O clima econômico turbulento dos últimos anos colocou em evidência os perigos das projeções de resultados, também conhecidas como “guidance”. Nos EUA, gigantes como Unilever, Coca-Cola, Dell, Google e Citigroup desistiram de divulgar projeções. Também no Brasil, o hábito de publicar guidance foi abandonado por um número significativo de empresas.
Paul Polman, CEO da Unilever, conta que o preço da ação caiu 8% quando a empresa anunciou o fim da orientação. Muitos viram isso como um precursor para mais notícias ruins, mas isso não incomodou a posição da empresa de que, no longo prazo, o seu verdadeiro desempenho seria refletido no preço dos papéis. “Foi necessário um ano para tornar muito claro internamente que estávamos focados no crescimento sustentável. Para reforçar essa mensagem externamente, concentramos nossos esforços em atrair mais os acionistas de longo prazo", explica.
A divulgação de projeções, no entanto, está longe de ser unanimidade. Os analistas estão inclinados a argumentar que a orientação é essencial. Fabio Alperowitch, sócio da Fama Investimentos, afirma que a capacidade que a empresa tem de projetar seu próprio futuro é, em tese, melhor que a de qualquer analista que acompanha a companhia, por mais bem informado que seja. “E, por esta razão, os guidances exercem grande influência na previsão dos analistas, que dificilmente assumirão perspectivas antagônicas àquelas que a empresa projeta”, diz.
Para o gestor, na teoria, o uso do guidance é um excelente instrumento, uma vez que universaliza as informações, reduz a volatilidade do mercado, evita que investidores sejam demasiadamente otimistas ou pessimistas com as companhias, auxilia os bancos na concessão de crédito, entre outros benefícios. Contudo, os “efeitos colaterais” do uso de projeções podem ser extremamente nocivos para os investidores, bancos, participantes do mercado e, principalmente, para a própria empresa. “Do ponto de vista dos investidores, cria-se uma legião de acomodados e pouco questionadores. Afinal, se uma companhia projeta seu futuro daquela maneira, o investidor tende a não querer tomar o risco de ter opinião dissonante e estar errado... então, tende a deixar de ser tão diligente e aceitar os números tais quais recebe”, avalia.