A reestruturação do mercado de capitais realizada pela Lei 4.728, de 14 de julho de 1965, comemora 50 anos de sua promulgação. Ela foi antecedida pelas Leis 4.357/64 e 4.595/64, que criaram a correção monetária e as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional, além de regulamentarem o sistema financeiro nacional. Estas ações, demonstram todo o esforço realizado pelo governo Castelo Branco para, à época, restaurar a confiança de empresários e investidores nos mercados financeiro e de capitais no País.
Passadas cinco décadas, diria que o Brasil tem um sólido mercado financeiro, mas um mercado de capitais que não atendeu o anseio de empresários nem de investidores para a viabilização de um crescimento sustentável de seus negócios e da criação de uma infraestrutura logística que permitisse dar maior competividade às empresas brasileiras.
Inflação e juros altos foram e ainda são considerados os arqui-inimigos do mercado de capitais. A partir do Plano Real, o problema da inflação teve seu fator negativo minimizado. Porém, até hoje encontramos nos juros elevados um forte obstáculo ao crescimento desse relevante setor. E juros altos associados a juros subsidiados de longo prazo, como vimos acontecer, com mais intensidade, em meados da década de 1970 e, mais recentemente, de 2008 a 2014, tornam o mercado de capitais simplesmente impraticável.
De tempos em tempos, ao longo desse meio século, governo e sociedade buscaram caminhos novos para que o mercado de capitais fosse utilizado como um instrumento eficiente de alocação de poupança. Temos diversos exemplos dessa parceria bem-sucedida: a criação da CVM; a nova Lei das Sociedades Anônimas; a criação de fundos de pensão no final da década de 1970; a permissão para entrada de capitais estrangeiros; o Plano Real; a reestruturação da CVM; a Lei de Responsabilidade Fiscal (na década de 1990); a criação do Novo Mercado; a revisão da Lei de S.A.s; e a implementação do Plano Diretor do Mercado de Capitais (a partir de 2001).
Intervenções governamentais – como o uso indevido dos subsídios na década de 1970 e repetido nos últimos seis anos, como anteriormente mencionado –, a retirada de direitos de acionistas minoritários, para valorizar as ações das empresas privatizadas na segunda metade da década de 1990, e a criação da CPMF nas negociações em bolsa são exemplos de políticas de governo inibidoras do mercado de capitais. À semelhança do que vimos acontecer no processo de privatização nos anos 1990, em que o governo teve que optar por vender suas empresas pela total incapacidade financeira de capitalizá-las, o financiamento de longo prazo a juros subsidiados tornou-se impossível a partir de 2015 sem o sério risco de tornar o déficit público incontrolável. Como bem resumiu o atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy: “O dinheiro acabou”.
A falta de entendimento do governo de que juros subsidiados são concentradores de riqueza na mão dos mais ricos mostra a dimensão dos erros da política econômica de um governo que, neste passado recente, pretendia ter uma política social mais justa.
Nova oportunidade se apresenta para que o uso do mercado de capitais – como instrumento de aumento de produtividade do capital financeiro – volte a constar da formulação da política econômica do governo como o mais eficiente mecanismo de alocação de poupança de longo prazo. O Brasil tem hoje um dos mais bem estruturados mercado de capitais, com seu agente regulador reconhecido internacionalmente e com entidades representativas de seus diversos segmentos muito bem organizados. Contudo, às vezes, parece que estão todos voltados para seu próprio universo e esquecem a existência de um amplo espectro de investidores – individuais e institucionais – das empresas produtivas do País e dos investimentos em infraestrutura social e logística que deveriam ser a sua principal razão de atuação.
Para alterarmos este cenário, destacamos como urgentes mudanças que permitam:
Acredito que tais providências, se implementadas, levariam o Brasil à criação de um novo capitalismo, mais humano e mais social , no qual:
Concluindo, acredito num novo capitalismo, mais justo e impulsionado por um mercado de capitais mais eficiente nos próximos 50 anos.
Thomãs Tosta de Sã
é presidente do Instituto IBMEC e ex-presidente da CVM.
thomas.sa@ibmec.org.br