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Temos nos dedicado ao Modelo de Gestão Sustentável (MGS) nesta conceituada revista RI há um bom tempo e, nas últimas publicações, com relativa intensidade. Mas, afinal de contas, o MGS é fundamental à materialização da estratégia em resultados sustentáveis para as organizações?
Para responder a esta pergunta com propriedade, recorremos à dissertação de mestrado de Maria Aparecida Hess Loures Paranhos (Cida Hess), co-autora desta coluna, concluída em dezembro de 2017 na PUC São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Antônio Benedito Silva Oliveira.
Durante o mestrado em questão foi percorrida uma intensa jornada de dois anos, para que se pudesse chegar à conclusão de que o Modelo de Gestão Sustentável (MGS) é, efetivamente, fundamental à materialização da estratégia em resultados sustentáveis.
Esta conclusão foi embasada nas pesquisas acadêmicas de consagrados nomes, tais como Igor Ansoff (1965), William Edwards Deming (1982), Henry Mintzberg (1983), Michael Eugene Porter (1985), Reinaldo Guerreiro (1989), Jay R. Galbraith (1995), Robert Kaplan e David Norton (2004), John Elkington (2011) e Armando Catelli (2013). Além dos trabalhos desses ilustres estudiosos, a pesquisa abrangeu os modelos de gestão e sua importância no mundo acadêmico e corporativo recente. Suas informações básicas são:
PRINCIPAIS INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA
Realização: 2016/2017
Entrevistados: 2 grupos, totalizando 13 participantes, os quais responderam a perguntas previamente preparadas com elevado nível de detalhamento.
Grupo 1: 6 professores – PUC SP (3), PUC MG (1), USP SP (1) e UMC MC (1).
Grupo 2: 7 profissionais do ambiente corporativo, atuantes nos grupos/empresas CSN, Entrevias, Ibiritermo (EDF Group e Petrobras), HLinaris e KPMG. Participaram da pesquisa sócios e executivos da Alta Administração (3, sendo 1 sócio presidente, 1 sócio diretor e 1 presidente), CFO’s (2) e diretora de riscos, compliance, recursos humanos e auditoria interna (1).
Metodologia de pesquisa: pesquisa exploratória, baseada em questões abertas, por meio das quais foram aprofundadas as questões pesquisadas.
Principal questão pesquisada: Um modelo de gestão sustentável é fundamental à materialização da estratégia em resultados sustentáveis para as organizações? A hipótese da pesquisa adotada para esta pergunta foi sim, tendo sido confirmada pelos dois grupos de pesquisados
Outras questões relevantes pesquisadas: Qual seria uma boa metáfora para explicar o que é um Modelo de Gestão? O que é mais importante em um Modelo de Gestão, partindo da estrela de Galbraith incrementada – estratégia, estrutura, processos e tecnologia, pessoas e cultura, sistema de recompensas, suportado por ética e boas práticas de governança e de sustentabilidade (em ordem de importância)?
Observações: quatro entrevistados tiveram parte de suas respectivas entrevistas publicadas nesta revista, a saber (em ordem cronológica de edição): Sérgio Bento Silva (edição 213, jun-jul/2017), Humberto Linaris (edição 214, ago/2017), Prof. Dr. Antônio Benedito Silva Oliveira (edição 216, nov/2017) e Prof. Osvaldo Alves Soares (edição 217, dez/2017-jan/2018).
Agradecendo aos entrevistados por seus elevados níveis de dedicação e comprometimento com a pesquisa, Cida Hess elaborou análises por grupo de entrevistados e para os dois grupos conjuntamente considerados, cujas conclusões foram surpreendentes e ultrapassaram amplamente o objetivo inicial da dissertação.
Em linhas gerais, o grupo de acadêmicos considerou que:
Quanto ao grupo de executivos, este considerou:
Sobre as considerações acima, conforme se constata, ambos os grupos de entrevistados consideraram que a existência de um Modelo de Gestão é fundamental para dar sentido à gestão dos negócios e concretizar a estratégia, produzindo resultados sustentáveis. Isto se dará por meio de sua construção e implementação, via objetivos e metas estratégicos estabelecidos e monitorados, sendo que correções de rota podem ser necessárias.
Ao mesmo tempo, ambos os grupos reconheceram que o Modelo de Gestão vai além da estratégia, impactando outras dimensões da organização. O grupo de sócios e dirigentes organizacionais, especificamente, integrado por responsáveis pela gestão de grandes conjuntos de pessoas em suas trajetórias profissionais e dia-a-dia, enfatizou a gestão de pessoas como um dos temas mais críticos para o sucesso da gestão, a qual integra um modelo de gestão.
Reforçando o dito acima, relembramos alguns insights obtidos dos acadêmicos e executivos publicados nesta revista:
Um Modelo de Gestão robusto e alinhado com as práticas da corporação é a única forma de garantir resultados sustentáveis a médio e longo prazos, uma vez que:
Além de confirmar a hipótese de pesquisa - sim, o Modelo de Gestão Sustentável (MGS) é fundamental à materialização da estratégia em resultados sustentáveis! - os grupos de entrevistados, ao criarem metáforas que pudessem explicar como eles visualizam o que seja um MGS, foram surpreendentes.
Primeiramente, eles visualizaram o MGS de várias formas: como o maestro oculto da organização; o gene de tudo o que será a organização; a constituição da gestão da organização; o malabarista, representando o equilíbrio; a inteligência que produz e reúne todo o pensamento relevante sobre temas como gestão e vários outros que integram o universo de uma organização de negócios; o catalizador, dentro da química dos negócios, de todas as reações relevantes para que os objetivos organizacionais sejam alcançados; a partitura de uma sinfonia; a idealização da gestão, uma modelagem de como tem que ser a gestão organizacional, contemplando os elementos básicos de gestão; a espinha dorsal de um empreendimento; um conjunto de instrumentos para planejar, controlar e corrigir variáveis chave da organização; uma espécie de leme de um barco ou avião, que dá a direção, executando correções de rota quando isso se torna necessário.
Em segundo lugar, ao buscarem explicar a fundo essas metáforas, os entrevistados permitiram à pesquisadora identificar quatro dimensões adicionais ao clássico PDCA (Plan / Do / Control / Act), frequentemente citado em estudos sobre modelos de gestão, quais sejam:
Direcionar – direcionar a Arquitetura Organizacional, o desenho ou projeto da organização, criando orientações gerais e específicas para os cinco vértices da chamada Estrela de Galbraith ampliada (estratégia, estrutura, processos & tecnologia, pessoas & cultura e sistema de recompensas).
Energizar – estimular pessoas a produzirem bons resultados e a evoluírem, criando a cultura desejada, em qualquer nível da organização
Tornar consistentes com a sustentabilidade – ser sustentável – introjetar os conceitos de sustentabilidade e do Triple Bottom Line - TBL -, em qualquer nível da organização.
Conectar– conectar os cinco vértices da Arquitetura Organizacional - a Estrela de Galbraith ampliada -, interligando-os e alinhando-os entre si.
Estas quatro novas dimensões citadas compõem a envoltória das funções PDCA que temos apresentado nesta coluna Orquestra Societária e as quais reproduzimos na figura na abertura desse artigo, a fim de que os nossos leitores possam – finalmente! – saber de onde elas surgiram.
Além de permitirem referendar as dimensões representadas na referida figura, os entrevistados entenderam que o Modelo de Gestão Sustentável (MGS) cria orientações (apreciamos também usar a palavra comandos) importantes para a estratégia, estrutura, processos & tecnologia, pessoas & cultura e sistema de recompensas. Para cada um desses vértices, eles identificaram aspectos relevantes que um MGS deve orientar, independentemente da estratégia corporativa e de negócios.
Parte desses comandos pode ser identificada nas considerações anteriormente reportadas que emergiram da pesquisa, como por exemplo, a necessidade de conceber e implantar a estratégia via objetivos e metas monitorados e reavaliados, de melhorar a execução de tarefas – ou dito de outra forma, os processos –, de motivar pessoas e de recompensá-las, para que estas se sintam motivadas. Nesse sentido, para que pudéssemos aprofundar sugestões e insights recebidos dos entrevistados, necessitaríamos de um artigo específico.
É interessante enfatizar que cada uma das oito dimensões do MGS representadas na figura anterior pode ser combinada com cada um dos cinco vértices da estrela de Galbraith, ainda que algumas dimensões tenham maior nível de afinidade com determinado vértice (exemplificando: a dimensão energizar está profundamente relacionada ao vértice pessoas & cultura). As possibilidades de análise são muitas.
Finalizamos observando que os 20 fundamentos de um MGS, apresentados na edição 229 desta Revista RI, foram substancialmente embasados nos resultados da pesquisa aqui descrita e convidamos os nossos leitores a nos enviarem suas considerações e reflexões sobre o conteúdo deste artigo, as quais serão bem-vindas.
CIDA HESS
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica BrandÃo
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com