A COP 26, ocorrida em novembro de 2021, em Glasgow/Escócia, apresentou-se como uma edição emblemática pautada em severas cobranças por estratégias mais efetivas contra o aumento da temperatura do Globo e na fixação de metas para conter esse avanço, de forma que a temperatura não se eleve em mais de 1,5º grau Celsius.
O “clima” da Conferência do Clima foi intenso e marcado por frases de efeito tais como “da retórica para realidade”, reiterando a relevância e urgência da temática. A abordagem exige alternativas ao aquecimento com a eliminação dos combustíveis fósseis e a busca de soluções de uma Economia Verde, com energias renováveis se tornando a base da transição energética proposta.
Estados e Mercado ratificaram a mudança de paradigmas de forma bastante ampliada. Redes de corporações no mundo e no Brasil enfatizaram a força do ESG como palavra de ordem. Como disse o ex-Presidente americano Barack Obama, “o Desenvolvimento Sustentável não se trata de uma corrente partidária”.
A sobrevivência da humanidade no curto prazo está ameaçada se não forem empreendidos esforços reais para as questões que envolvem a mudança do clima. Na mesma esteira, os descompassos sociais precisam ser acolhidos em uma nova ordem, redefinindo nessa mudança de época o caminho para uma sociedade mais justa.
O Estado do Ceará assumiu compromissos para eliminação dos gases do efeito estufa até 2050, como signatário da agenda do Race-to-Zero. O Governador Camilo Santana, em decreto, definiu que até 2030 devem ser executadas as atividades necessárias à redução de 50% das emissões e que em 2050 o Estado do Ceará terá o chamado net-zero, assim como também terá a conclusão o plano de ação climático nos próximos doze meses. Adicionalmente, as palavras precisaram ser ecoadas pelas mídias impressas e sociais para o firmamento dos compromissos, como também as ações em curso nos campos Econômicos, Sociais e Ambientais.
Nessa linha, foi definida como Estratégia Climática Global a implantação de um Hub de Hidrogênio Verde no Estado. Após décadas de resiliência do povo cearense na convivência com a escassez de recursos hídricos, a tecnologia trouxe a escalabilidade e provável viabilidade para um protagonismo do Estado do Ceará em Energias Renováveis seguindo uma tendência mundial do combustível alternativo ao combustível fóssil, o Hidrogênio Verde (H2V).
Vantagens competitivas globais favoreceram a estratégia de recepção de investimentos internacionais no Ceará, em especial, bem como no nordeste do Brasil. Vale ressaltar que o Ceará se encontra no topo das estratégias de transparência das contas públicas entre os estados brasileiros, gerando confiança aos que aportam seus recursos. Também, dentre os estados nordestinos, é o primeiro lugar no ranking em sustentabilidade. Soma-se a educação de excelência das escolas públicas, como modelo brasileiro, seja na formação dos professores nas Universidades do cenário local, seja nas Escolas Técnica Profissionalizantes.
Há o pilar da logística marítima essencial no processo: a parceria do Porto do Pecém com o Porto de Roterdã ressalta as vantagens existentes. Atualmente, o Porto de Roterdã é a porta de entrada na Europa para a recepção do H2V. O transporte, até o momento, tem convergido para apresentação como amônia, elemento que adiciona nitrogênio ao hidrogênio na composição. Importante lembrar a recente ampliação da ZPE - Zona de Processamento de Exportação, do Ceará em quase 2.000 hectares preparados para a instalação do HUB H2V, consolidando a posição privilegiada apresentada na COP 26.
Dentre as construções de base no processo de desenvolvimento econômico, a diplomacia da Inovação e da Ciência tem ganhado uma marca importante na aproximação com grandes centros de Estudos e Pesquisas para a nova abordagem de sustentabilidade, fortalecendo o HUB H2V.
É fato que a transição energética ainda precisa ser justa, trazendo “o sol para todos”. Nesse sentido, o Governo do Estado do Ceará concebeu o Programa Renda do Sol como forma de incentivar a inclusão produtiva e social dos mais vulneráveis em todo o território cearense. O Programa foi pensado no Plano Estratégico de longo Prazo, Ceará 2050, fruto de diálogo com a sociedade, considerando também os principais atores das atividades produtivas e a Academia, oferecendo a perspectiva de uma Renda Básica Inclusiva, com microgeração distribuída de energias fotovoltaicas.
A cooperação foi relatada como um dos maiores diferenciais coletiva, no tríplice hélice formada pela Academia-Mercado-Estado.
O Ceará além de apresentar o modelo do Hub do Hidrogênio Verde na Conferência do Clima - COP 26, se pronunciou sobre o Ecossistema de Transição, os Mangues, entre o Bioma da Caatinga e o Bioma Marinho, ratificando seus compromissos e fortalecendo sua posição em prol do Hidrogênio Verde.
Nas perspectivas sujeitas a adaptação nas novas tendências, os debates se estenderam ao entorno como os veículos híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio no novo desenho da mobilidade urbana, no avanço do Saneamento Básico dentro dos ordenamentos de uma economia circular (Biológica e Técnica), principalmente nas águas de reuso (esgotamento sanitário) e resíduos sólidos na transformação, inclusive, do metano. Para obtenção do hidrogênio foram apresentadas as soluções de segurança hídrica, como exemplo a usina de dessalinização que está sendo construída e a transposição do Rio São Francisco, em fase bem adiantada e, quem sabe, como tecnologias inovadoras, em um futuro muito próximo, associadas às energias renováveis os processos de condensação, dada a elevada umidade relativa do ar da costa cearense, na direção das soluções limpas.
Esse arcabouço de possibilidades se apoia nos centros de pesquisa e a Rede de Educação de Excelência que já demonstraram seu avanço nos projetos das Energias Renováveis e o consequente Hub do Hidrogênio Verde.
O Agir e o Esperançar têm um discurso uníssono na Estratégia Climática Global do Caso Ceará rumo ao Hub do Hidrogênio Verde na Transição Energética Justa.
A COP 26 pode ainda não ter chegado aos melhores acordos, mas tem avançado com maior velocidade no novo mindset. Estados ou unidades subnacionais extremamente vulneráveis poderão se reorganizar em uma nova matriz de produção e geração de emprego e renda diante do novo contexto.
Os debates e conferências definiram de forma mais aprofundada o papel na década dos Oceanos, reforçando o Estado e Mercado ESG nos horizontes e soluções da blue economy: na descarbonização e no seu uso ordenado, na preservação e conservação do bioma marinho, no ecossistema de transição mangrove no blue carbon, no berçário dos oceanos e na captação robusta de dióxido de carbono superior ao das florestas da Amazônia. Ainda, a observação sensível do bioma de caatinga que, embora de baixa emissão, possui impactos imensuráveis com o aquecimento global em possíveis áreas em desertificação.
Muitas informações, que tiveram palavras de ordem como resiliência e adaptação, defendendo ações imediatas para evitar situações desfavoráveis e irreversíveis para o Globo.
Networkings para investimentos e financiamentos patrocinadas por ONGs Internacionais e Estados ressaltaram a importância da regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris, na instrumentalização do mercado de carbono, com cifras bilionárias em dólares para a essa transição.
O Brasil, através de sua chancelaria, demonstrou estar satisfeito com o avanço ocorrido, não obstante a percepção na COP 26 do distanciamento das principais rodadas. Empresas brasileiras merecem destaque, dentre elas a Malwee e Klabin, que se apresentaram antenadas e alinhadas às tendências e ações da Conferência em exposições no Brazil Climate Action Hub e em outros pavilhões importantes.
No EuroClima Pavilion, cidades e estados brasileiros apresentaram também projetos de larga envergadura para os propósitos da COP. Momentos do Brasil elucidaram as diferenças existentes entre discursos e realidade nas questões envolvendo povos originários.
Tratou-se de uma COP que teve muitos debates de mercado e avaliações das diferenças que ampliaram o escopo dos diálogos da Conferência do Clima. O mundo mostra seus “nós” da complexidade em uma visão sistêmica e suas inúmeras transversalidades socioambientais e econômicas.
Lição final: O mundo pós-pandemia deixou marcas profundas e dores para uma superação extremamente acelerada e definida com avanços tecnológicos e preocupações profundas com as mudanças climáticas. O engajamento e ações com velocidade da sociedade, governos e mercado precisam de planos rapidamente executáveis para atravessarmos os desafios apontados.
Enfim, fica esse pequeno registro de uma lente presente na COP 26 e o agradecimento pela aprendizagem com todos os parceiros nessa jornada.
Célio Fernando B. Melo
é economista, mestre em negócios internacionais (UNIFOR), doutorando em RI (UL/ISCSP), Vice-presidente Apimec Brasil, Conselheiro Consultivo CDP LatAm, Sócio BFA. Secretário Executivo Casa Civil - Governo do Estado do Ceará.
celio.melo@bfa.com.br