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ASG & RETENÇÃO DE TALENTOS DESPONTAM COMO PAUTA DE CONSELHOS PÓS-PANDEMIA

Completamos, neste mês de março, um ano sob o impacto da pandemia causada pelo coronavírus. Neste período, passamos por transformações profundas. Vimos também que alguns temas emergiram com força. E não foi por acaso.

As questões ambientais, sociais e de governança (ASG) figuram no topo da lista e são apontados como tendência para a pós-pandemia nas pautas dos conselhos de administração segundo 85% dos participantes da pesquisa “GNDI 2020-2021 Survey Report – Board governance during the Covid-19 crisis: Análise dos Resultados Brasileiros”. Assinada pelo Global Network of Directors Institutes (GNDI), grupo que congrega institutos de governança ao redor do mundo, e que tem o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) como representante no Brasil, a pesquisa dá uma mostra do que os conselheiros de administração projetam para o futuro. Na esteira do ASG, a pesquisa aponta que também estarão na pauta a maior competição por talentos.

O Global Risks Report 2021, publicado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, trouxe, pela primeira vez as questões ambientais no topo dos riscos a serem enfrentados nos próximos dez anos. Na mesma direção seguiu a carta anual de Larry Fink aos CEOs das empresas investidas pela Blackrock. Na edição deste ano, o CEO da gestora dedicou boa parte de suas reflexões às mudanças climáticas e seus impactos.

É preciso reconhecer que os temas não são novos. A responsabilidade corporativa, princípio de governança preconizado pelo Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, há muito prevê que os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas. O mercado financeiro vem batendo nessa tecla, usando seu poder de barganha para incentivar as empresas que realmente se comprometem com aspectos sustentáveis e de diversidade e inclusão.

Então, o que mudou? A crise desencadeada pela pandemia não trouxe problemas ou soluções novos, mas potencializou ambos. É como ver o mundo sob uma lente de aumento. Na esfera pessoal, redescobrimos as tarefas domésticas e a convivência familiar. Ampliando o horizonte, vimos nossas agruras socioeconômicas também ampliadas. No ambiente corporativo não foi diferente. Não há negócio que se mantenha de pé sem colaboradores saudáveis, alinhados ao propósito da organização e engajados – e, portanto, inseridos em um ambiente saudável. Tudo isso está debaixo do chapéu chamado ASG.

O que mudou, portanto, foi o contexto. Percebemos, além da nossa fragilidade individual, o quanto somos dependentes de uma sociedade saudável. Essa bandeira vem sendo levantada pelo mercado financeiro e de capitais – que tem o poder de barganha dos grandes investidores institucionais para provocar uma mudança de mindset. Não à toa, questões como diversidade e práticas ambientais tornaram-se fator decisivo de voto em assembleias ao lado de desempenho econômico-financeiro.

Mas é preciso olhar um pouco mais à frente. No curto prazo a pressão vem dos investidores, mas no longo prazo ela estará por todos os lados. Está vindo por aí uma geração bastante diferente das atuais. São jovens que não ingressaram no mercado de trabalho ou ainda não são tomadores de decisão, mas que muito em breve estarão nesses postos. Essa nova geração pensa e age diferente, além de ser muito consciente daquilo que espera da sociedade. São profissionais que rapidamente mudarão de carreira quando não se identificarem com a cultura e com o propósito da organização; consumidores que facilmente deixarão de consumir produtos que vão contra seus ideais; cidadãos atentos a questões como discriminação e intolerância. Levante a mão quem conciliou o homeoffice com a mentoria reversa de um jovem antenado ou ao menos conhece um caso assim.

Nossas empresas estão preparadas para receber essa nova geração? Não é por acaso que as questões ASG e a retenção de talentos são os temas que despontam na pauta dos conselhos de administração.

Pedro Melo
é diretor geral do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
comunicacao@ibgc.org.br


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