A sigla ESG está por toda parte. Em discussões profundas e provocativas, em iniciativas que buscam comprometimento com a causa e também em reflexões sobre discursos que se tornam mais potentes do que a prática em si. No caso da parcela ambiental do acrônimo ESG, temos até um termo específico (e importado) para resumir a situação: greenwashing.
O papel fundamental do que chamamos de “mercado” para colocar a sigla ESG no campo prático recorrente nas rodas de conversa. O poder de direcionar recursos e influenciar positivamente as partes interessadas (stakeholders) são pontos chave para que as transformações demandadas pela sociedade ocorram mais rapidamente.
E é na valorizada opinião do mercado que gostaria de chegar. Nove em cada dez profissionais de companhia aberta acreditam que o informe sobre o Código Brasileiro de Governança Corporativa traz reflexões e aprendizados, contribuindo para o amadurecimento das práticas de governança. Além disso, a maior parte dos participantes da pesquisa também acredita que o documento é um importante instrumento de transparência junto a investidores e outras partes interessadas, além de representar um investimento para a companhia e não um custo.
A pesquisa também aponta que, para 79% dos respondentes, a adoção ou não dos princípios e práticas refletidos no informe tem potencial impacto no valor de mercado da companhia, bem como 58% dos participantes afirmaram que a companhia avaliou os informes de concorrentes e empresas de interesse.
Os dados resultam da pesquisa Pratique ou Explique: Percepção dos Profissionais de Companhias Abertas acerca do Informe sobre o Código Brasileiro de Governança Corporativa, divulgada este ano. O levantamento foi conduzido pelo GT Pratique ou Explique, grupo de trabalho formado por representantes de 11 organizações do mercado, entre elas o IBGC, que avaliou, pela primeira vez, as percepções e a experiência dos profissionais das companhias abertas que atuam diretamente na elaboração do documento.
No ano anterior, outra pesquisa ouviu os investidores, outra parcela importante do “mercado”. Para 96% dos respondentes, o informe tem relevância para a análise do investimento. Ao mesmo tempo, 90% acham que essas informações têm algum impacto nas recomendações ou os ajudam em suas decisões de investimento. Isto se confirma pelo fato de que 82% da amostra fizeram pelo menos uma consulta ao documento para então definir suas decisões ou recomendações.
O que podemos deduzir a partir de todos esses dados? É preciso dar atenção a este documento, parte importante da porção “G” da sigla do momento. O prazo para entrega do informe à CVM termina no fim de julho. Não há como uma empresa listada na bolsa de valores se vangloriar de suas conquistas nos campos ambiental e social sem se atentar às suas práticas de governança e à necessidade constante de evolução.
O informe sobre o Código Brasileiro, vale lembrar, é o documento que registra, ano após ano, a trajetória da companhia no campo da governança. Retrocessos serão percebidos, assim como evoluções. Estão todos de olho. E atentos a incongruências, discursos que não correspondem à prática ou escorregões diante dos pilares que norteiam as boas práticas – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Evitar arranhões de reputação, gerar mais valor aos stakeholders e correr menos riscos são benefícios decorrentes da adoção das melhores práticas de governança corporativa que sempre foram importantes e, no mundo atual, se tornaram também determinantes para a prosperidade das organizações.
Pedro Melo
é diretor geral do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
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