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As obrigações financeiras nas famílias se alteram a cada dia. Durante muito tempo competia ao homem trazer dinheiro para casa e à esposa administrar os recursos em benefício de todos. Os filhos eram criados neste ambiente até o dia em que começavam a trabalhar e saiam de casa para constituir seus próprios lares.
Depois das mudanças com o ingresso das mulheres no mercado de trabalho ocorre outra transformação na estrutura das famílias, a demora dos jovens em sair da casa dos pais. É cada vez maior o número de lares em que os filhos conquistam o primeiro emprego, começam a ganhar o próprio dinheiro, mas continuam vivendo com a família.
Nos lares em que a renda é mais baixa, muitas vezes o salário do jovem é fundamental para o sustento da família. Assim, o momento de começar a trabalhar, e contribuir para as finanças da família, é quase uma imposição para a sobrevivência. Mas, naquelas famílias, das classes mais abastadas, em que o dinheiro do jovem não é necessário para o sustento, será que ele também deve contribuir?
Minha opinião é que sim, ele deve contribuir com as despesas, pois sendo a família uma sociedade não existe justificativa para que alguém receba tratamento diferente dos demais.
Surge, então, a dúvida: como organizar as finanças a partir dessa nova realidade?
A resposta para esta questão deve ser construída muito antes de o jovem ter idade para trabalhar. Filhos que aprenderam desde a mais tenra idade o que é uma família saberão muito bem como se comportar quando passarem a ganhar dinheiro.
Se desde cedo o jovem aprendeu a cuidar do próprio quarto, lavar alguma louça e contribuir como pode, deve entender que uma família é uma sociedade que funciona melhor quando todos contribuem para que dela recebam o que é preciso. Algo muito próximo de um regime socialista.
Jovens com boa formação sabem que precisam contribuir, já os que não têm sabem apenas reconhecer as próprias necessidades. Em um modelo ideal, o jovem desde o seu primeiro salário vai buscar contribuir financeiramente com a família. Com o primeiro salário virá uma maior liberdade, mas também uma maior responsabilidade com o bem-estar dos pais e dos irmãos.
Filhos que trabalham e não precisam contribuir podem usar todo o salário para comprar itens que não são fundamentais. Assim, acabam direcionando para os supérfluos uma porcentagem da renda muito maior do que a aconselhável. Se este comportamento se consolidar, será mais difícil para esse jovem estabelecer a própria família mais tarde.
Em outro extremo, também bastante problemático, é quando o salário dos filhos passa a ser fundamental para o orçamento. A contribuição do jovem não deve ser superior às despesas que ele gera. Assim, no dia em que ele sair de casa, a família poderá continuar vivendo no mesmo padrão. Também, se evita uma inversão de valores, quando o jovem passa a ser “o chefe da casa” – o que dificulta muito a saída do filho para a constituição de uma nova família.
Destino do dinheiro
Como vimos, o ideal é que os jovens contribuam com uma parte do salário que seja proporcional às despesas fundamentais que ele gera naquela família. Mas, nas classes média alta e alta não é razoável esperar que o filho pague proporcionalmente as despesas que a família gera. Como exemplo, se a família mora em um apartamento com uma taxa de condomínio elevada, não é aconselhável, e muitas vezes sequer possível, que ele pague um valor proporcional ao uso. Porém, ele pode pagar uma parte pois, no futuro, quando tiver sua própria casa terá esta despesa.
Sempre se deve evitar ao máximo que o filho prejudique os estudos para trabalhar. Os gastos com educação trazem tanto retorno que são considerados um investimento. Claro que o trabalho bem dosado é por si só uma forma de educação. O trabalho é a prática e a escola, a teoria. O salário dele no futuro vai depender da capacidade de conciliar teoria e prática. O mercado não valoriza muita teoria sem nenhuma prática, nem muita prática sem teoria.
Os pais devem ajudar os jovens a perceber a importância de poupar desde o dia em que recebem os primeiros salários. Devem também instruí-los a evitar os efeitos danosos da utilização do crédito amplamente oferecido aos jovens trabalhadores. Gastar mais do que ganha desde o momento em que se ingressa no mercado costuma ter um alto preço. No futuro, é provável que ele tenha que viver com menos do que vai ganhar para pagar o capital e os juros dos empréstimos tomados anteriormente.
O trabalho nunca deve ser visto como castigo – e sim como uma oportunidade de descobrir o prazer de ganhar o próprio dinheiro. Por isso, é muito importante que os pais evitem ao máximo chegar em casa reclamando do trabalho. Pense que quando o pai ou a mãe chegam em casa falando dos problemas do trabalho os filhos vão, naturalmente, associar trabalho à negatividades.
É fundamental que os pais sempre guardem algumas histórias interessantes e alguns momentos para compartilharem com os filhos sobre os desafios e alegrias que vivem no trabalho. Assim os filhos vão associar o trabalhar e se sustentar como coisas positivas da vida.
Compete aos pais administrar sem tabus o momento em que os filhos passam a contribuir com as despesas da casa. Neste momento não há nada melhor do que uma boa conversa para que cada um exponha suas opiniões e expectativas de forma clara. Espero que este artigo sirva como ponto de partida para conversas assim.
Jurandir Sell Macedo
é doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
jurandir@edufinanceira.org.br