Orquestra Societária

DESALINHAMENTO & CONFLITOS ENTRE PROPRIETÁRIOS

No artigo anterior publicado na edição no 183 desta Revista RI (Maio.2014), introduzimos um conjunto de aspectos principais e não exaustivos que podem impactar o alinhamento de interesses entre proprietários, tais como: (1) categorias e respectivas agendas de proprietários; (2) formas de controle societário e tratamento do pequeno proprietário (minoritário); (3) princípios éticos e formais de tratamento dos stakeholders; (4) alternativas de retornos presentes versus retornos futuros; e (5) alternativas de fontes de financiamento de projetos.

Conforme prometido, neste artigo, apresentamos alguns exemplos, também não exaustivos, por meio dos quais buscamos ilustrar como o desalinhamento pode ocorrer, à luz dos aspectos supracitados. Para tanto, consideraremos, inicialmente, o quadro a seguir, parte do qual foi extraída do artigo anterior, exceto no que concerne aos exemplos apresentados na terceira coluna à direita.

Optamos por utilizar exemplos hipotéticos e meramente didáticos, sem a intenção de estabelecer correlação com algum caso específico real do mercado nacional ou internacional; porém, entendendo que similaridades não propositais são factíveis. Assim sendo, qualificamos melhor, a seguir, os conflitos supracitados, para maior compreensão, por meio de um conjunto de situações-exemplo hipotéticas, associadas a cada caso:

SITUAÇÕES HIPOTÉTICAS

CATEGORIAS E RESPECTIVAS AGENDAS DE PROPRIETÁRIOS

1. Indivíduos x Família (Estratégia e Cultura Familiar)


Um Grupo Empresarial tem como fundadores e acionistas controladores (majoritários) os membros de uma família, além de outros acionistas não controladores (minoritários). Um dos filhos exerce, no momento, a Presidência Executiva, enquanto outros membros ocupam posições no Conselho de Administração e na Diretoria Executiva. O Presidente tem planos de expandir o Grupo; entretanto, os demais membros da família não concordam com a lógica de crescimento pretendida, a qual pode implicar a necessidade de novos sócios que não sejam membros familiares. Os acionistas não controladores estão alheios às discussões.

2. Família x Família (Sucessão)

Um Grupo Empresarial tem como fundadores e acionistas controladores duas famílias não aparentadas entre si, com participações no capital votante idênticas, além de outros acionistas não controladores. As famílias se desentendem sobre a sucessão dos atuais dirigentes: a Família 1 entende que a Presidência Executiva do Grupo deve ser exercida por um de seus membros, entendendo que esse tem melhor qualificação; a Família 2, por seu turno, defende a escolha de um de seus integrantes, com argumentos similares. Parte dos acionistas não controladores têm ouvido breves comentários sobre as discussões, sem entenderem os fatos em profundidade.

3. Família x Grupo Empresarial (Sucessão e Profissionalização)

Um Grupo Empresarial tem como acionistas controladores os membros de uma família, um acionista não controlador com maior participação no capital - outro Grupo Empresarial -, além de outros acionistas não controladores. A Família pretende emplacar, na Presidência Executiva do Grupo, visando a sucessão do atual presidente (fundador), um de seus membros, mas o acionista não controlador não concorda com esse formato e defende que a administração seja exercida por um profissional contratado no mercado. Parte dos demais acionistas não controladores, apoiando discretamente o ponto de vista do acionista dissidente, tem se mantido relativamente à distância das discussões; a outra parte, nada percebeu sobre as discussões.o de conflitos.

4. Grupo Empresarial x Grupo Empresarial (Entrega de Resultados)

Um Grupo Empresarial tem como acionistas controladores dois outros Grupos Empresariais - Grupo 1 e Grupo 2 -, bem como outros acionistas não controladores. Os Grupos 1 e 2 discordam fortemente sobre manter x destituir alguns executivos. O Grupo 1 entende que os resultados financeiros da Companhia não estão satisfatórios nos primeiros meses do ano em curso e que há necessidade de mudanças imediatas, em função de suas projeções de retiradas de dividendos, superiores aos valores previstos no orçamento aprovado. O Grupo 2, por sua vez, defende que ainda não teria dado tempo de iniciativas aprovadas para aumentar os lucros de curto prazo gerarem os resultados desejados, os quais somente se farão perceber nos anos seguintes. Parte dos acionistas não controladores têm percebido certa tensão entre os Grupos 1 e 2.

5. Governo x Demais Proprietários (Políticas que Afetam Resultados)


Um Grupo Empresarial hipotético tem como acionista controlador a União, bem como outros acionistas não controladores. Uma política presentemente adotada por administradores estatais e defendida como sendo muito relevante para beneficiar a população impacta o fluxo de caixa da Companhia, reduzindo o potencial de dividendos e seu valor de mercado. Os acionistas não controladores, vários dos quais historicamente beneficiados por distribuições de dividendos que aumentam seus proventos pessoais, têm demonstrado elevada preocupação.


Continua...