Transformação Digital

TECNOLOGIAS DISRUPTIVAS & O PAPEL DO CONSELHO NA ERA DOS DADOS

As transformações tecnológicas e digitais presenciadas atualmente trazem importantes reflexões sobre como serão as relações do indivíduo com a sociedade, trabalho e meio ambiente, e também das organizações diante da profundidade ideal de debate a ser alcançada nas pautas dos Conselhos da Administração e Comitês no exercício das funções de conselheiro e executivo.

A responsabilidade de tomar decisões críticas e sensíveis, assim como assumir a elaboração do planejamento estratégico de uma organização são desafios a serem enfrentados. Sendo necessário verificar como assegurar que os colaboradores e demais partes interessadas caminharão minimamente seguros diante às constantes mudanças contextuais com o objetivo de seguir uma trajetória sustentável nas organizações.

Tecnologias exponenciais como inteligência artificial, analytics, IoT, wearables, machine learning, computação quântica, cloud e blockchain demonstram poder de inovações catalisadoras de uma revolução silenciosa e veloz. O aumento na geração de dados é uma realidade que exige acompanhamento dos integrantes da alta admnistração para convertê-lo em iniciativas estratégicas.

Os diretores e conselheiros habituados a realizar análises de resultados, metas, objetivos periódicos e requisitos a fim de mitigar riscos, estão sendo cada vez mais exigidos pelos acionistas e investidores a promover e apresentar resultados no avanço da inovação pela disputa por vantagens competitivas.

Os desafios de conduzir e liderar na era dos dados estão provocando mudanças radicais na governança corporativa, uma vez que mercados e economias desenvolvidas vêm aprimorando suas leis com objetivo de garantir que as corporações evoluam na direção de uma sociedade conectada, descentralizada, digital e livre nas relações comerciais.

Um dos sinais dessa mudança de comportamento é constatado pela pesquisa realizada pela Spencer Stuart em 2018 que identificou que 20% da composição do corpo de conselheiros das empresas listadas na S&P 500 possuem formação e ou pós-graduação em áreas tecnicas ou ciências da tecnologia.
 
As empresas, em diferentes setores, estão lutando para se reinventar com o objetivo de encarar de frente os fatores que influenciaram diretamente na desaceleração das vendas em seus principais negócios. Isso porque as tecnologias exponenciais estão permitindo que startups, e-commerces, economias colaborativas e outras modalidades digitais de negócio diluam a participação de grandes players no mercado.

Aliado a isso, os hábitos da nova geração de consumidores vem tirando o sono das áreas de inovação das grandes indústrias que não conseguem se mover na velocidade das ágeis e criativas startups, onde muitas vezes as tomadas de decisões precipitadas das gigantes levam a verdadeiras catástrofes em termos de resultados e posicionamento de marca por não serem capazes de cobrir e ou considerar todos os riscos que incorrem no negócio.

Adotar a inovação e seus riscos exige que os conselhos e a alta administração desenvolvam novas maneiras de trabalhar em conjunto. Isso significa que as reuniões de diretoria não consistem mais em apresentações bem elaboradas pelos diretores, seguidas de algumas perguntas superficiais do conselho. O desejo de criar diferentes maneiras de trabalhar nem sempre é acompanhado pela capacidade de fazê-lo. A mudança na adoção de novos papéis e critérios parece desconfortável - até mesmo não natural - para a maioria das pessoas.

Uma das perguntas que sempre é feita pelos que estão fora das reuniões do Conselho, e ou profissionais da inovação e desenvolvimento de negócios é: por que os conselheiros são tão resistentes à inovação? Os conselhos acreditam cada vez mais que, para cumprir sua obrigação de garantir o bem-estar de longo prazo de suas empresas, eles precisam apoiar a administração no desenvolvimento de uma estratégia de inovação convincente. Isso significa aprender a abraçar riscos, continuar a mitigá-los e gerenciá-los o máximo possível.

Nesse paradigma do risco invertido, os conselhos estão descobrindo que evitar riscos é a proposta mais arriscada de todas. É preciso ter a capacidade de visualizar e navegar em territórios inexplorados com novos produtos, serviços, modelos de negócios ou formas de organização ou trabalho. Permanecer estático ou aguardando para ver como as coisas acontecem não são consideradas opções em tempos de volatilidade, incertezas, complexidade e ambiguidade.

A reconstrução do Conselho é necessária para a inovação nas organizações por meio de discussões para encontrar melhores maneiras de governá-la, desde revisitar a composição de seus conselhos quanto a maneira como eles interagem. No entanto, os conselheiros muitas vezes relutam em falar publicamente sobre como suas diretorias operam, dificultando que os conselhos compartilhem as melhores práticas. Isso é especialmente problemático quando se trata de inovação - uma área em que os diretores geralmente sentem que há trabalho a ser feito.

O perfil e cenário do Conselho de Administração nunca foram tão incertos e disruptivos como antes, vivemos tempos de profundas revoluções sociais, geopolíticas e tecnológicas. A fim de acompanhar e se manter atualizado para essas tendências, o profissional que desejar se manter ativo e competitivo ao mercado e à sociedade em geral deverá continuar aprendendo e desenvolvendo novas habilidades.


Felipe Dal Belo
é advisory board member da Grant Thornton Brasil.
felipe.belo@br.gt.com


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