NEM SEMPRE O QUE VEMOS É DE FATO, O QUE ENXERGAMOS!
Como é importante olhar para a diversidade em todos os seus aspectos, inclusive garantindo a integração geracional tanto na vida na vida quanto nos negócios. Tudo passa a fazer ainda mais sentido quando vemos organizações e marcas se conectando cada vez mais pelo propósito.
Recentemente, no livro Os Conselheiros no qual sou coautora, escrevi sobre o meu propósito que identifiquei ao completar 50 anos. Naquela ocasião, me permiti um período sabático de carreira e vida. Internalizei minha busca pelo essencial e percebi que ao atingir a maturidade, meu propósito clamava para que eu fosse além. Importante perceber que ao longo da vida, o propósito consegue se adaptar e permite-nos avançar com provocações mais bem sedimentadas. Essa é a beleza de nos permitir ressignificar a vida e buscar novas possibilidades, uma nova perspectiva que aponta para novos horizontes, que nos faz colocar o pé na água e nos inspira a mergulhar.
O legado do propósito começou a existir mais forte a partir da geração dos Millenials e se intensificou após a pandemia da Covid-19. O movimento de valorizar a vida e as atividades empresariais é capaz de agregar uma sociedade mais justa, consciente e diversa em todos os sentidos, equilibrada pela geração de empregos e novas formas de trabalho, independente de raça, gênero ou idade. Ser prateado é ter longevidade com bem-estar, valorizando mais a felicidade e como jovens experientes, cuidando das trajetórias que percorremos e sobre quem nos tornamos ao longo dela.
Definitivamente, hoje, poucos 50+ pensam em parar e até arriscaria dizer que, ninguém pensa hoje em se aposentar aos 50. Considerando que nossa expectativa de vida praticamente duplicou, percebemos que podemos ser ativos até os 80+. Pelos gráficos do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da United Nations, a pirâmide etária brasileira apresenta uma outra forma que aquela de 50 anos atrás. Segundo o IBGE, a população madura 50+ representa 55 bilhões de brasileiros ou 25% da população brasileira. No mercado faltam iniciativas, produtos e serviços adaptados e voltados para esse público e na era data driven, Layla Vallias, fundadora do Data8 em recente entrevista à CNN Brasil, informou tratar-se de um mercado que movimenta aproximadamente, R$2 trilhões de reais ano no Brasil e no mundo, US$22 trilhões ano. Estudos da Data8 indicam que 85% do público 50+ acessa a internet diariamente, estão conectados e conseguem navegar bem em algumas tecnologias digitais com forte presença nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens. Alguns ainda são adeptos aos games. Apesar disso, o público maduro é ainda invisível para a maioria das empresas e startups, o que deixa muito dinheiro na mesa.
O envelhecimento populacional pode trazer um impacto muito positivo no mundo dos negócios e o grande desafio está em não colocar todos os 50+ em um único bolo. Existe a necessidade de entender corretamente as necessidades, anseios e desejos em cada etapa na segmentação etária, assim como fazemos entre as faixas etárias infantis. Tratar a segmentação desse mercado nos permitirá conhecer a real necessidade do público-alvo e buscar soluções mais aderentes por cada grupo, 50, 60, 70 e 80.
A população sênior mudou e está ainda mais exigente e empoderada. Os jovens seniores, maduros e experientes possuem o entendimento do que querem e precisam para viverem melhor. Por outro lado, as empresas precisam gerenciar seus planos estratégicos para que atendam boa parte das necessidades e desejos desse público. A maturidade para falar de 50+ nos exige adaptação desde os produtos vistos no mercado até a comunicação e a publicidade direcionada. Talvez, a exigência não seja criar algo tão diferente do que estamos acostumados, mas as adaptações são prementes para que caibam em um público que sabe efetivamente o que quer, pela experiência que possui. O número de influencers digitais mais maduros cresce e para deixarmos de ser invisíveis, precisamos nos colocar como protagonistas.
Vivemos um momento único convivendo com 4 gerações no mercado de trabalho. Nunca tivemos tantas gerações juntas convivendo em um mesmo ambiente de trabalho e nunca passamos por uma situação intergeracional com toda a aceleração de transformação digital como a que vivemos hoje. Com certeza, daqui a alguns poucos anos, teremos uma nova geração aportando. Dos baby boomers, passando pelas gerações X, Y (ou millenials) até a mais atual geração Z, daqui a pouco teremos a Alpha entrando no mercado de trabalho. Dessa forma, esse momento exige o pensar multigeracional e requer um mindset de inovação e adaptabilidade para pensarmos de forma criativa e ao mesmo tempo, disruptiva, para entregar soluções e produtos mais aderentes as necessidade de cada segmento pós 50.
Estando nesse grupo, penso e pratico que, quanto menos eu sei , mais eu quero aprender. Por essa razão, recentemente, em viagem ao Canadá, me dispus a fazer um laboratório humano visitando a Collision Conference, evento de tecnologia e inovação, sendo voluntária e estudando por duas semanas com pessoas da geração Z que possuem entre 18 a 25 anos. Em pesquisa aplicada, me surpreendi com o resultado obtido na pergunta sobre o propósito de estarem fazendo um intercâmbio além de estudarem o novo idioma: 47% dos respondentes buscavam novas experiências de vida, e 23% queriam ter contato com novas culturas. Ou seja, 70% estavam vivendo o “wanderlust”. Da Collision Conference, identifiquei que no mundo das startups, existem oportunidades interessantes com as deeptechs, inteligência artificial e algumas focadas em longevidade para esse público 50+, as agetechs.
Retornando ao Brasil, mais recentemente, conversei com Fernando Potsch, CEO da Senior Tech Ventures, uma venture builder que identifica, seleciona e investe em startups com soluções para o público sênior. Como especialista em longevidade e negócios de impacto, ele iniciou falando sobre o mercado em ascensão, considerado pela ONU uma das quatro megatendências do século XXI. Fernando Potsch contextualiza a sua missão com o ressignificar da velhice. Fato que a geração 50+ não permite mais que a velhice entre em seus planos atuais. Cita ainda que, existe um oceano prateado de oportunidades que permite o surgimento de novos modelos de negócios associados a revolução comportamental, estrutural e econômica causada pelos seniores. Através desse mapeamento de necessidades da geração sênior, ele busca soluções tecnológicas para potencializar esse mercado. Atua hoje com 7 startups e possui o desafio enorme de escalar para 15 no 2º ano, considerando as teses de investimento com foco em turismo, educação continuada e trabalho, planejamento financeiro, saúde e qualidade de vida, mobilidade, casas inteligentes e varejo.
O oceano prateado de oportunidades está com ondas boas para o surf da longevidade e pensar de forma associada intergeracional faz todo sentido. Por essa razão, considerar os alinhamentos de propósito e pensar estratégico direcionando esforços a criação de soluções adaptadas as faixas seniores de idades 50+ e traduzir as teses focadas no bem-estar, mais que nas doenças do envelhecimento, na qualidade de vida, na experiência, no empreendedorismo exige uma convivência multigeracional para pensarmos diferente. Associar o pensamento disruptivo, quebrando as barreiras do idadismo, evitar que o preconceito exerça sua força mais perversa no ambiente de trabalho e reconhecer os benefícios da diversidade em todas as dimensões é a base para a geração de valor em um mercado exigente de maior criatividade e inovação.
Entender as características e expectativas das gerações no mercado de trabalho tem sido um desafio estratégico para as organizações e a capacidade de alinhar e direcionar, de forma efetiva, os esforços nas organizações proporciona a melhor captação e a retenção de talentos. Desafios geracionais oxigenam internamente e a interação das diversas gerações existentes no mercado proporcionam o descortinar da idade e a quebra de paradigmas.
Nesse mar de oportunidades prateadas, fica a seguinte pergunta: Qual idade você teria se não soubesse a idade que tem?
Luciana Tannure
é Estrategista de negócios e mentora empresarial. Executiva com mais de 28 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais. Conselheira Consultiva certificada, Vice coordenadora da Comissão de Governança e Estratégia Empresarial pela Board Academy BR. Empreendedora e palestrante. Engenheira formada pela PUC-RJ com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e pós-graduação em Finanças Corporativas e Sistemas de TI.
luciana.tannure@gmail.com