Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral, a necessidade de melhorar a cultura organizacional da empresa para se adaptar às rotinas de uma companhia aberta é apontada como o principal entrave à abertura de capital. Essa dificuldade é citada por quase 50% dos executivos, superando a volatilidade do mercado (34,0%) e os custos da operação (31,4%).
Para Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral, a falta de preparação é reflexo de um longo período de inflação alta no país, que atrasou o desenvolvimento de uma cultura de planejamento de longo prazo. "Uma empresa de capital aberto precisa ter um planejamento estratégico profissional, remunerar executivos, oferecer incentivos de forma correta e estar focada em gerar valor para o acionista, coisas que elas ainda estão aprendendo a fazer", diz.
Apesar de ser tentadora a oportunidade de encher o caixa com a venda de ações, abrir capital exige um trabalho de paciência. Afinal, não é simples incutir a cultura de uma companhia aberta em uma empresa acostumada a viver da porta para dentro.
Prova disso é que nem todas as empresas que fizeram uma oferta pública inicial desembarcam na Bolsa devidamente preparadas para dar conta do recado. Vale lembrar o que ocorreu em 2007, quando o boom de IPOs na BM&FBovespa registrou 64 aberturas de capital. Na época, a empolgação era tanta que algumas empresas entraram na onda e chegaram à Bolsa sem estar maduras o suficiente para arcar com as pressões e as exigências do mercado. Muitas delas não estruturaram uma área de relações com investidores nem desenvolveram princípios de boa governança corporativa. O resultado? Muitas empresas abertas, mas que se comportam como se não fossem. Além disso, os efeitos da listagem precoce logo refletiram nos preços das ações e muitos investidores acabaram se decepcionando.
A catarinense Renar Maçãs é um exemplo dos riscos que as empresas correm ao entrar no mercado sem antes desenvolver uma cultura de companhia aberta. A empresa fez sua oferta pública em 2005 e desde a sua máxima histórica alcançada em maio de 2008 (R$ 2,81) até o fechamento do último dia 26, as ações já caíram mais de 95%. Hoje, são negociadas por cerca de R$ 0,20 - na oferta inicial valiam R$ 1,60. Segundo um analista que não quis se identificar, desde o início a produtora de maçãs foi encarada com desconfiança pelo mercado. “A percepção dos investidores era de que se tratava de uma empresa despreparada para a operação, que estava abrindo seu capital seguindo o ‘efeito manada’, e não por convicção”, diz.
Para evitar desastres como esse, é preciso passar por um longo e rigoroso processo, que muitas vezes pode levar anos de preparação.