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OS DESAFIOS DA AVALIAÇÃO DAS STARTUPS

Em março de 2021, promovemos o 2º Web Encontro APIMEC BRASIL com o tema “Quanto Vale uma Startup?”, contando com a presença de uma incubadora de empresas nascentes (startups), gestores de fundos especializados e consultores. O evento foi de muita qualidade, trazendo informações sobre as técnicas de seleção de startups, para fins de “acolhimento”, investimento e de desinvestimento.

Tendo em vista a temática colocada, muito se falou sobre valuation, num cenário de muita incerteza, seja setorial, tecnológico, gerencial ou de padrão de financiamento. Decidiu-se, então, dar continuidade ao assunto em nova edição, que seria focada no Desafio do Valuation das Startups, pela vista dos analistas de investimentos. Infelizmente, nossa agenda foi prejudicada pela continuidade da pandemia da Covid19, que colocou outros temas como prioritários.

Agora, em abril de 2022, retomamos o tema, inclusive considerando que algumas startups brasileiras bem-sucedidas, começaram a acessar o mercado de capitais doméstico e internacional, destacando-se algumas fintechs, empresas de tecnologia e serviços financeiros.

A APIMEC BRASIL, como associação de analistas de investimentos, certificadora e autorreguladora da atividade, está convidando analistas, gestores e profissionais de RI, para uma reflexão prévia à nova edição, focada nos desafios do valuation, como já comentado.

No nosso entendimento, o desafio começa já na análise setorial, por vezes de um setor também nascente, com novas conexões e circularidades ou, em setores já consolidados, com o mapeamento do potencial de “destruição criativa” de empresas disruptivas.

A pós-pandemia também acrescenta novas interrogações, como a relação físico/digital, a requalificação dos recursos humanos e novas técnicas gerenciais e de governança.

Finalmente, ficou evidente que a análise de investimentos, seja setorial ou de empresas, tem que incorporar os efeitos das mudanças climáticas e demais aspectos socioambientais.

Já a nível da análise das empresas, especialmente usando a técnica fundamentalista, o analista tem que refletir sobre a pertinência e viabilidade das técnicas tradicionais, a saber, projeções de fluxos de caixa e lucros, em cenário de muita incerteza e risco, que também impacta o próprio cálculo da perpetuidade e taxa de desconto para o VALOR PRESENTE. A taxa de desconto pela metodologia WACC - custo ponderado do capital –, por exemplo, requer reflexões menos convencionais sobre estrutura de capital, risco e beta setorial.

Assim, as startups tendem a ser precificadas com maior conservadorismo, mas paradoxalmente, as “vencedoras” acabam recebendo valorização generosa quando conseguem acessar o mercado de capitais, notadamente a abertura de capital e negociação de bolsa. Ai, o analista de investimentos se defronta com um novo desafio, ou seja, fazer uma recomendação de investimento independente, desapaixonada, bem fundamentada e com técnicas que incorporem também fatores ASG – Ambiental, Social e de Governança (ESG – Environmental, Social and Governance).

Partindo para um lado mais pragmático do tema, observamos que o Valuation já vem ganhando uma dinâmica inovadora e mais interativa. Em um mundo em constante transformação a avaliação estruturada de ativos intangíveis será uma constante decisiva para a tomada decisão das partes envolvidas em todo tipo de negociação.

Neste contexto, as avaliações tenderão a ser cada vez mais multidisciplinares especialmente na interconectividade entre as áreas de finanças, marketing, jurídica, recursos e desenvolvimento humano, sustentabilidade, comunicação e a própria governança corporativa como um todo.

O desafio será mapear o “DNA atual” da empresa e a essência de seus atributos positivos e negativos na busca de um permanente ajuste desse “DNA Futuro” ante um ambiente a ser projetado em permanente mutação, onde as oportunidades e a concorrência com certeza serão disruptivos.

Se olharmos apenas os movimentos atuais em curso, como virtualização e metaverso, universo cripto, big data, Inteligência Artificial e a “Nova” Sustentabilidade com a junção da Governança Corporativa na direção de Adequação ASG (do ESG do inglês), já temos um caminho sendo trilhado na direção do novo desenho do ambiente empresarial que se avizinha.

Uma avaliação interativa por uma matriz dinâmica de atributos positivos e negativos deverá interagir com os tradicionais Fluxo de Caixa Descontado e análise por múltiplos, cabendo ao analista de investimentos a desafiadora missão de além do lado econômico-financeiro e dos aspectos ASG, fazer um valuation dinâmico em função das inevitáveis mudanças ou mutações que esses atributos sofrerão.

No caminho desta adequação do processo de avaliação, sejam das startups ou mesmo das empresas de uma maneira geral, destacamos alguns atributos que devem ser foco na avaliação: acesso a incentivos “verdes”; engajamento de colaboradores internos e externos a cultura/essência da empresa; desenvolvimento humano permanente; cuidados com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados); auditoria e contingência da área de TI; ambiente propicio a inovação; monitoramento pertinente de fornecedores e parceiros de negócio; monitoramento da comunicação de alto impacto; eBranding e metaBranding, entre outros.


Lucy Sousa e Ricardo Sirotsky
são, respectivamente, Presidente Executiva e 1º. Conselheiro Suplente e Membro da Comissão de Eventos da APIMEC BRASIL..
www.apimec.com.br


Continua...