O que o IBGC quis provocar com a produção do livro “Governança Corporativa e Inovação: Tendências e Reflexões” é uma análise do que já foi realizado até agora, na sociedade e nas organizações, e compreender como a governança corporativa deve evoluir a partir da ruptura de conceitos antigos de administração e das facilidades que as novas tecnologias trazem aos clientes, funcionários, sócios e demais partes interessadas. Nesse contexto, o IBGC debate o papel do conselheiro de administração para suportar e alavancar o processo da inovação.
Para enfrentar a complexidade do ambiente atual de negócios, é imprescindível que o conselho de administração, mais do que nunca, crie e mantenha uma cultura de inovação em toda a organização, identificando oportunidades e desenvolvendo a capacidade de pensar e entregar processos, produtos e serviços de formas diferentes e que criem valor. Deve avaliar se o próprio conselho e a liderança da organização são diversos o suficiente para encontrar respostas para as expectativas e ansiedades do consumidor e da sociedade, mais exigente e questionadora.
O que sempre se pergunta nos processos de inovação é o quanto a empresa está disposta a perder – a curto e a longo prazos – e o quanto pretende participar de projetos com alto nível de incertezas. Essas definições encaminham tipos de investimentos em inovação distintos, seja para reforçar o negócio existente seja para criar novos negócios. Nesse sentido, é o conselho que definirá o nível de risco que a organização está predisposta a aceitar em nome da inovação.
Outras questões que deverão ser respondidas pelo conselho nesta jornada são: por onde começar a inovação? Nos produtos? Nos processos? Nas áreas? Investindo em startups? Com quem a organização precisa inovar, considerando que nem todo conhecimento está disponível internamente? Como mensurar e auditar a capacidade de inovação? Como preparar os talentos da organização e, inclusive, o conselho para essa discussão?
A inovação é importante para ajudar as empresas a lidar com desafios como as alterações climáticas e o desenvolvimento sustentável, já que os recursos do planeta são finitos.
Outro ponto de reflexão está no crescimento demográfico global: a necessidade de alimentar tanta gente. Mais do que isso, incluí-las no mercado de trabalho, apesar da inteligência artificial e dos processos robotizados, cada vez mais sofisticados, exigindo dos profissionais competências, habilidades e preparos únicos para esse novo mundo.
Todas essas questões devem ser administradas com equilíbrio e de forma cadenciada, não apenas pelas organizações, mas também por todos os setores e agentes da sociedade.
O Estado, por exemplo, pode desempenhar um papel mais direto na facilitação e promoção da inovação. Investimentos conjuntos entre academia, iniciativa pública e privada, voltados à pesquisa e desenvolvimento, podem fazer emergir inúmeras possibilidades e resultados positivos para todos. Por isso é tão importante que o ecossistema trabalhe em harmonia para encontrar soluções de baixo custo, baixo uso de matéria-prima e alto desempenho.
O IBGC pergunta a si e ao leitor: estaria a governança corporativa promovendo a inovação? Houve evolução na jornada da governança em todos esses anos, de uma maneira que fomentasse o dinamismo dos negócios e acompanhasse os novos desafios da humanidade? Quanto os agentes de governança influenciam positivamente na capacidade de inovar de uma empresa e o que fazer para que isso aconteça?
Compreender as causas e os impactos de inovações e modelos de negócio que estão surgindo é fundamental para que a governança corporativa continue evoluindo em prol de uma sociedade melhor. Esperamos, portanto, que esta obra contribua para: ampliar o espectro do conceito de inovação, superando o fator da tecnologia para alcançar o olhar para o cliente; aumentar a capacidade da organização em acompanhar os efeitos da quarta revolução industrial; e preparar o conselheiro de administração e demais agentes de governança para atuar positivamente nessa transformação.
Nota: Trecho do livro Governança Corporativa e Inovação: Tendências e Reflexões, que será lançado em outubro de 2018 pelo IBGC.
Ricardo Setúbal
é presidente do Conselho de Administração do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
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