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As bases das Finanças modernas se assentam no pressuposto de que os investidores agem racionalmente no momento de decidir. As Finanças Comportamentais rejeitam os pressupostos de racionalidade dos decisores.
Dois psicólogos cognitivos, Amos Tversky e Daniel Kahneman, foram além da simples demonstração de violação da racionalidade no momento da decisão. Eles se preocuparam em criar um modelo descritivo da forma utilizada pelos humanos para tomar decisões.
Inicialmente, estes psicólogos notaram que os humanos utilizavam regras heurísticas para tomar decisões. Regras heurísticas são atalhos mentais ou regras empíricas para encontrar uma solução para dado problema.
A utilização de regras heurísticas pode gerar vieses nas decisões. Um viés de decisão (biases) é uma tendência sistemática de violar os axiomas da racionalidade ampla. Um fato importante é que o viés pode afetar de forma semelhante um grande número de pessoas.
Um segundo fator gerador de vieses de decisão foi agrupado sob o nome de Teoria do Prospecto ou Teoria das Perspectivas como tem sido mais comum chamar recentemente.
De acordo com essa teoria, os humanos utilizam duas fases no processo de escolha:
A separação das decisões em duas fases e, particularmente, a utilização da fase preliminar de editar, que tenta simplificar o processo, muitas vezes gera vieses de decisão ou erros sistemáticos.
A existência de erros sistemáticos no mercado financeiro não é compatível com as Finanças Modernas. A possibilidade de existência de erros sistemáticos no processo de decisão causa uma ruptura no pressuposto de eficiência dos mercados.
A tendência dos investidores de cometer erros sistemáticos de avaliação é chamada de ilusão cognitiva. Da mesma forma que os humanos têm dificuldade para julgar subjetivamente quantidades físicas, também têm dificuldades para julgar subjetivamente as probabilidades ou o risco.
Mas o que é uma ilusão cognitiva?
As ilusões cognitivas são como ilusões de ótica: apesar de fáceis de entender, são muito difíceis de eliminar. O objetivo de aprender sobre ilusão cognitiva e sua influência no processo de tomada de decisão é poder reconhecer as situações em que este erro particular pode se manifestar. Reconhecer as ilusões cognitivas pode ajudar o investidor a evitar erros no processo de alocação de ativos e, por consequência, a melhorar sua performance como investidor.
Uma ilusão cognitiva é um falso conhecimento (não se trata de não ter um conhecimento ou de ter uma dúvida). Para explicar melhor vamos a um exemplo.
Renato era daqueles maridos muito preocupados com a fidelidade de sua jovem e bela esposa, Marta. Renato considera que sua felicidade só pode existir se Marta for fiel. Deste casal surgem quatro cenários possíveis. Pode ser que Marta seja fiel e Renato acredite que ela é fiel. Também pode ser que Renato acredite que ela é infiel e ela realmente seja infiel. Assim temos dois verdadeiros conhecimentos.
Porém pode ser que Marta seja fiel, mas Renato acredite que ela seja infiel — é o que a crônica amorosa considera o inferno do tolo. Também pode ser que Marta seja infiel, mas Renato acredite que ela seja fiel — é o que se conhece como paraíso do tolo. Tanto o paraíso do tolo quanto o inferno do tolo são dois exemplos de falso conhecimento.
Sendo assim, um falso conhecimento pode tanto gerar felicidade ou infelicidade ao marido ciumento. Muitos consideram que para a felicidade dos casais é mais importante a crença na fidelidade do que a fidelidade propriamente dita. Ou seja, a fidelidade percebida é mais importante que a fidelidade real.
O grande problema é que ver a infidelidade onde ela não existe pode levar a destruição de um amor verdadeiro. Já acreditar na fidelidade enquanto ela não existe pode levar a grandes decepções.
Avaliações sobre o risco
Assim como os casais que podem ter dificuldades para avaliar o grau de fidelidade do parceiro amoroso, muitos investidores têm dificuldades em avaliar o risco dos seus investimentos. Há investidores que convivem bem com o risco, já outros que não conseguem sequer pensar na possibilidade de perder algum valor em seus investimentos.
Voltemos ao exemplo do casal. Antes de definir se alguém é fiel, precisamos definir claramente o que é infidelidade. Para alguns o simples ato de olhar para um potencial parceiro já representa infidelidade. Para outros uma conversa é a barreira ou ainda apenas o contato físico configuraria infidelidade.
Da mesma forma definir o risco é complicado. Para alguns deixar de ganhar de acordo com um benchmark é considerado um risco. Para outros o risco só ocorre se existir a possibilidade de perder todo o capital investido e ainda ficar devendo. Porém, para a maioria dos investidores o risco só é considerado grave se o investidor perder algum valor do capital investido, por menor que ele seja.
E aqui está a chave para entender a enorme atratividade que investimentos de capital garantido exercem para um número significativo de investidores. No artigo anterior falamos dos Certificados de Operações Estruturadas, os COEs, e o significativo sucesso que vêm fazendo.
COEs são instrumentos que “domesticam” o risco tornando este compreensível para muitos investidores. Além disso, a maioria dos COEs é de capital garantido, sendo portanto percebidos pelos investidores como não arriscado.
Ou seja, também no mundo dos investimentos acreditar na segurança é mais importante que a segurança ou risco real propriamente dito.
Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br