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Uma característica da ECO-92 e da Rio+5 foi a ausência das instituições de mercado em geral. No Brasil, todos os louros para o Fundo Ethical do Banco Real, criado em 2001 com uma política de investimento classificado como de Reponsabilidade Social. Outros termos já circulavam na época, Investimentos Socialmente Responsáveis, Investimentos Sustentáveis. Atualmente quando falamos em investimentos baseados nesses fundamentos, estaremos falando de Investimentos ESG.
A realidade é que o Fundo Ethical marcou a presença dos princípios de sustentabilidade e o que assistimos desde então foi uma evolução lenta, porém constante. Ressaltamos ainda a criação dos níveis de governança corporativa em 2000/2001, do Índice de Sustentabilidade Empresarial, em 2005, ambos pela B3, e do Principle of Responsible Investment – UNPRI em 2006. Na verdade, o período 2000 a 2006 e depois a Rio+20, a criação dos ODS e o Acordo do Clima de Paris foram determinantes na evolução da Agenda.
Mas nesse período o que as instituições de mercado estavam fazendo? Falando da Apimec Brasil, sua atuação vem desde os anos 90, não de forma sistemática. Ela teve atuação importante na sistematização e difusão do Balanço Social. Seminários setoriais do setor de papel e siderurgia. O melhor entendimento do Balanço Social, inspirou ao aprendizado de contabilidade ambiental, atualmente em estágio muito mais avançado. Elaborou pesquisa de conhecimento e engajamento em 2003, na época Responsabilidade Social usando técnica sofisticadas para a época, MaxDiff.
No Congresso de Apimec de 2008, introduzimos um painel sobre Investimentos socialmente responsáveis, outro sobre “A Nova Economia das Mudanças Climáticas” O que é isso? Um tema que não deixou de ser uma provocação pois estávamos em uma época de exploração no pré-sal em águas ultraprofundas. As instituições avançavam de forma pouco sistemática. Imaginem uma brilhante palestra da Embrapa sobre o impacto das mudanças climáticas sobre a agricultura. Esta palestra fez parte de um ciclo de conferências de sustentabilidade que foram relevantes por causa da proximidade do Rio+20.
Em 2012, a Apimec se fez representar na Rio+20 em que no Summit e conviveu com não mais que 10 representantes. Pouco, não é? Mais adiante, promovemos o Ciclo internacional de Conferências ESG Latam no período 2014-2018, em parceria com o B3, EFFAS e depois PRI. Foi uma iniciativa importante pois fez parte da aproximação do mercado de capitais com o ambiente de sustentabilidade.
A última iniciativa foi “Os Diálogos ODS com o Mercado”, em parceria com o UNPRI. Consideramos os ODS um conjunto de objetivos que representam os alicerces da Nova Economia e tem muita importância na Agenda ESG e do clima. Aliás, o termo ESG nasceu de um projeto do Pacto Global.
Selecionamos algumas iniciativas, não todas, mas que denotam um momento, uma visão de futuro que exige uma nova organização, uma nova forma de enxergar o problema.
O mercado de capitais vive um dilema. Os investidores “exigem” retorno, muitos querem alfa agressivo. Mas para buscar alfas temos de nos apoiar em crescimento acima do PIB ou pressionando o próprio PIB a ter um comportamento acelerado. Existem muitos exemplos de países que viveram esses períodos, Japão, Coréia Estados Unidos, China, Índia.
O problema é que os fatores ESG, principalmente o “E” de Meio Ambiente exigem um debate mais profundo sobre “Os Limites do Possível”, frase título do livro de André Lara Resende. Não adianta nos esquivarmos dessa discussão, pois não podemos imaginar um paradigma de crescimento ilimitado quando os recursos são finitos. É um ponto de vista fartamente comentado, mas não temos a solução para o problema. É possível que ela não tenha sido encontrada exatamente porque tratamos como um “quase axioma” no pensamento econômico contemporâneo.
Considerando-se assim a natureza do mercado de capitais temos de rever os fundamentos da relação entre meio ambiente e economia e para tal não basta explorar, mas preservar e igualmente importante priorizar a gestão de resíduos nas estratégias empresariais.
As questões ESG estão na pauta do mercado. Parece ter “caído a ficha” após a declaração do Larry Fink, CEO da BlackRock e a ocorrência da Pandemia em 2020. O mercado mudou, exponenciou ESG e por isso tornou-se importante ir além da discussão em eventos. As instituições estão se organizando para esse debate.
Não dá para pensar que os 3Ps, Responsabilidade Social, Sustentabilidade, Investimentos Socialmente Responsáveis, ESG, ODS sejam tratados como modismo ou greenwashing de momento. Ao contrário, fazem parte de um processo que está em curso, a disrupção econômica baseada nos fatores classificados como ESG.
A ciência econômica começou como ciência humana e mesmo assim relevou a segundo plano os direitos humanos. Quanto ao meio ambiente, bem, seu entendimento dependia da riqueza gerada e esse paradigma não mudou. Floresta em pé? Depende...
Como sempre tenho escrito e vou insistir, ESG faz parte de uma revolução microeconômica, já com preocupações macroeconômicos pelo impacto que as mudanças do clima estão gerando nos negócios. Enquanto continuamos a nos denominar como o país de maior biodiversidade do mundo, 17% da Amazônia, 1/3 do Cerrado e perto de 90% da Mata Atlântica já foram destruídas. Temos de 12 a 14% da água doce no mundo, mas 84% estão Norte e Centro Oeste, 3% no Nordeste e 13% no Sudeste/Sul. Estamos perto do ponto de não retorno.
Mas como chegamos a esse estado de coisas? Se partimos da base da economia ela evoluiu dos fatores de produção:
para:
Essa mudança não pode ser considerada uma novidade dos últimos 30 anos. Uma mudança de tal magnitude no pensamento econômico dos últimos 300 anos tem um forte caráter disruptivo e não somente por transformações tecnológicas. Muitos economistas acham não ser possível, mas pensar dessa forma está ficando inviável para os negócios.
A agenda ESG é irreversível. A preocupação dos agentes reguladores com a agenda é um fato real. As ações regulatórias e autorregulatórias estão se desenvolvendo de forma concreta.
As instituições representativas do mercado estão acompanhando esse processo. Não será diferente na Apimec Brasil que está criando o Comitê ESG com o intuito de congregar seus públicos de associados, analistas certificados, analistas credenciados e especialistas convidados. O Comitê ESG estará ligado ao Conselho de Administração da Apimec e tratará de uma agenda extensa.
A Agenda ESG fará parte da agenda positiva da Apimec Brasil que tem por base o desenvolvimento das relações entre instituições, profissionais de investimentos e investidores. Entre os objetivos ressaltamos a importância da materialidade de eventos globais e setoriais, valuation ESG, gestão de riscos ESG, títulos mobiliários verdes, guia ESG para casas de análise e analistas, ações regulatórias e autorregulatórias etc.
O estágio atual da Agenda ESG das instituições está mais voltado para os investidores institucionais, mas o objetivo da Agenda Apimec envolve levar o tema para as pessoas físicas, considerando-se que o número de CPF´s na B3 quintuplicou nos últimos 5 anos reflexo da queda da taxa de juros. Esse comportamento ainda foi turbinado pela longevidade e reforma da previdência que vão exigir dos investidores mais educação financeira e mais visão de longo prazo. Neste ponto o casamento entre pessoas físicas e investimentos ESG tem tudo para prosperar.
Eduardo Werneck
é presidente do Conselho de Administração da Apimec Brasil e diretor da Resultante ESG.
eduardo.werneck@apimec.com.br