No 2º Encontro ESG, realizado em agosto de 2023, pela parceria ABRASCA-APIMEC Brasil, o tema Social, o “S” do ESG, foi debatido num painel com o mesmo título deste artigo. Frente a tantas emergências, num país com tanta desigualdade social, o foco foi a diversidade e inclusão dos públicos internos e externos das entidades do mercado de capitais.
No que se refere ao público interno da APIMEC Brasil, associados, analistas credenciados e demais profissionais certificados, foi destacado que as mulheres representam apenas 15% dessas categorias, mesmo percentual vigorando desde 2010. Não se tem explicações para essa estagnação, algumas hipóteses foram levantadas, tais como a falta de interesse das mulheres na área de finanças, a preferência dos recrutadores em selecionar homens para os cargos de analistas e consultores e o ritmo de trabalho que conflitaria com a agenda das mulheres em fase de maternidade.
Nas demais entidades certificadoras e credenciadoras coirmãs do mercado de capitais, o cenário melhora, porém não modifica o abismo da desigualdade de gênero que existe no mercado. Na ANCORD, associação responsável pela certificação e credenciamento do assessor de investimento, as mulheres representam cerca de 21% desses profissionais. Na ANBIMA, entidade que habilita profissionais a atuar na gestão de recursos de terceiros em fundos de investimento, bem como certifica profissionais de distribuição de produtos de investimento, entre outras certificações, o número de mulheres chega aproximadamente a 46%.
Além das principais atividades reguladas pelo mercado de capitais, merece destaque a atuação dos influenciadores digitais que desempenham na atualidade um papel crucial na educação financeira, inclusive 75% dos novos investidores iniciam na bolsa por meio dos conteúdos publicados pelos influenciadores, também neste caso as mulheres representam a minoria absoluta, cerca de apenas 12% são mulheres.
No que tange a diversidade Racial, a proporção de negros e negras e indígenas nas atividades do mercado é insignificante, refletindo, de saída, a desigualdade de oportunidades na educação fundamental e superior. Do lado da APIMEC Brasil, precisamos estimular as casas de análise a atentarem para a diversidade de gênero e de raça na hora de contratar. Também é necessário desenvolver programas de educação financeira para as camadas mais pobres da população, de maioria negra, para ampliar seus conhecimentos em finanças pessoais e atrair jovens para a profissão.
Ainda no público interno, a atual gestão, executiva e conselho, tem procurado promover a diversidade e inclusão, seja no quadro de funcionários quanto dos gestores. Nosso Conselho de Administração tem 2 mulheres, dentre 9 titulares, já o Conselho de Supervisão do Analista, componente organizacional da APIMEC Autorregulação, responsável pelos julgamentos dos processos administrativos e pela promoção da qualificação dos analistas de investimento e pela integridade de suas práticas, possui 4 mulheres, também de um total de 9 membros e entre funcionários mais de 57% são mulheres. Cabe destacar, que as 3 ultimas contratações de novos talentos, do programa de estagiários são mulheres.
Com relação ao público externo da APIMEC Brasil, a saber, investidores, profissionais de RI, profissionais de comunicação, entidades do mercado e reguladores, a APIMEC já participou ou ainda participa de diversas iniciativas coletivas para promoção da diversidade e inclusão, mas todos do mercado precisam fazer muito mais.
Neste contexto, merece destaque a criação em julho/2023, da Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão, plataforma criada para fomentar a diversidade e a inclusão no mercado por meio de atitudes educativas que incentivem o mercado a tratar o tema.
Também é necessário atentar para a qualidade do ambiente de trabalho, para que os incluídos não se sintam rejeitados ou desrespeitados. Por exemplo, o assédio é uma realidade presente e os indicadores de violência contra mulheres têm crescido. Esse foi o principal tema do último encontro da Rede, realizado em outubro/2023, que trouxe ainda, que 76% das mulheres afirmaram ter sofrido violência e assédio no trabalho.
Por fim, a APIMEC Brasil recebeu com muita satisfação o lançamento do Índice de Diversidade da B3, cuja metodologia seleciona ações de companhias que apresentam boa pontuação em diversidade e inclusão, com base nas informações dos respectivos Formulários de Referência.
As conclusões do 2º Encontro ESG, trazidas no Painel “Emergências Sociais” convergem para as informações do encontro da Rede ANBIMA de Diversidade e Inclusão e as preocupações da B3. Os debatedores concordaram que o “S” da sigla ESG ou ASG não tem recebido a devida atenção, sendo necessário “furar a bolha” e olhar para as pessoas em situação de emergência social, sem preconceitos, apoiando ou promovendo ações de diversidade e inclusão.
Temos que ter em mente a verdadeira dimensão do “S”, já foi a época do mercado enxergar inclusão como conflitante com a agenda financeira. Nossa missão deve incluir metas sociais efetivas e temos que combater qualquer tipo de discriminação de gênero, raça, região, credo religioso, etarismo e classe social.
Lucy Sousa
é presidente executiva da APIMEC Brasil.
lucysousa@apimecbrasil.com.br