Esta é uma edição especialmente relevante para o nosso projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita, que abrangerá o total de 12 entrevistas publicadas nesta seção: Orquestra Societária, com conselheiras de administração altamente qualificadas, certificadas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC.
Nosso projeto concluiu 1/3 de sua execução, tendo sido realizadas, até o momento, quatro entrevistas sequenciais, respectivamente com as conselheiras Olga Stankevicius Colpo, Cátia Tokoro, Deborah Patrícia Wright e Eliane Aleixo Lustosa. Aqueles que desejarem, poderão acessar o pensamento das conselheiras em versões impressas e também digitais da Revista RI (www.revistari.com.br), correspondentes às edições 258 a 261, respectivamente.
Nesta edição, nossos objetivos são três:
A realização das quatro entrevistas iniciais, realizadas à distância e abrangendo diferentes locais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, se deu no período de fevereiro a abril de 2022 e o meio empregado foi a ferramenta Teams. Foram elaboradas perguntas prévias, comuns para as quatro conselheiras entrevistadas, bem como perguntas específicas, considerando suas respectivas qualificações.
Nossas entrevistadas têm currículos e experiências profissionais muito relevantes, sendo preparadas para opinar em profundidade sobre variados temas; foi o que elas fizeram em suas respectivas entrevistas, o que nos permitiu chegar a conclusões muito importantes, relatadas a seguir. Vamos a elas.
Algumas conclusões sobre as entrevistas
Brevemente, e de maneira não exaustiva, os principais pontos comuns percebidos nas entrevistas, total ou parcialmente – no mínimo com a visão de duas conselheiras e sem oposição presente nas outras entrevistas – foram aqueles a seguir.
1. Trajetória dos temas sustentabilidade e ESG
A expressão que resume a trajetória dos temas sustentabilidade e de ESG, até o presente momento, é evolução em espiral ascendente. Nesse sentido, podemos afirmar:
2. Governança corporativa
Com a sustentabilidade e ESG, a governança corporativa mudou de patamar, observando-se:
3. Sustentabilidade e ESG
Considerado evolução do clássico Triple Bottom Line ou TBL, Environmental, social, and corporate governance ou ESG e suas práticas trazem a sustentabilidade ao ambiente das empresas e demais organizações que adotam suas práticas, da cúpula à linha de frente.
ESG tem pontos essenciais de atenção para o seu sucesso, tais como:
Adicionalmente, ESG pode evoluir para outros formatos, já que a evolução prossegue. Face presente da sustentabilidade, é um dos principais retratos de uma jornada em espiral ascendente.
4. Pandemia COVID e seus impactos
A pandemia evidenciou com mais intensidade e mesmo aprofundou a já elevada desigualdade social que, infelizmente, o sistema capitalista ainda não conseguiu resolver. Ao mesmo tempo:
Aplicando o aprendizado à orquestra societária
As conclusões das quatro entrevistas inicialmente realizadas com conselheiras de administração, brevemente aqui descritas, remetem a uma reflexão importante sobre a Orquestra Societária e seus elementos fundamentais.
As figuras apresentadas nesta edição ilustram a Orquestra, o Modelo de Gestão Sustentável (MGS) e a Sinfonia Corporativa, apresentando-se seus respectivos conceitos abaixo de cada figura, com pequenos ajustes de forma, para fins de concisão. Note-se que a governança corporativa e a sustentabilidade estão indicadas na Orquestra, ladeando a ética e o propósito da organização ou simplesmente propósito, variável muito importante para ESG.
Veja-se também que a governança e a sustentabilidade estão representadas no Modelo de Gestão Sustentável (MGS), em suas funções Direcionar, Energizar, Ser Sustentável e Conectar, as quais envolvem o clássico PDCA (Plan-Do-Control-Act), inerente aos modelos de gestão. A função Ser Sustentável reforça a sustentabilidade, sem perder de vista a importância das demais funções para esse tema.
Enfatiza-se, adicionalmente, que a governança corporativa e a sustentabilidade estão representadas, na Sinfonia Corporativa, nos três termos da equação 1, quais sejam: Alinhamento, Riscos Geridos e Resultados Sustentáveis.
A pergunta inicial a ser feita sobre a Orquestra Societária, o Modelo de Gestão Sustentável (MGS) e a Sinfonia Corporativa, considerando as quatro entrevistas inicialmente mencionadas nesta edição é: Como agregar ESG a esses conceitos? A nosso ver, a resposta virá da exploração mais aprofundada, em entrevistas futuras, das seguintes questões fundamentais:
1. Propósito (figura da Orquestra Societária) e sua conexão com objetivos mais amplos de melhoria das condições econômicas e socioambientais planetárias.
2. Sincronização entre os PDCA´s, ou seja, entre o PDCA do Modelo de Gestão Sustentável ou MGS (foco: gestão de estratégia) e o PDCA de ESG (item 3);
3. Fatores críticos de sucesso de ESG, a fim que este seja bem-sucedido nas organizações. E conexões (links) relevantes entre esses fatores e as cinco dimensões seguintes (figura da Orquestra):
4. Práticas relevantes de ESG, que possam viabilizar os fatores supracitados.
Estes são alguns dos desafios que enfrentaremos até o final das 12 entrevistas contempladas no projeto: ESG: uma partitura que está sendo escrita. Lembrando que ao longo dessa jornada, novos insights emergirão.
A Orquestra Societária é a organização comprometida verdadeiramente, em sua essência, com a ética, seu propósito e as boas práticas de governança corporativa e de sustentabilidade, em completa harmonia com sua estratégia, instrumentalizada por um Modelo de Gestão Sustentável (MGS), gerando a Sinfonia Corporativa.
Destaca-se a representação do MGS como uma chave – ou chave de sucesso – na coordenação de variáveis-chave da organização, as quais descrevem a arquitetura organizacional: 1) Modelo de negócios & Estratégia; 2) Estrutura; 3) Processos & Tecnologia; 4) Projetos; e, 5) Pessoas, Reconhecimento & Cultura. E destaca-se ainda a presença dos stakeholders: a audiência da Orquestra Societária e as pessoas.
O Modelo de Gestão Sustentável (MGS) é o conjunto de princípios, valores e crenças, que se transpõem em práticas de gestão respeitadas, comunicadas e amplamente aplicadas pelos líderes e gestores na organização, suportadas por diversas ferramentas de apoio à administração, visando a performance sustentável e a satisfação de todos os stakeholders.
O MGS tem as funções concomitantes de Direcionar, Energizar, Ser Sustentável e Conectar, aplicáveis às cinco dimensões da Orquestra Societária – Modelo de Negócios & Estratégia e as demais –, materializando a estratégia em resultados sustentáveis.
As quatro funções acima mencionadas constituem uma envoltória ao redor do clássico PDCA, inerente aos modelos de gestão, o qual compreende, por sua vez, quatro dimensões próprias: Plan (planejar), Do (Executar), Control (Controlar) e Act (Corrigir).
Os conceitos anteriores são vistos a seguir:
Discriminação | PDCA | Conceito |
---|---|---|
Princípios | Regras de convívio de caráter universal | |
Valores | Requisitos importantes e variáveis para distintos contextos | |
Crenças | Pressupostos considerados válidos sobre como a organização deve operar, em busca de resultados | |
Práticas | Políticas, diretrizes, normas, regras, procedimentos e outros instrumentos para concretizar um modelo de gestão | |
Direcionar | Criar orientações gerais para os cinco vértices da Orquestra Societária | |
Energizar | Estimular pessoas a produzir resultados, criando e favorecendo a cultura organizacional pretendida | |
Ser Sustentável | Introjetar os conceitos de sustentabilidade e de ESG | |
Conectar | Conectar os cinco vértices da Orquestra Societária, interligando-os | |
Planejar | X | Planejar o que deve ser feito |
Executar | X | Executar o planejamento |
Controlar | X | Controlar os resultados |
Corrigir | X | Corrigir o planejamento |
Notas: As oito funções citadas não são exaustivas, possibilitando, todavia, que o MGS torne a organização um organismo vivo, em constante mutação. O PDCA pode ser rodado em todos os níveis da organização.
Sinfonia Corporativa
A Sinfonia Corporativa é resultado global produzido pela Orquestra Societária, descrito pela equação 1, que abrange três componentes:
EQUAÇÃO 1:
Sinfonia Corporativa = Alinhamento + Riscos Geridos + Resultados Sustentáveis
Alinhamento abrange harmonia:
A representação do alinhamento é o ícone com pessoas ao redor de uma mesa na figura acima,
Riscos Geridos abrangem todas as naturezas de riscos da organização, previamente analisados, classificados e com plano de ação de mitigação e acompanhamento periódico pelo conselho de administração e a diretoria executiva. A representação dos riscos é o ícone da balança da figura anterior.
Resultados Sustentáveis, por seu turno, levam em consideração o conceito de sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental (Triple Bottom Line – TBL) e correspondem às equações 2, 3 e 4, que complementam e integram a Orquestra Societária. Os termos dessas equações são amplamente conhecidos por especialistas em finanças corporativas; a novidade reside na inserção da sustentabilidade. A representação dos Resultados Sustentáveis corresponde aos ícones de cifrãos e do símbolo de infinito.
EQUAÇÃO 2:
Lucro sustentável = (Receitas – Custos e Despesas) Sustentáveis [$]
EQUAÇÃO 3:
Retorno sustentável sobre o Investimento =
Lucro sustentável / Investimento sustentável [%]
Deve ser inferior ao custo de capital
EQUAÇÃO 4:
Fluxo de caixa sustentável =
Lucro sustentável – Investimento sustentável +/- Ajustes de caixa sustentáveis [$]
Sobre as próximas entrevistas
As considerações anteriores remetem à necessidade de investigações adicionais com as próximas conselheiras entrevistadas, partindo da visão de que ESG integra uma jornada de desenvolvimento – e aprendizado! – em espiral ascendente. Assim sendo, nas próximas entrevistas, buscaremos tratar as seguintes questões de pesquisa e respectivas perguntas (entre outras):
Questão 1: propósito da organização
Questão 2: PDCA´s do Modelo de Gestão e de ESG
Questão 3: Fatores críticos de sucesso de ESG
Questão 4: Práticas ESG
Caros leitores, após esta breve, mas muito importante reflexão sobre as contribuições das conselheiras até aqui entrevistadas para o Projeto ESG: uma partitura que está sendo escrita, daremos continuidade às entrevistas com oito conselheiras certificadas pelo IBGC, explorando fundamentos à estruturação do M-ESG.
Finalizamos convidando todos a nos enviarem mensagens com contribuições, críticas e sugestões ao nosso projeto.
Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestre em contábeis pela PUC SP, doutoranda pela UNIP/SP em Engenharia de Produção - e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica Brandão
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como executiva e conselheira de organizações e como professora.
mbran2015@gmail.com