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Normalmente, quando falamos de empresas familiares nos remetemos, muitas vezes erroneamente, a um modelo de gestão que alguns torcem o nariz, o mercado financeiro principalmente, por muitas vezes estar estigmatizado por conflitos no seio familiar, confusão entre o patrimônio empresarial e o da família controladora, baixa qualidade técnica da gestão, falta de transparência, etc.
A empresa familiar pode e deve buscar um elevado e qualificado padrão de gestão, adequado ao desenvolvimento dos negócios e a proteção do patrimônio familiar. Assim, o primeiro passo para esse novo padrão de gestão é separar muito claramente o patrimônio da empresa do patrimônio dos controladores. Não se deve confundir o caixa da empresa com a conta bancária dos controladores, são universos distintos.
Uma empresa familiar é um patrimônio construído por alguém que, normalmente, dedicou parte substancial de sua vida, de seu tempo de lazer e muito sacrifício familiar, teve muita intuição, correu riscos importantes, sempre teve muita garra e acima de tudo, trabalhou de forma obstinada para construir um sonho. Assim, além de um patrimônio tangível, aquele que deve estar registrado na contabilidade da empresa ou no Imposto de Renda da família, há também o patrimônio que representa a memória e a marca de alguém com as características que eu relacionei; esse patrimônio eu o chamo de patrimônio emocional. Esse patrimônio emocional precisa ser tratado da forma adequada. Vamos discuti-lo em outra oportunidade. Portanto, não podemos dizer que a empresa que o pai construiu é a mesma empresa que o filho quer, pode não ser a empresa que o filho construiria por mais que os pais queiram ou force o filho a seguir os seus passos, ele pode ter outros interesses, outra visão de mundo, outros valores. Pensar que a sucessão é um assunto que acaba dentro da família é um erro comum em processos de sucessão e só ampliará os riscos ao patrimônio da família.
Diante disso, o mais importante em uma empresa familiar é a preservação da riqueza da família. Essa riqueza não pode ser submetida aos riscos de uma gestão de baixa qualidade. Por isso, o mais recomendável é dotar a empresa de um modelo de governança, instrumentos de gestão e mecanismos de controle que não a exponha a gestores temerários, sejam eles oriundos da família controladora ou de profissionais do mercado. Sim, no mercado também há muitos profissionais que podem colocar em risco uma empresa.
Não devemos ter a ideia fixa que a sucessão em uma empresa sempre deve ser feita com a ascensão de um membro da família, essa sucessão precisa ser assegurada por mecanismos adequados de controle e boa qualidade de gestão. Enfim, a empresa familiar é como qualquer empresa, ela precisa de boa gestão, nada mais que isso. Se a solução estiver dentro da família, muito bem, mas se não for o caso, o mercado deve ser uma solução. Antes, há que dotar a empresa de todos os instrumentos de gestão e governança adequados.
O jogo de poder no ambiente familiar e o apego do fundador aos negócios que ele criou, algo absolutamente normal, afinal a empresa é só mais um filho dele, é o ponto mais crítico de um processo sucessório, mesmo sendo uma sucessão dentro da família ou não. O desafio é esse fundador entender, ou perceber, o momento adequado de passar o bastão. É preciso uma boa dose de desprendimento para fazer essa passagem; muitas vezes não terá tempo para comandar o processo sucessório e os conflitos familiares podem ser ampliados.
Adalmir Sampaio Gomes
é Administrador de Empresas; consultor em Reestruturação e Gestão Empresarial e Processo de M&A; sócio da Flexus Consultoria em Negócios.
adalmir@flexusconsultoria.com.br