercado?
Se más estratégias podem prejudicar bons modelos de negócio, modelos de negócio inconsistentes podem inviabilizar estratégias que seriam ótimas em outro contexto, mas que não operam milagres para plataformas equivocadas. Lembrando que a crise COVID-19 apresenta às organizações a necessidade de repensar seus modelos de negócios e estratégias, o que reverbera pelos demais vértices da Orquestra Societária: estrutura, processos & tecnologia, projetos e pessoas, reconhecimento & cultura.
Neste ponto, destaca-se, de início, a convergência entre os temas pessoas, cultura e sistema de recompensas. Já a explicitação dos projetos organizacionais expõe a parte da organização que cria sua revitalização. Os projetos correspondem à renovação celular do corpo organizacional e foram objeto da edição 239 – Projetos empresariais: administrando com visão sistêmica. Mesmo assim, líderes poderão evidenciar não os projetos, mas, por exemplo, o conhecimento; ou então uma outra dimensão considerada crítica. O importante é representar o que faz maior sentido para os condutores da organização.
Feitas estas considerações, retornemos ao Modelo de Gestão Sustentável (MGS). Este, conforme preconiza o artigo da edição 218, é composto por oito dimensões básicas, divididas entre dois grupos: o clássico PDCA (Plan / Do / Control / Act) e as dimensões Direcionar, Energizar, Ser sustentável e Conectar, as quais perpassam o PDCA.
Adicionalmente, a edição 229 – Modelo de Gestão Sustentável & seus 20 fundamentos –, bem como as edições 234 e 235 – Como avaliar os fundamentos do modelo de gestão? (partes 1 e 2) – tratam extensivamente dos fundamentos do MGS e de sua avaliação. Como eles são afetados, à luz da evolução proposta nesta edição para a Orquestra Societária?
Na página final deste artigo, apresentamos a resposta à pergunta acima; para nós, relativamente simples, já que não foi alterada a lógica dos artigos acima citados nesta Revista RI. Os 20 fundamentos do MGS apenas foram revisados em sua organização e redação, para incorporar, por exemplo, a razão, a lógica e a criatividade preconizadas por Max Weber. Ademais, alguns exemplos de práticas de trabalho não exaustivas ilustram a aplicação desses fundamentos, permitindo aos leitores compreender como operacionalizar o MGS.
Com respeito ao novo desenho da Orquestra Societária proposto neste artigo, cabe indagar: ele pode ajudar no trabalho de analistas e profissionais de investimento do mercado de capitais? A resposta é sim. A partir das dimensões e elementos representados na figura anterior, é possível formular um amplo conjunto de perguntas, a serem respondidas via área de Relações com Investidores. Indicadores também podem ser criados. Aliás, os 20 fundamentos do MGS vistos a seguir também podem orientar esses profissionais em suas análises. E pode-se criar uma versão da Orquestra para o mercado de capitais. Por que não?
Em tempo, aproveitamos para indagar: a empresa hipotética que demanda aportes de sócios ao longo de anos de trabalho, nunca gerando resultados financeiros, pode ter um problema de modelo de negócio? De modelo de gestão? De gestão propriamente dita? Ponto de atenção: problemas em processos críticos não significam, necessariamente, problemas de modelo de gestão; a menos que estes venham se repetindo reiteradamente.
20 FUNDAMENTOS DO MODELO DE GESTÃO SUSTENTÁVEL (MGS) ASSOCIADOS A OITO DIMENSÕES E OPERACIONALIZADO VIA PRÁTICAS ADOTADAS
Fundamentos (20) | Exemplos de Prãticas de Trabalho que Operacionalizam o Mgs |
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Dimensão Direcionar (6) | Grandes diretrizes organizacionais |
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Dimensão “ser Sustentável” (2) | Sustentabilidade no modelo de negócio |
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Dimensão “energizar” (6) | Pessoas energizadas com maior produtividade |
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9.1 – Aspirações das pessoas |
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9.2 – Conhecimento – líderes e demais colaboradores |
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9.3 – Razão, lógica e criatividade |
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9.4 – Reconhecimento |
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9.5 - Liderança e desenvolvimento de líderes |
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9.6 – Cultura |
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Dimensão “conectar” (6) | Conexões entre vértices da Estrela operacionalizadas via processos técnicos |
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10.1 – Modelo de negócio |
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10.2 – Estratégia – criação e explicitação |
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10.3 – Estratégia – implantação |
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10.4 – Estrutura |
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10.5 – Processos e tecnologia |
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Nota: O PDCA se aplica a todos os 20 fundamentos apresentados acima.
Nosso estimado professor Lélio Lauretti, na edição 242 desta Revista RI, afirma sua esperança em um futuro melhor: “Mais uma mudança a celebrar: o novo propósito do IBGC é “uma governança melhor para uma sociedade melhor”. E o que podemos considerar uma “governança melhor”? Na minha concepção, uma gestão empresarial no estado da arte e fortalecida pelos princípios da Ética e da Lógica.” Estes são elementos que, sem dúvida, devem integrar os fundamentos de um Modelo de Gestão Sustentável (MGS).
Concluímos este artigo desejando que ele seja útil para líderes empresariais e analistas e profissionais de investimento do mercado de capitais. Destacando que a Orquestra Societária, cujo coração é o Modelo de Gestão Sustentável (MGS), constitui-se em uma concepção prática com embasamento científico, fundamentada em dimensões e conceitos amplamente tratados na literatura acadêmica. A lógica científica é aquela que fundamenta todos os elementos representados na figura da Orquestra, como não poderia deixar de ser. A flexibilidade de aplicação da Orquestra aqui sugerida não deve perder de vista os fundamentos que a ciência identifica para este importante constructo chamado organização.
Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com