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Com o olhar voltado ao oceano desde pequeno, o engenheiro naval Flavio Andrade sempre esteve atento às oportunidades na vida. Estudou, estagiou, negociou, criou e se capitalizou para dar forma ao sonho maior: a própria empresa, focada em serviços marítimos. Em 2007, realiza seu sonho, criando no Rio de Janeiro a OceanPact (OPCT3) - que, em 12 de fevereiro último, completou um ano de abertura de capital na B3. Considerada uma das principais prestadoras de suporte marítimo no Brasil – a OceanPact oferece serviços para estudo, proteção, monitoramento e uso sustentável do mar, do litoral e dos recursos marinhos para clientes, principalmente, no setor de óleo e gás, atuando também em energia, mineração, telecomunicações, portuário, navegação, turismo, pesca e aqüicultura.
A experiência e capacidade em resposta a emergências e gerenciamento de crises - parte da sua cultura e do DNA corporativo - deixa a OceanPact em posição diferenciada para apoiar seus clientes com segurança e eficiência em todas as atividades relacionadas ao mar., investindo constantemente em pesquisa e inovação.
A fala é tranquila, centrada, combinando com um homem de 57 anos, experiente na vida e seguro no que faz. Até no futebol - esporte para o qual dá pouca atenção, mas tem lá a sua bandeira; ele é “moderadamente tricolor” – demonstra calma. Engana-se, porém, quem arrisca dizer que é fleumático, conformado. Ao contrário. Flavio Andrade é o CEO da OceanPact, companhia listada na B3, há um ano, com robustos 59% de free float.
Velejador desde os 9 anos, Flavio, carioca da gema, de olhar inquieto e ao mesmo tempo analítico, já aportou pelos quatro cantos do Rio, Bahia, Ceará e ainda este mês estará de volta à Noruega e Estados Unidos. Sempre muito ativo, falando à Revista RI, ele dá a receita de como se organizar e crescer profissionalmente. Acompanhe a entrevista.
RI: Como você chegou ao mar?
Flavio Andrade: Estou na água desde cedo. Aos 9 anos já velejava e curti tanto que nunca mais larguei. Sempre gostei do mar e me preocupei com o meio ambiente, daí para seguir a área de navegação não foi difícil.
RI: Você é engenheiro naval e sempre teve espírito empreendedor, buscando inovar por onde passou.
Flavio Andrade: Sim. Estou atento ao meu trabalho permanentemente e busco conhecer mais e mais para criar novos produtos e serviços. Formado pela UFRJ fui para o Estaleiro Mauá (1987) trabalhar em projetos de navios, saindo de lá três anos depois. Aí vi oportunidade na pesca.
RI: Ok, ainda dentro do mar, mas como isso se deu?
Flavio Andrade: A lagosta pescada na costa da África estava acabando e o Senegal (tradicional produtor desse crustáceo) parou de exportar, por conta da pesca predatória. Conheci um francês que comprava lagosta viva e, logo, falei que tínhamos muitas no Brasil – para surpresa dele à época. Fui para Fortaleza e passei a vender lagosta viva.
RI: No Brasil há mais cuidados na pesca da lagosta?
Flavio Andrade: Nada. A pesca de rede é predatória e vi o Brasil indo para o mesmo caminho de países africanos...
RI: Depois disso, voltou pros navios?
Flavio Andrade: Curiosamente descobri que praticamente toda embarcação (pequena ou grande) tinha vazamento de óleo. No final dos anos 90 era “comum” essa ocorrência e eu pensei que deveríamos construir barcos melhores a fim de evitar esses vazamentos. Cabe lembrar que em janeiro de 2000 houve um grande vazamento (rompimento de duto da Petrobras, ligando a Reduc à Ilha do Governador), sendo despejados 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara...
RI: Esse mega acidente foi um gatilho?
Flavio Andrade: Sem dúvida. Fui chamado de volta à empresa em que trabalhava. A Petrobras nos acionou para contenção do óleo. Eu que já conhecia empresas da Noruega e do Canadá nesta área, ajudei no Plano de Emergência. E como queria ser sócio da empresa, e não mais colaborador, logo depois resolvi tentar o vôo solo.
RI: Daí nasce a OceanPact, focada em serviços marítimos?
Flavio Andrade: Exato. Foi em 2007. Criei e patenteei uma solução (cerco fixo com barreiras de contenção), que cercava a plataforma no mar em forma espiral. A ideia era formatar a consultoria, especializada na prevenção de derramamento de óleo.
RI: E a coisa vingou por aí ou você teve outro insight?
Flavio Andrade: Até 2006 havia muitos leilões, com a quebra do monopólio da Petrobras, e, assim, surgiram mais empresas, mais negócios e, claro, mais serviços para gente também. Até que um dia, depois de feito o plano, fomos desafiados a implementá-lo. Corremos para nos adaptar, adquirir equipamentos (importados), montar equipes e assim conseguimos superar o desafio.
RI: Acidentes sempre geram prejuízo, mas criam oportunidades também?
Flavio Andrade: Em nosso caso houve uma oportunidade. Eu passei três meses no Golfo do México, em 2010 (a plataforma marinha Deepwater Horizon explodiu na costa da Louisiana, deixando 11 mortos e o maior derramamento de petróleo da história dos Estados Unidos). Fui como subcontratado da O´Brien´s e, durante o trabalho, pensei em formar parceria com eles. Propus então uma joint venture (50% para cada) e eles aceitaram, trabalhando apenas em projetos e na inteligência do negócio. A OceanPact cuidaria da operação.
RI: E qual a dependência da OceanPact com a Petrobras?
Flavio Andrade: Em 2013 tínhamos 9 navios. Com os leilões parados, e a Petrobras exigindo só navios novos, e produzidos no Brasil, decidimos buscar um Fundo de Private Equity, que virou nosso sócio naquele momento. Em 2013 apenas 1% do nosso faturamento vinha da Petrobras, já em 2016 o percentual saltou para 48%. Atualmente operamos com 34 navios e 70% do nosso faturamento tem origem na Petrobras.
RI: E os próximos passos já miravam a abertura de capital?
Flavio Andrade: Veja, cuidamos bem da gestão. Contratamos um CFO do mercado e estruturamos duas emissões de debêntures (R$ 200 MM e R$ 60 MM, respectivamente). Partimos para fazer medições em instalações offshore e fizemos nova joint venture, desta vez com a Gardline, empresa familiar do Reino Unido, e depois compramos a parte deles.
RI: E a preocupação ambiental, como ficou?
Flavio Andrade: Esta é nossa preocupação permanente na companhia. Estamos sempre alinhados ao Ibama, hoje temos equipes com biólogos e oceanógrafos colhendo materiais em grande profundidade marítima, medindo temperatura, ondas, ventos, correntes, salinidade da água etc. Em nosso segmento hoje estamos completos, com inspeção, manutenção e reparos.
RI: Pode-se dizer que vocês “mergulharam” na ODS 14?
Flavio Andrade: Literalmente... hoje 45% do nosso faturamento são de serviços ao meio ambiente.
RI: E o IPO? Vocês fizeram no momento certo?
Flavio Andrade: Sim, captamos R$ 800 MM líquidos há um ano, na B3, e aceleramos os negócios.
RI: Qual a estrutura de capital da OceanPact?
Flavio Andrade: Eu e os demais executivos temos 41% das ações e os outros 59% estão no mercado (sendo 14% nas mãos da Dínamo).
RI: O Mercado de Capitais é um caminho ideal para quem pretende crescer?
Flavio Andrade: É o melhor caminho! Apesar de dificuldades que todos encontramos em momentos diferentes, o mercado de capitais é um caminho certo e equilibrado para o crescimento de uma companhia.
RI: Para finalizar, dentro da “Economia Azul”, quais segmentos devem crescer mais?
Flavio Andrade: Em primeiro lugar, energia. Diferentemente da velha economia, que cuidava prioritariamente de transportes, portos e pesca, a nova é voltada para a produção de energia: eólica, de ondas, correntes etc... e agora partindo para apoiar a descarbonização, com o hidrogênio verde e também na produção alimentos, sem esquecer sua vocação para o turismo e inspiração para nós todos. O mar nos dá muitas oportunidades.