Este artigo é dedicado a um dos temas essenciais da Orquestra Societária - ESTRATÉGIA – amplamente divulgada na literatura acadêmica e de negócios e não necessariamente tratada de forma profissional por organizações, conforme as melhores práticas e referenciais de mercado.
Desde que iniciamos esta coluna na Revista RI, temos conceituado Estratégia como um dos elementos vitais da Orquestra e como um caminho de sucesso para que as organizações evoluam do presente ao futuro, com sucesso, criando a Sinfonia Corporativa, cuja equação (1) encontra-se na figura ao lado e é parte integrante da Orquestra.
Note-se que as demais equações da Orquestra Societária (2 e 3) complementam a equação inicial, correspondendo ao termo “Resultados Sustentáveis” nessa explicitada, sendo tais resultados expressos tanto em termos de “Lucro Sustentável” quanto de “Retorno Sustentável sobre o Investimento”.
Chamamos também a atenção dos nossos leitores para a consideração de que a Estratégia, uma dimensão fundamental da Orquestra Societária, exige o estudo de múltiplas teorias para ser amplamente compreendida.
Antes, porém, de navegarmos nas Teorias da Estratégia, lembremo-nos de que na Orquestra Societária estão representados os cinco elementos-chave da arquitetura (desenho ou projeto) de uma organização sustentável, conectados entre si pelo Modelo de Gestão, quais sejam: Estratégia, Estrutura, Processos, Pessoas e Sistema de Recompensas. Neste artigo, contemplamos o primeiro desses cincos vértices da arquitetura organizacional.
A Orquestra Societária, suas equações fundamentais e a Estratégia
ESTRATÉGIA
Elemento vital à Sinfonia Corporativa e caminho do sucesso para o futuro organizacional
EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA ORQUESTRA SOCIETÁRIA:
EQUAÇÃO 1: Sinfonia corporativa = Alinhamento + Mitigação de riscos + Resultados Sustentáveis |
EQUAÇÃO 2: Lucro Sustentável = (Receitas – Custos e Despesas) Sustentáveis [$] |
EQUAÇÃO 3: Retorno Sustentável sobre o Investimento = Lucro sustentável / Investimento sustentável deve ser superior ao custo de capital |
Passando às Teorias da Estratégia, elas foram resultado de um esforço laborioso conduzido por Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel e descrito no famoso livro Safári de Estratégia (Strategy Safari: a guided tour through the wilds of strategic management, edições de 1998 e 2009), uma das obras mais importantes para quem deseja se aprofundar no estudo da administração estratégica.
A partir da revisão de mais de 2.000 contribuições da literatura acadêmica produzida sobre o tema – um substancioso acervo! – os autores categorizaram a Estratégia, usando uma linguagem aprazível e por vezes bem humorada, em 10 Escolas de Pensamento, correspondentes a Teorias da Estratégia, quais sejam:
Sobre essas Escolas de Pensamento, brevemente qualificadas no quadro das páginas a seguir, temos a observar:
1. Elas reúnem pensadores egressos de vários campos de conhecimento, como Economia, Sociologia, Ciência Política, História e Psicologia, indo, portanto, muito além da Ciência Administrativa.
2. Elas se referem precipuamente à formulação da Estratégia, ou seja, aos processos por meio dos quais as organizações formulam objetivos estratégicos para diversos fins.
3. Vários conceitos apresentados têm sido amplamente disseminados por instituições formadoras de executivos e dirigentes organizacionais, a exemplo (não exaustivas):
ESCOLAS DE PENSAMENTO |
FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA |
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1 – Escola do Design Disciplina de referência: |
Um processo de concepção, com ênfase em avaliações internas e externas de forças e fraquezas, oportunidades e riscos
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2 – Escola do Planejamento Disciplina de referência: |
Um processo formal, com várias etapas bem detalhadas, incluindo as avaliações internas e externas supracitadas e com elevado nível de quantificação
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3 – Escola do Posicionamento Disciplina de referência: |
Um processo analítico, que leva em consideração variáveis das Escolas anteriores, mas que também estabelece limites para as estratégias empresariais, restritas, em função da concorrência, a “estratégias genéricas” de “custo”, “diferenciação” e “custo/diferenciação em nichos“. As origens da Escola são antigas, remetendo a obras de cunho militar
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4 – Escola Empreendedora Disciplina de referência: |
Um processo visionário, fortemente baseado em liderança, visão – uma representação mental do futuro – e intuição. Tal Escola tem na Economia sua disciplina de referência
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5 – Escola Cognitiva
Disciplina de referência:
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Um processo mental, cognitivo, sendo as estratégias construídas nas mentes dos estrategistas. Segundo os autores, esta Escola seria mais uma “coleção solta” de pesquisas do que uma “escola” firme de pensamento”, estando, entretanto, em crescimento
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6 – Escola do Aprendizado Disciplina de referência: |
Um processo emergente, por meio do qual estratégias nascem do aprendizado coletivo e paulatino das pessoas, que aprendem padrões que funcionam, criando competências únicas
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7 – Escola do Poder Disciplina de referência:
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Um processo de negociação entre pessoas e grupos de interesses. Contendas de poder podem ser internas (dentro da organização) ou externas (entre essa e outros agentes externos)
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8 – Escola Cultural Disciplina de referência:
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Um processo de interação cultural, baseado em crenças e interpretações comuns aos integrantes da organização. Parte dessas crenças pode ter origens obscuras
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9 – Escola Ambiental Disciplinas de referência: |
Um processo de resposta às forças do ambiente externo, em o qual a organização pode ser eliminada
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10 – Escola da Configuração Disciplina de referência: |
Um processo combinado de períodos de estabilidade com ajustes e de períodos de transformações, visando a continuidade da organização
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4. O pensamento estratégico recebeu contribuições inequívocas de especialistas em estratégias militares – algumas das quais anteriores à Era Cristã – conforme se verifica na Escola do Posicionamento. Aliás, a própria palavra Estratégia se origina do grego, significando stratego, ou seja, general.
5. As quatro primeiras escolas são caracterizadas por elementos com maior conteúdo de objetividade, tais como análises internas e externas estruturadas (Escolas do Design e do Posicionamento), processo formal com muita quantificação (Escola do Planejamento) e emprendedorismo (Escola Empreendedora).
6. As seis demais Escolas são caracterizadas por elementos com maior conteúdo de subjetividade e sutileza, tais como processos mentais cognitivos (Escola Cognitiva), aprendizado coletivo (Escola do Aprendizado), contendas de poder e negociação (Escola do Poder), cultura e crenças, por vezes, de origem obscura (Escola Cultural), respostas a forças ambientas (Escola Ambiental) e estabilidade versus transformação (Escola da Configuração).
7. Todas as 10 Escolas de Pensamento apresentadas têm méritos e limitações, inclusive identificadas pelos autores de Safári de Estratégia. Esses aspectos serão contemplados no próximo artigo desta coluna, o qual também versará sobre Estratégia.
À luz desse painel, pergunta-se: há uma teoria mais forte entre as 10 apresentadas?
A resposta, não apenas conceitual, mas também de natureza prática, ou seja, baseada em nossa experiência profissional, é: a Estratégia, na prática, tem elementos de todas essas Escolas de Pensamento; ao mesmo tempo, cada indivíduo, com base em sua experiência pessoal, perceberá a presença de elementos de uma ou mais Escolas de forma mais intensa.
Adicionalmente, pergunta-se: o conceito de Estratégia adotado na Orquestra Societária, indicado na figura inicial e elemento vital à criação da Sinfonia Corporativa, é consistente (ou mais consistente) com quais Teorias da Estratégia, correspondentes às Escolas de Pensamento?
Esta é uma questão da qual trataremos no próximo artigo, no qual identificaremos conexões entre as Escolas de Pensamento da Estratégia e a Orquestra Societária e discorremos sobre a execução da Estratégia, à luz da Orquestra. Na oportunidade, também comentaremos a famosa estratégia do oceano azul, identificada por W. Chan Kim e Renée Mauborgne no livro A Estratégia do Oceano Azul (Strategy of Blue Ocean, 2005), uma inovadora e criativa abordagem enquadrável na Escola do Posicionamento.
Por ora, adiantamos que o conceito de Estratégia indicado na figura inicial – um caminho de sucesso que conduz a organização do presente a um futuro desejado ou sonhado (visão) – é consistente com todas as Teorias da Estratégia (ou da formulação da Estratégia) aqui apresentadas, ainda que a Escola Empreendedora aparentemente (e apenas aparentemente!) esteja melhor explicitada, por meio da visão. A diferença residirá no processo de criação do citado caminho, já que existem, no mínimo, 10 processos, devidamente identificados pelo brilhante trabalho de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel.
Finalizando este artigo, deixamos aos nosso leitores uma questão inquietante que também procuraremos responder na próxima edição desta Revista RI: a Estratégia per se é suficiente para que as organizações criem uma bela Sinfonia Corporativa?
Convidamos nossos leitores a refletirem sobre essa nova questão proposta e a contribuírem com suas experiências para a próxima edição, colocando-nos à disposição para eventuais sugestões, críticas e demais contribuições.
Cida Hess
é economista e contadora, especialista em finanças e estratégia, mestranda em contábeis pela PUC SP e tem atuado como executiva e consultora de organizações.
cidahessparanhos@gmail.com
Mônica BrandÃo
é engenheira, especialista em finanças e estratégia, mestre em administração pela PUC Minas e tem atuado como professora, gestora e conselheira de organizações.
mbran2015@gmail.com