Em outubro de 2003, a Lei Federal nº 10.741, conhecida como “Estatuto do Idoso”, decretou que ficamos velhos quando atingimos 60 anos. Na época, eu tinha 42 e me parecia plenamente razoável ficar velho ao me tornar sexagenário.
No dia 17 de novembro completei 60 anos e hoje me parece totalmente absurdo dizer que sou um velho. Tenho ótima saúde, pratico exercícios regularmente e meu condicionamento físico é melhor do que o de muitos jovens. Por falar em condicionamento físico, uma das atividades em comemoração aos meus 60 anos foi um trekking no Aconcágua acompanhado da Celina, minha companheira de vida, que também se aproxima dos 60.
Em 1969, meu avô paterno morreu. Ele era um senhor que andava com uma bengala e passava os dias sentado em uma cadeira de balanço, pois havia delegado aos filhos o cuidado dos negócios. O velhinho tinha 59 anos.
Agora que sou oficialmente velho, ganhei o direito de estacionar em vagas especiais onde um senhor curvado e de bengalas vai me representar. Só que este senhor curvado de bengalas representava os velhos do passado e está muito longe de representar a média dos meus contemporâneos.
Muitos dos meus amigos e amigas que passaram dos 50 anos ainda estão cheios de energia, correndo maratonas, abrindo novas empresas, decidindo interromper casamentos insatisfatórios, resolvendo transformar hobbies em novos negócios, levando seus conhecimentos para ONGs ou até se lançando em carreiras políticas.
Essa mudança no perfil das pessoas 50+ é tão forte que foi criado um termo para designar este período, a segunda adolescência. A adolescência clássica é um momento de mudanças, sonhos e angústias diante das escolhas. É um período de transição no desenvolvimento físico e psicológico, no qual o ser humano deixa de ser criança e entra na idade adulta. O objetivo cultural da adolescência é preparar a pessoa para assumir o papel de adulto. É o momento de sonhar e de projetar o futuro.
Em um passado recente, quando a expectativa de vida mal passava dos 60 anos, as pessoas ao chegarem aos 50 só pensavam em se acomodar, em aceitar que o jogo já tinha sido jogado e que só restava esperar pacientemente a morte chegar.
Porém, agora que a expectativa de vida daqueles que chegaram aos 50 aponta para os 80 anos, pouco aceitam se acomodar ou se recolher aos aposentos, como sugere a palavra aposentadoria.
Há mais de três décadas trabalho com educação financeira e uma das tônicas sempre foi ensinar as pessoas a se prepararem financeiramente para a aposentadoria. Eu comecei a trabalhar com carteira assinada em 1978, assim passei a ter direito a minha aposentadoria na Universidade Federal de Santa Catarina ao completar 58 anos. Felizmente, tinha reservas financeiras suficientes para tomar essa decisão, no entanto, faltou vontade de parar.
Desse modo, continuei tocando meus planos há muito programados. Resolvi parar uma consultoria que fazia no maior banco privado do Brasil, construí uma casa na fazenda em que nasci, na Serra Catarinense, e resolvi deixar as segundas e sextas-feiras livres para ir para a fazenda e ter tempo para meu lazer predileto: pedalar minha mountain bike ao lado da Celina.
A aventura de ter uma vida com mais tempo livre durou seis meses. Não resisti ao convite para voltar a produzir conteúdo de educação financeira em uma corretora e investi em uma fintech, na qual me tornei conselheiro. Fiquei muito animado e feliz de voltar para o game. Por enquanto, o plano de parar foi transferido para os 70 anos.
Na Universidade Federal de Santa Catarina dou aula de Finanças Pessoais, uma disciplina optativa para alunos de todos os cursos. Atualmente, são cinco turmas que estão sempre lotadas e com filas de espera. Considero este fato extremamente alvissareiro, pois indica que ainda tenho vigor intelectual para atrair jovens alunos para minhas turmas.
Desta forma, continuo podendo fazer o que mais amo na vida, que é ser professor. Continuo ensinando e aprendendo muito com meus alunos e sou extremamente feliz em sala de aula.
Se a adolescência clássica é a época de definir quem o jovem adulto será no futuro, a segunda adolescência é o período de projetar quem o adulto será no futuro. No passado era comum os sexagenários não avistarem motivos para mudar de vida. Nos dias de hoje, os sessentões enxergam 20 ou 30 anos de expectativa de vida e têm vontade e coragem para fazer novos planos.
Você está se preparando para a chegada da velhice? Se não está é bom começar a se preparar logo, pois um dos fatos verdadeiros é que a vida passa muito rápido. Cuide de manter uma boa reserva financeira, cultive o seu capital intelectual, esteja aberto para as novidades do mundo e não se prenda a preconceitos.
Cuide das suas relações familiares e de seus amigos, ter uma família e amigos custa muito caro. Não caro em dinheiro, mas caro em tempo. Lembre-se que nenhum sucesso financeiro compensa um fracasso familiar e os amigos tornam-se ainda mais importantes à medida que envelhecemos.
Você que chegou ou está próximo dos 60 já sabe o que quer ser nessa nova fase de sua vida? Quer continuar tocando a sua vida sem mudanças ou tem projetos guardados no fundo do baú para serem realizados? Suas finanças permitem que você pare ou escolha o que fazer? A forma como você gere seu patrimônio lhe agrada? Seus dependentes são independentes financeiramente?
Em seis décadas ganhamos 30 anos na nossa expectativa de vida, precisamos nos preparar para que este bônus não se transforme em um ônus. Felizmente, estamos vivendo mais não como resultado de termos aumentado a velhice, e sim por termos ganhado a oportunidade de atrasar a entrada da velhice.
Já cheguei aos 60, oficialmente já sou velho. Porém, quero continuar com espírito jovem, tendo novos projetos, encarando novas atividades, buscando oportunidades para melhorar ainda mais a qualidade de minha vida. Ou seja, não quero ficar velho, de fato, tão cedo.
Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br