2013, podemos dizer que foi o início da instabilidade socioeconômica, quando começou a ser erguido um muro, que praticamente impediu que investidores estrangeiros aportassem recursos no Brasil. Esse muro da instabilidade continuou a ser levantado até 2016, quando sua altura ficou de tamanha proporção que praticamente não enxergávamos o seu fim.
Neste período foram irrisórias, por exemplo, as ofertas de abertura de capital, apesar de existir mesmo com a crise um volume grande de empresas com potencial de se tornarem companhias abertas.
Em outubro de 2016 tivemos o primeiro e único IPO do ano. Mas o ano de 2017 começa com outro ânimo. Já tivemos duas aberturas de capital e a promessa é que agora poderemos voltar a ter um ano de Mercado, pois se estima algo entre 20 a 60 IPO`s até o final deste ano e, com isso, o muro da instabilidade econômica começará a cair, mesmo que continue a instabilidade política, o que demonstrará a maturidade do nosso Brasil.
O importante é aprender a lição de dez anos atrás, quando - em 2007 - tivemos o ano com maior número de IPO's. Naquele momento muitas empresas que não estavam preparadas culturalmente, organizacionalmente, familiarmente (em alguns casos), agiram na ânsia pelos recursos financeiros (o mais rápido possível é claro), e com isso etapas foram queimadas, exigências foram "flexibilizadas", e corria até no mercado uma tabela de como abrir o capital em 62 dias úteis. Um executivo no dia do IPO falou a seguinte frase: "Há 3 meses nem Conselho de Administração nos tínhamos, e hoje estamos aqui". Como se a cultura de Companhia aberta e as práticas de boa governança pudessem se tornar realidade em um piscar de olhos.
E o que tivemos depois disso? Várias companhias, amargaram quedas assustadoras (muito além da realidade mercadológica) em suas ações, ocorrendo fechamentos de capital, fusões, etc ...
Em uma empresa o CEO também era conselheiro e o Chairman era o Vice-Presidente de Inovação, ou seja existia o circulo vicioso de: "EU mando em TU, e TU manda em MIM".
Em outra companhia dos 9 conselheiros, 4 eram oficialmente independentes, mas esses tinham feito a mesma faculdade do fundador da empresa, estudado na mesma sala de aula, daí surgiu o "verso/piada": amigo não é parente, portanto é independente.
Poderíamos aqui listar inúmeros casos, por isso é importante que a consciência para fazer um processo de IPO verdadeiramente bem sucedido (que vai muito além do maior valor da oferta), esteja presente não só na cabeça dos empresários, mas também nas áreas de underwriting dos Bancos, que irão liderar as operações de abertura, nas auditorias, nos escritórios de advocacias, nas consultorias... Com isso nosso mercado de capitais evoluirá, as empresas terão um canal corrente de recursos e o desenvolvimento socioeconômico do país será beneficiado.
Agora temos que admitir que, começar com um ex-consultor da empresa como seu Conselheiro independente e com apenas 4 reuniões do Conselho de Administração não é um bom pontapé inicial...
Teremos uma oportunidade de diamante, se o muro da instabilidade for quebrado com força avassaladora do mercado, mantendo o rigor para que 2017 seja o ano da virada, onde o nosso mercado de capitais, as nossas ofertas, e as nossas companhias listadas se tornem exemplo para o mundo.
Roberto Sousa Gonzalez
é diretor da Bússola Governança - Consultoria & Treinamento, que é partner da M2BS - Consultores. membro do Conselho do Fundo Ethical da Santander Asset Management, que só possui ações de companhias comprometidas com as boas práticas de governança e sustentabilidade. Professor na USP, Fipecafi, Fecap, entre outras instituições.
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