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Embora seja um movimento ainda incipiente, cada vez mais as empresas buscam integrar a questão das mudanças climáticas às suas estratégias de negócios, fazendo a gestão dos riscos e das oportunidades.
“As companhias têm apostado mais na redução de emissões de carbono, uso racional da água e da energia, assim como a preservação de florestas. Quem achava que esse tipo de preocupação não fosse chegar ao Brasil, se enganou”, afirma Antonio Castro, presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).
Segundo Castro, especialmente, os investidores institucionais, tem sede de informações, querem saber se as companhias apresentarão resultados sustentáveis no longo prazo. “O reporte das companhias sobre iniciativas que asseguram o futuro delas é cada vez mais demandado pelo mercado”, ressalta. Diante de incertezas e da deficiência de avaliação de riscos, os investidores tendem a descontar o valor de uma ação ou debênture.
Desde o apagão de 2001, de acordo com o presidente da Abrasca, a mudança de postura das corporações intensificou-se. Recentemente, a crise hídrica nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e o risco de racionamento de energia elétrica reacenderam o sinal vermelho no meio empresarial. Essas situações adversas no país têm como raiz fatores que, somados ou não, vão desde a falta de planejamento dos governos, baixos investimentos, degradação da natureza até o aquecimento global.
No início de maio, a Abrasca e o CDP (Carbon Disclosure Project) realizaram, em São Paulo, uma primeira conferência conjunta com tema central “Como proteger e criar valor em tempos de mudanças climáticas”. O CDP, com sede em Londres, na Inglaterra, é uma organização internacional sem fins lucrativos. As atividades na América Latina foram iniciadas em 2006. “O Brasil é disparado o melhor exemplo na América Latina porque concentra 90% das empresas respondentes do questionário do CDP. As demais companhias participantes estão no México, Chile e Colômbia”, comentou Antonio Castro, que também é presidente do Conselho do CDPLatin América. A Abrasca é patrona do CDP no Brasil.
Apesar dos avanços, os especialistas buscaram sensibilizar um número maior de companhias a levarem em consideração novas variáveis ambientais no gerenciamento de riscos e darem maior transparência a essas atividades. “Há um grupo mais resistente de empresas que aguardam uma pressão regulatória para se mobilizarem mais, quando esses temas já são mandatórios”, avalia Juliana Lopes, diretora do CDP Latin America.
As mudanças climáticas desafiam a abordagem tradicional da gestão de riscos, muito baseada em séries históricas. “Os eventos climáticos extremos são mais difíceis de prever. Mas esse trabalho deve ser feito junto com um planejamento de contingências”, alerta. Ela enfatiza que cabe a lógica do cisne negro, teoria do filósofo e matemático Nassim Nicholas Taleb, que aborda a necessidade de mapeamento de eventos raros e de alto impacto. “Por exemplo, a crise de abastecimento de água em São Paulo. A probabilidade de uma forte secar era de apenas 0,06%”, enfatiza.
O CDP trabalha com as forças do mercado. São os investidores que convidam as empresas - a base é o iBrX100 da BM&FBovespa - a reportarem suas iniciativas. No ano passado, foram 57 companhias respondentes, um crescimento de 42% desde 2006. E, há uma modalidade na qual os clientes solicitam seus fornecedores a relatarem. Neste caso, participam também empresas não listadas. Desta forma, em 2014, no Brasil, um total de 166 companhias fizeram divulgação na plataforma no CDP. Na América Latina, foram 42 respondentes, sendo 23 brasileiras. No mundo, 5 mil empresas reportaram informações ambientais pelo padrão do CDP.
Os questionários do CDP são temáticos - mudanças climáticas, águas e florestas. Cada um deles é dividido em cinco módulos nos quais as companhias detalham a governança e estratégia, a gestão dos riscos associados, as metas e ações, como se dá a comunicação ao mercado e as oportunidades detectadas.
Um estudo feito com as informações das companhias do iBrX100 que divulgaram no sistema CDP no ano passado, demonstra que 83% identificaram algum tipo de risco relacionado às mudanças climáticas, 77% já tem o tema integrado à estratégia e 61% utilizam incentivos (financeiros ou não) para engajar os gestores no cumprimento de metas de redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa.
A pesquisa mostra ainda os investimentos realizados para a redução de emissões somaram R$ 3,7 bilhões em 2014, uma queda de 38% em relação ao ano anterior. No entanto, a efetividade foi maior. No ano passado, houve 103% a mais de redução do lançamento de gases causadores do efeito estufa. A maior parte dos investimentos foi destinada à redução de custos operacionais, tais como geração de energia renovável (26%) e eficiência energética (25%). A economia monetária foi de R$ 119 milhões, 81% superior à registrada em 2013.
Disclosure
“Disclosure é uma das linhas mestras da sustentabilidade. Hoje, o investidor não busca somente informações econômicas, mas também, sociais, ambientais e de governança para tomar uma decisão completa”, afirma Sonia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa que participou da 1ª. Conferência Abrasca e CDP. Atualmente, 71,2% das companhias listadas publicam esse conjunto de informações ou explicam porque não divulgam.
De acordo com ela, fica cada vez mais difícil às empresas não responderem ao CDP ou a qualquer outra iniciativa de transparência. “O fato de uma empresa não participar, causa estranheza, gera dúvida”, enfatiza.
As mudanças climáticas vêm entrando de formas diferentes nas agendas de cada corporação. O destaque é maior nas estratégias quando percebem que há riscos de impactos ambientais diretos nas atividades. Até por uma questão da sobrevivência, essas companhias estão se mobilizando mais intensamente.
Porém, mesmo as empresas que podem sofrer algum efeito negativo indireto como as de serviços começam olhar para isso ao se conscientizarem que fazem parte de um ciclo. “O problema é que quando não há impacto direto, elas têm mais dificuldades para lidar como essa questão. No entanto, um instrumento como o CDP auxilia nisso. Ao responderem ao questionário e ao lerem os relatos de outras companhias, é possível compreender melhor a interferência do fenômeno de mudanças climáticas nos negócios”, comenta.
Sonia Favaretto aproveitou para comentar sobre o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) que completará dez anos em dezembro deste ano. Em novembro do ano passado a BM&FBovespa anunciou a nova carteira que reúne 51 ações de 40 companhias. A grande novidade foi o ingresso do setor de varejo – B2W, Lojas Americanas e Lojas Renner.
Embora as participantes do ISE representem um universo pequeno, são identificadas melhorias nas práticas ano a ano. Nessa carteira, 65% possuem comitê de sustentabilidade que se reporta ao conselho de administração e 98% têm diretoria responsável por questões de sustentabilidade que se reporta diretamente ao primeiro escalão. Hoje, 83% possuem política corporativa sobre mudanças climáticas aprovada pelo conselho de administração ou pela alta direção. Quanto às emissões de gases causadores do efeito estufa, 84% declararam que fazem a divulgação dos inventários e 67% se comprometeram com a redução dos lançamentos desses gases.
Investimentos de impacto
Uma nova realidade no país, avançam os chamados investidores de impacto. Eles não avaliam os projetos somente pela lucratividade, mas pelas contribuições positivas à sociedade e ao meio ambiente. Na conferência Abrasca e CDP, Sérgio Giovanetti Lazzarini, professor de Organização e estratégia e diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Strictu Sensu do Insper, falou sobre o Insper Metricis. Um grupo de professores e alunos da universidade está desenvolvendo um ferramental prático para que empresas e governos mensurem o impacto socioambiental de seus projetos. “Estamos trabalhando na construção de um guideline para a formatação das melhores métricas para cada segmento como reflorestamento, educação e redução de emissões. Também disponibilizamos estudos de caso”, explica o professor. O objetivo é estimular ainda mais os investimentos de impacto e novas formas de captação e financiamento destes projetos.