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Nas duas edições anteriores, extraordinariamente dedicadas às enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul, a partir de maio deste ano, tratamos, entre outros temas relevantes, da Gestão Estratégica de Riscos e, especialmente, de Riscos Climáticos, questão que se tornou crítica para as organizações de todos os tipos e tamanhos.
Na edição 282, além de mostrar os contextos constitucional e legal - e a importância de um forte apoio federativo ao RS, Estado importante da República Federativa do Brasil - introduzimos o tema acima mencionado, um dos pontos nevrálgicos relacionados ao ocorrido, especialmente no que tange à Administração Pública.
Quanto à edição 283, nela entrevistamos o especialista em riscos Sérgio Akira Sato, que apresentou sua visão e sugestões sobre como a gestão de riscos climáticos pode contribuir para evitar e/ou mitigar os problemas originados por enchentes e outros eventos climáticos em grandes cidades e áreas rurais brasileiras.
Nesta edição 284, a seção Orquestra Societária, também em caráter extraordinário, e assinada em conjunto com Márcia Sobotyk, secretária geral do Portal Acionista, tem o propósito de ouvir pessoas que vivenciaram e ainda vivenciam a tragédia climática do Rio Grande do Sul.
Assim, entrevistamos quatro convidadas, incluindo a própria Márcia Sobotyk, pedindo-lhes que opinassem sobre o ocorrido e apresentando-lhes as seguintes perguntas, como guias para seus depoimentos breves, mas com muita densidade de conteúdo:
Além de Márcia Sobotyk, são também nossas entrevistadas as cidadãs gaúchas Cátia Chagas, jornalista, Cíntia Martin Figueiredo, arquiteta, e Luciane Superti Fogazzi, aposentada. Márcia, Cátia e Luciane residem em Porto Alegre, e Cíntia, em Canoas, município intensamente impactado pelas enchentes.
As quatro entrevistadas têm vivido substancial sofrimento de distintas formas com a tragédia do Rio Grande do Sul. Seus depoimentos eloquentes, ainda que reflitam uma diminuta parte do iceberg de vivências dos gaúchos, que os brasileiros de outros estados não tiveram a oportunidade de conhecer, demonstram que nada substitui ouvir.
Como os leitores poderão perceber nas palavras das nossas entrevistadas, a gestão estratégica de riscos climáticos – ou seria a ausência dela? – reside no âmago do enfrentamento inadequado das enchentes ocorridas que, infelizmente, não foi objeto de planejamento ou execução eficazes.
Ao mesmo tempo, os riscos incorridos pelo povo gaúcho vão além daqueles de natureza climática, tratados nas edições 282 e 283 desta Revista RI. Com toda a ajuda dos entes da República e seus Três Poderes constituídos, e com todas as preciosas doações enviadas ao povo gaúcho, o Rio Grande do Sul enfrenta grandes riscos adicionais, sobre os quais tratamos após as entrevistas.
Por fim, lembramos os leitores de que a conclusão do projeto ESG: Uma partitura que está sendo escrita está prevista para a edição 287. A presente e as próximas duas edições, sem pretenderem esgotar este assunto tão importante para milhões de gaúchos e para o Brasil, ainda têm o que dizer sobre a tragédia do Rio Grande do Sul. Dito isso, passemos às visões das nossas entrevistadas.
Cátia Chagas: Os impactos para a economia são péssimos. A economia, principalmente os pequenos negócios, ainda se recuperavam da pandemia. Os que sobreviveram, claro. Considerando que as pequenas e médias empresas são em maior número e mais empregam, o prejuízo é devastador. Impacto negativo e preocupante e que vai respingar, lá na ponta, no cidadão.
No que diz respeito à Administração Pública, em Porto Alegre, especificamente, houve uma sucessão de erros, começando pela falta de prevenção, falta de manutenção e pela incompetência da gestão em administrar a crise ambiental.
Não existia – e ainda não existe – um plano de contingência. Em caso de inundação o que será feito? Para onde vai a população? Quem são os moradores treinados para ajudar? Total despreparo. Sendo que, no ano passado, houve enchentes nos Vales e na Capital, o Rio Guaíba também superou a medição, invadindo a orla. Mas como não houve inundação, em nada se pensou. Por aqui, o "não vai dar nada" é muito usual.
Houve muito mais responsabilidade do governo do Estado, em termos de buscar soluções, de movimentar a logística, de montar um gabinete de crise. Em termos de gestão, as intenções foram boas, mas, mesmo assim, depois da experiência do ano passado, também não houve um plano de contingência. As coisas só não foram piores porque o voluntariado foi forte. A rede de solidariedade foi gigante.
Mais do que melhorar, é preciso entender que as mudanças climáticas realmente existem e que as cidades devem se adaptar. É hora de entender que a natureza quer o seu lugar. E se os governantes, assim como a sociedade civil e as instituições, se movimentarem, no intuito de somarem forças, cada um no seu setor, e juntos criarem planos de contingência, repensarem construções, já será um bom começo. É preciso PARAR de acimentar a cidade, PARAR de exterminar a vegetação para construção civil entre outras aberrações.
Pelo que venho acompanhando, recursos federais já foram enviados ao governo estadual para a "reconstrução" da infraestrutura, a construção de moradias entre outras obras físicas. Efetivamente, em Porto Alegre, ainda não vi movimento como trocar as bombas que não funcionaram. Acredito que haja equipes trabalhando para as tais "melhorias" que o atual prefeito disse que faria.
Na população, pelo que observo, ainda há muitas reclamações. Ainda há regiões de bairros em Porto Alegre com alagamentos, entulhos. Assim como em cidades da Região Metropolitana. A lentidão das autoridades é um complicador.
Pessoalmente, aprendi que não estamos preparados, nem estruturalmente, nem emocionalmente, para viver uma tragédia ambiental. Que não podemos contar com uma gestão pública, e que é preciso, antes de mais nada, PRESERVAR O MEIO AMBIENTE.
Cíntia Martin Figueiredo: A enchente afetou drasticamente todo o município de Canoas, até mesmo os bairros que não foram afetados diretamente estão sofrendo com toda essa tragédia.
O que teria faltado por parte da Administração Pública? Manutenção dos sistemas de proteção, uma organização para evacuação dos bairros, segurança e conforto para pessoas que ficaram desabrigadas.
Sobre o que precisa melhorar? A meu ver, praticamente tudo!
Até o momento, praticamente todas as ajudas vieram da iniciativa privada. Se eu não tivesse ajuda de amigos, colegas e conhecidos, não teríamos nem onde morar. Sobre o apoio do Estado, em qualquer nível? Praticamente nenhum! Recebemos apenas o valor do governo federal, quantia que não pagaria nem os impostos mensais da minha empresa, cujas instalações foram destruídas pela enchente.
Pessoalmente, aprendi que precisamos ser realistas sobre as mudanças climáticas; antes, era apenas uma previsão, agora, se tornou uma realidade.
Luciane Superti Fogazzi: Acredito que o impacto ainda não chegou ao seu ápice, que acontecerá com o decorrer do aumento dos desempregos e das empresas que, por falta de dinheiro, fecharão. A ajuda ainda não acabou e, cada vez mais, as pessoas impactadas precisarão da ajuda do povo e dos governos.
Em minha opinião faltou, principalmente, prevenção por parte do Poder Público, ao longo de vários anos. Nunca acharam que enchentes dessa dimensão iriam acontecer e, por isso, não se importaram em manter uma boa manutenção das casas de bombas, das comportas e dos diques.
Precisamos olhar para a natureza de outra forma. O homem, com o passar do tempo, se sente no direito de colocar o seu desejo acima das leis da natureza e, como pudemos experienciar, isso só trará malefícios à sociedade, visto que a catástrofe que assolou o Rio Grande do Sul já é considerada uma nova realidade de vida.
Infelizmente, por mais difícil que seja toda essa burocracia, os apoios financeiros dos governos são ridículos. Afinal, mesmo para as pessoas de baixa renda, 5 mil reais não são suficientes para reerguer uma casa inteira, com móveis e reformas – isso quando a estrutura da casa não foi afetada. Se formos falar então de pessoas com uma renda maior, com casas de estruturas superiores e que também perderam tudo, esse dinheiro não serve para nada.
Infelizmente, se formos olhar para o passado, isso tudo aconteceu (além da tragédia climática) por conta de inúmeros governos passados, que não souberam preservar o maquinário do plano de contenção para enchentes, além do cuidado básico com o meio ambiente.
Aprendi que a vida que temos hoje pode ser algo tão momentâneo quanto um piscar de olhos. Afinal, como vimos nos últimos meses, pessoas e famílias de todas as raças, gêneros, poderes aquisitivos e localidades tiveram suas vidas viradas do avesso do dia para a noite. É preciso que a sociedade tenha consciência de que, por mais que a sua vida esteja normal, a de muitas pessoas ainda é cercada de lama, destroços e desesperança.
Também aprendi que, quando unidos, somos capazes de tudo. Experienciei montar, em minha casa, uma cozinha industrial que tinha a força de mais de 40 pessoas, produzindo cerca de três mil marmitas diariamente e, incansavelmente, durante todo o mês de maio.
E aprendi, por fim, que a união da população e o amor pela vida do outro podem superar todos os limites.
Márcia Sobotyk: As enchentes de maio de 2024 impactaram todos os setores do Estado, de pequenos comércios a grandes locais, como o Aeroporto Salgado Filho e a Rodoviária de Porto Alegre.
Como sempre acontece no Brasil, é preciso, primeiro, acontecer uma catástrofe, para depois pensar sobre como resolver. Não há prevenção! Nunca se pensa pra frente, no que pode acontecer. Vai-se pensar depois.
Acredito que temos que ter sempre, nos governos municipal, estadual e federal, grupos que saibam planejar e agir em situações como a que aconteceu no Rio Grande do Sul. E precisamos de comunicação mais eficaz com a população, antes, durante e depois.
O Painel da Reconstrução de Zero Hora mostra que, dos R$ 96,4 bilhões prometidos pelos governos federal e estadual, menos da metade, isto é, R$ 30 bilhões foram pagos a cidadãos gaúchos. As medidas incluem um auxílio de R$ 5.100 e saque antecipado do FGTS, mas a divulgação parece limitada.
Governo do Estado, Fecomércio (Sesc/Senac) e a ONU criaram abrigos para 850 famílias no Centro Humanitário de Acolhimento. No entanto, muitos querem voltar para suas casas. Com o tempo, vários abrigos criados pelo território gaúcho vêm sendo desmontados e a atuação dos voluntários tem diminuído. Muitos bairros de Porto Alegre e de outros municípios ainda têm entulhos, a reorganização demorará. A reconstrução será uma longa jornada.
Como voluntária no abrigo do Colégio Santa Dorotéia, fiquei impressionada com a solidariedade de pessoas de diferentes lugares, que ajudaram sem se conhecerem. Empresários e civis contribuíram com resgates, roupas e alimentos. Agradeço a todos os que ajudaram. Contudo, é necessário um maior respeito ao meio ambiente, preservar o rio Guaíba e evitar construções incessantes. O tema deve ganhar mais destaque nas eleições municipais, com promessas de soluções.
Neste ponto, eu gostaria de destacar o papel exemplar do ex-técnico e jogador da Seleção Brasileira, Dunga, e da Seleção do Bem 8: eles têm ajudado pessoas necessitadas com cestas básicas e casas e este tem sido um trabalho comovente e quase nada divulgado no Brasil.
E por fim, quem ainda ouve ou lê notícias sobre o Rio Grande do Sul? Como acontece sempre nas catástrofes, as pessoas se esquecem, depois de um tempo. Por qual motivo? Ocorre que as notícias não estão mais nas manchetes. Entretanto, o pós-enchente é o mais importante! Como estão as pessoas, o que está sendo feito? Não queremos que aconteça com o RS o que, em nossa percepção, aconteceu com Mariana e Brumadinho: aparentemente, tornaram-se meras datas a serem lembradas anualmente.
Importante:
Comentários sobre as Entrevistas
Nada substitui ouvir, conforme dito anteriormente e reforçado por Sandra Guerra em sua entrevista para a RI 276. E prestar atenção às palavras das nossas entrevistadas desta edição nos permite tecer comentários sobre as suas visões, o que é feito a seguir, considerando as perguntas que originaram as quatro entrevistas. Os comentários seguintes, objetivos, não são exaustivos e elencam aqueles pontos que nos parecem mais críticos nas entrevistas anteriores:
1. Como você vê os impactos das enchentes sobre os negócios no Estado e em seu Município?
Os efeitos das enchentes de maio no Rio Grande do Sul são devastadores, nas frentes material, emocional e outras. Parecem muito maiores do que os brasileiros conseguem perceber, pelas notícias veiculadas, por maior que seja sua empatia com o povo gaúcho.
2. O que teria faltado por parte da Administração Pública?
É patente, nas entrevistas, que faltou uma gestão pública de riscos climáticos que mitigasse, em grande medida, o risco da devastação ocorrida. Destaca-se o papel fundamental dos voluntários, que foram imprescindíveis para que muitas vidas fossem salvas.
3. O que precisa melhorar?
As melhorias relacionadas à gestão de riscos climáticos podem ser resumidas em duas frentes: planejamento, gestão e controle estratégicos dos riscos climáticos pela Administração Pública e comunicação eficaz com a sociedade, antes, durante e após eventos climáticos que impactem populações.
4. Em sua percepção, como está a ajuda dos governos pós enchente?
Se em âmbito nacional o apoio federativo previsto é da ordem de bilhões de reais, no plano pessoal e familiar, a devastação econômica foi de tal ordem que muitas pessoas podem não perceber a existência desse apoio em suas vidas, o que pode conduzir à percepção de abandono. Dirigentes públicos precisam estar atentos. Muitos esforços, materiais ou de outras naturezas, podem estar sendo empreendidos, mas não basta fazer, é preciso comunicar.
5. O que você, pessoalmente, aprendeu com este acontecimento climático?
Em termos de aprendizado, as entrevistas apontam que é preciso:
Também emerge nas respostas à pergunta acima o aprendizado sobre a formidável força da união, de como as pessoas podem ser poderosas quanto unidas em prol do objetivo de ajudar.
Há outras relevantes percepções que emergem das entrevistas relacionadas aos riscos. É fundamental reconhecer que há mais riscos estratégicos a enfrentar, além dos climáticos, relacionados ao pós-enchentes. Identificamos, a partir das entrevistas anteriores, cinco riscos importantes:
1. Risco de demora na recuperação socioeconômica
Reprisemos, a seguir, as palavras de três entrevistadas, sobre as quais temos que refletir:
Os impactos para a economia são péssimos. A economia, principalmente os pequenos negócios, ainda se recuperavam da pandemia. Os que sobreviveram, claro. Considerando que as pequenas e médias empresas são em maior número e mais empregam, o prejuízo é devastador. Impacto negativo e preocupante e que vai respingar, lá na ponta, no cidadão. (Cátia Chagas)
Acredito que o impacto ainda não chegou ao seu ápice, que acontecerá com o decorrer do aumento dos desempregos e das empresas que, por falta de dinheiro, fecharão. A ajuda ainda não acabou e, cada vez mais, as pessoas impactadas precisarão da ajuda do povo e dos governos. (Luciane Superti Fogazzi)
E por fim, quem ainda ouve ou lê notícias sobre o Rio Grande do Sul? Como acontece sempre nas catástrofes, as pessoas se esquecem, depois de um tempo. Por qual motivo? Ocorre que as notícias não estão mais nas manchetes. Entretanto, o pós-enchente é o mais importante! Como estão as pessoas, o que está sendo feito? Não queremos que aconteça com o RS o que, em nossa percepção, aconteceu com Mariana e Brumadinho: aparentemente, tornaram-se meras datas a serem lembradas anualmente. (Márcia Sobotyk)
É certo que os riscos climáticos precisam ser enfrentados com seriedade, mas sem perder de vista que se deve considerar também o risco de demora na recuperação de condições socioeconômicas do Rio Grande do Sul. A verdade é que a tragédia ali ocorrida poderá levar vários anos para que seus efeitos sejam realmente superados.
Daqui a quantos anos tudo estará superado? Quais são as probabilidades de uma resolução célere ou pelo menos considerada razoável para que o RS se recupere? Quais são as probabilidades de plena recuperação em três, cinco, sete anos, uma década ou mais, apenas para estimular a reflexão?
As forças da República Federativa do Brasil e o apoio do povo brasileiro serão imprescindíveis para turbinar os esforços do povo gaúcho, de maneira que o tempo de recuperação não se estenda por demais. Os sorrisos das quatro entrevistadas em suas imagens refletem uma singela mensagem aos leitores, apesar do grande sofrimento presenciado ou vivido: esperança, vetor imprescindível para a busca de dias melhores. Para que isso seja alcançado, ao lado do esforço dos gaúchos, o Brasil precisa seguir abraçando o Rio Grande do Sul.
Ao mesmo tempo, é importante não perder de vista os papeis constitucionais dos vários entes federativos na governança do Rio Grande do Sul. União, Estado e Municípios e o Distrito Federal têm seus papeis respectivos, determinados pela Carta Magna, que devem ser respeitados.
Adicionalmente, em que medida as várias mídias do Brasil poderão contribuir para que o tempo de recuperação do Rio Grande do Sul seja abreviado? Como observa Márcia Sobotyk, após a comoção dos primeiros tempos, as catástrofes tendem a perder espaço nas pautas midiáticas. Mas o Estado precisa de forte apoio das mídias em seus desafios!
2. Risco de não tratamento de sequelas emocionais
Consideremos, neste ponto, o parágrafo de encerramento da entrevista de uma de nossas convidadas:
Pessoalmente, aprendi que não estamos preparados, nem estruturalmente, nem emocionalmente, para viver uma tragédia ambiental. Que não podemos contar com uma gestão pública, e que é preciso, antes de mais nada, PRESERVAR O MEIO AMBIENTE. (Cátia Chagas)
Muitas pessoas perderam demais com as enchentes do Rio Grande do Sul: familiares, amigos, trabalhos, patrimônio, documentação, imagens e outras lembranças do passado (fotos e outros itens) e muito mais. Esses seres humanos realmente receberão o apoio emocional de que necessitam? Quem assegurará que isso seja feito?
3. Risco de desperdício da formidável força do voluntariado
Um terceiro risco que, a nosso ver, merece ser destacado é de desperdício do precioso voluntariado, sem o qual os impactos da tragédia teriam sido muito mais graves. Sem deixar de enaltecer os voluntários que vieram de outros Estados da Federação para ajudar na tragédia, o povo do Rio Grande do Sul foi fundamental no salvamento de vidas, no resgate de animais e em muito mais!
Como seguir mobilizando essa força incrível, em prol da reconstrução das áreas destruídas pelas enchentes e da continuidade do apoio aos que perderam muito ou mesmo tudo? Como as lideranças da Administração Pública, notadamente em nível estadual e municipal, deverão agir para aproveitar a formidável energia dos cidadãos voluntários de boa vontade?
4. Risco de imagem (descrédito) em relação à Administração Pública
Este quarto risco está, naturalmente, relacionado às enchentes e à sofrível gestão de riscos climáticos, na qual faltaram planejamento, gestão, controle e comunicação eficaz com a sociedade. E está, também, relacionado aos três anteriores mencionados – demora na recuperação socioeconômica, não tratamento de sequelas emocionais e físicas integralmente e desperdício do voluntariado.
Sendo assim, são pertinentes as seguintes perguntas: o que a Administração Pública precisa implementar de políticas e práticas de gestão, a fim de que a população receba a assistência física e emocional necessária em caso de calamidade pública como essa? É possível criar (ou intensificar) parcerias para que o apoio se estenda substancialmente a todos os cidadãos afetados e necessitados?
5. Risco de recorrência
Em 1941, o Rio Grande do Sul passou por enchentes terríveis, com impactos profundos na vida de muitos gaúchos. Em 2024, a tragédia teve impacto muito maior. O povo gaúcho restará livre dessas grandes tragédias, a partir do planejamento, gestão, controle e comunicação efetivos?
Retomando aos riscos climáticos e de tragédias, a Revista Plurale publicou em seu site o mapeamento realizado pelo governo federal no final de abril deste ano: o Brasil tem 1.942 cidades suscetíveis a desastres ambientais, como deslizamentos, alagamentos e inundações, correspondendo a quase 35% dos Municípios do País, com impacto de aproximadamente 8,9 milhões de pessoas.
O mapeamento de riscos mostrou um aumento de 136% em relação ao levantamento de 2012. As populações de baixa renda são as mais vulneráveis, devido à ocupação de áreas inadequadas e à carência de recursos para recuperação (Revista Plurale).
O quadro é crítico e o enfrentamento de riscos climáticos pode ser tema recorrente em campanhas das eleições municipais deste ano. É preciso cobrar propostas concretas dos candidatos, não permitindo que os debates orbitem apenas ao redor de críticas, que são legítimas, mas apenas a ponta de um iceberg: os brasileiros desejam comparar propostas concretas de trabalho, prevenção efetiva e um futuro com muito maior nível de segurança.
Concluímos, finalizando estas considerações, convidando os leitores da Revista RI a opinarem sobre o conteúdo desta edição da coluna Orquestra Societária. Suas contribuições serão, como sempre, bem recebidas.
Cida Hess
é Assessora da Presidência da Prodesp para Negócios Estratégicos. Sócia fundadora da Orquestra Societária Business. Palestrante e mentora. Doutora em Engenharia de Produção, com foco em Sustentabilidade, pela UNIP/SP, mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUCSP, economista e contadora, com MBA em finanças pelo IBMEC. Conselheira fiscal e coordenadora do Comitê Econômico e Auditoria (CEA) da FNQ. Coordenadora da Comissão Temática de Finanças e Contabilidade, professora de Finanças para Conselhos da Board Academy e do Legado e Família. Head do Comitê de Inovação e Tecnologia do 30% Club Brazil e Embaixadora da Board Academy. Colunista da Revista RI desde 2014 e do Portal Acionista desde 2019 e conselheira editorial da RI desde 2023. Coautora dos livros Inovação na Gestão Pública (Ed. Saint Paul, 2012) e Orquestra Societária – a Origem (Editora Sucesso, 2018).
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica Brandão
é Assessora da André Mansur Advogados Associados e tem atuado como executiva financeira, conselheira administrativa, fiscal e consultiva (presentemente, da Orquestra Societária Business), engenheira e professora universitária. Certificada como CNPI-P pela APIMEC Nacional, é mestre em Administração, graduada em Engenharia Elétrica e graduanda em Direito pela PUC Minas. Tem pós-graduação e especialização na UFMG e no IBMEC, respectivamente, e treinamentos nacionais e internacionais, especialmente em Finanças Corporativas, Gestão da Estratégia e Governança Corporativa. É colunista da Revista RI, desde 2008, e do portal Acionista, desde 2019, integrando o Conselho Editorial da RI, desde 2023. Coautora dos livros Visões da Governança Corporativa (Editora Saraiva, 2010) e Orquestra Societária – a Origem (Editora Sucesso, 2018).
mbran2015@gmail.com